Palace II: Três Quartos com Vista para o Mar
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Rafael Machado
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Palace II: Três Quartos com Vista para o Mar
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2019
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
No dia 22 de fevereiro de 1998, o conhecido prédio Palace II sofreu um desabamento inesperado, deixando 8 mortos e quase 200 famílias desabrigadas. Considerado um dos maiores desastres na história da engenharia civil brasileira, até hoje alguns dos culpados não foram punidos pelo descaso, e as pessoas envolvidas no acidente lembram-se bem dos momentos cruciais, antes, durante e depois da queda.
Crítica
Os méritos de Palace II: Três Quartos com Vista Para o Mar são jornalísticos. Semelhante a uma reportagem, o longa-metragem de Rafael Machado é cinematograficamente limitado pelo itinerário estruturalmente informativo, ancorado no encadeamento do que sobreveio ao colapso de um prédio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 22 de fevereiro de 1998. Desde o princípio, a clareza informativa (de retrospectiva) é o maior objetivo perseguido pela narrativa, vide o recurso pobre, mas prevalente, da simples complementariedade dos depoimentos que, então, constitui a base do panorama. O realizador se contenta em estabelecer um percurso retilíneo e praticamente uniforme por meio da justaposição das falas de pessoas que viveram momentos de terror com a síncope gradativa das pilastras do edifício. Portanto, ele logra êxito apenas no que tange ao desenho do desespero das vítimas. Para isso, entrelaça os dizeres e um bom material audiovisual de arquivo.
Palace II: Três Quartos com Vista Para o Mar permite proximidade com os moradores que, de acordo com o discurso generalizado, investiram suas economias no empreendimento situado na área carioca associada aos emergentes de uma nova classe média. Em meio a vislumbres aéreos que ajudam a contextualizar geograficamente a tragédia, o documentário, de modo burocrático, costura a memória dos personagens, assim criando um enunciado de feições uníssonas, sobretudo em virtude da criação de um painel genérico, assim deixando de lado as singularidades, quando muito as sinalizando de passagem. Embora cada uma das 144 famílias tenha histórias, perdas e lutas distintas, o filme incorre deliberadamente na homogeneização, sendo as circunstâncias os objetos de estudo, não necessariamente os efeitos individualizados. Não há, também, recortes bem delimitados. Assim, a progressão é completamente condicionada por acontecimentos em ordem.
Quando passa a observar mais de perto a luta jurídica dos reclamantes, Palace II: Três Quartos com Vista Para o Mar gera um antagonismo simples entre as pessoas afetadas e Sergio Naya, dono da construtora encarregada do imóvel, além de engenheiro civil cuja assinatura o torna efetivamente responsável por eventuais danos. Em favor de um arcabouço bastante parecido com o de reportagens convencionais, o documentário perde a oportunidade de escrutinar uma série de questões que atravessam o litígio, bem como o trâmite moroso do mesmo. Por conta disso, há meros apontamentos do processo que tira do acusado o foro privilegiado inerente aos deputados federais, os redirecionamentos judiciais que beneficiaram o contraventor e a consequente sensação de impunidade, frequentemente externada por homens e mulheres que perderam praticamente tudo, inclusive gente querida. Pena que não se aproveite para aludir a nossas falhas históricas.
Do ponto de vista visual, Palace II: Três Quartos com Vista Para o Mar sublinha o simplismo das demais esferas. Os personagens prestam seus testemunhos em locais fixos, pouco deles se deslocam, exceção feita em determinados registros de manifestações e ações esporádicas, como no congresso nacional. Passando rapidamente por diversos temas, estes que poderiam ser observados como sintomas da impunidade, moléstia entranhada no tecido social brasileiro, Rafael Machado consegue fazer um sumário jornalístico eficiente, porém deixando bastante a desejar no que concerne às aspirações puramente cinematográficas. Certamente sai-se da sessão com informações suficientes sobre o caso que estampou durante um bom tempo as manchetes Brasil afora, mas é algo a se lamentar a falta de impetuosidade da produção, principalmente no sentido de explorar profundamente o que a grave ocorrência simboliza, para começo de conversa, na esfera criminal, material, política e social, ou seja, o que ela inventaria, espontaneamente, quanto às nossas nódoas cotidianas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Edu Fernandes | 7 |
Roberto Cunha | 6 |
MÉDIA | 5.7 |
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