Crítica
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Sinopse
Relaxado e sem maiores preocupações, Nyles conhece Sarah num casamento em Palm Springs e se apaixona instantaneamente.
Crítica
Nyles tem um problema. Quando acorda, sabe que aquele será um dia difícil. A namorada o obrigará a uma viagem que não está nada interessado, para participar da cerimônia de casamento de pessoas que mal conhece. Antes disso, terá que fazer sexo mecânico com essa garota, mais por uma exigência protocolar do que por real vontade de qualquer um deles. Chegando nesse resort no meio do nada onde os festejos acontecerão, passará seu tempo na piscina escutando as mesmas conversas de sempre, tendo que sorrir ainda que sem vontade para estranhos e tentar beber o máximo possível que seu corpo aguente até que as próximas horas passem sem que chegue a perceber. E faz isso praticamente sozinho, ainda que cercado por pessoas, pois nenhuma delas parece compreender pelo que está passando. Afinal, aquele não é apenas um dia igual a tantos outros. Aquele é, sim, o mesmo dia. Repetidas vezes. Em Palm Springs, Nyles se descobre preso em uma rotina que poderia chamar de inferno astral. Como dito antes, Nyles tem um problema, e dele parece não fazer a menor ideia do que como se livrar.
Todos os momentos desse ciclo vicioso, que começa igual aos outros e se desenrola sem novidades, desencadeando diversas ações sem maiores consequências, possui também o mesmo desfecho: uma chuva de meteoros, uma caverna a ser explorada no meio da noite, um teor alcóolico tão alto que o impede de um melhor julgamento e, quando menos espera, está de volta ao começo, pronto para dar início a tudo o que acabou de viver, mais uma vez, e assim indefinidamente. Porém, em algum instante qualquer, quase imperceptível, as coisas começarão a mudar. Da festa sem graça ao discurso vexatório que faz diante dos noivos, alguém ali parece estar tão desmotivado quanto ao que lhe pode acontecer nos minutos – horas, dias, meses – seguintes, da mesma forma como ele, mas tendo chegado até ali por motivos diversos. Sarah também não sabe como prosseguir frente aos acontecimentos que está presenciando, e tem seus motivos para tanto. Não está presa em um loop temporal, ao menos. Isto é, não estava. Pois quando decide seguir aquele estranho irreverente que lhe roubou um beijo inesperado, acaba condenada ao mesmo destino.
Nyles não está mais sozinho. Sarah está com ele, agora. Cada um começa seu dia em um lugar distinto, porém não são mais desconhecidos um ao outro, e tenderão a se unir com maior rapidez, ainda que menos desejo: querem, juntos, aprender como se livrar do que lhes está acontecendo. Ele renova suas esperanças, ela encontra um motivo para seguir em frente. As mensagens de moral e de transformação são limitadas, não por não serem merecedoras, mas pela ausência de necessidade de didatismo: não há por que serem explícitas, uma vez que os protagonistas sabem bem o que os levou, cada um a seu jeito, até aquele ponto. Ao espectador, portanto, cabe a percepção e, principalmente, a perspicácia para entender seu lugar nessa equação e descobrir que, nesse cenário, ninguém é realmente inocente. Nem mesmo Roy, o convidado distante que pensou ter encontrado um parceiro de bebedeira, mas depois se deu conta ter sido enclausurado em uma sucessão interminável de recomeços que ou o tornou um sádico, ou um homem mais atento àqueles ao seu redor. De qualquer forma, é hoje alguém que ainda está aprendendo como lidar.
Max Barbakow estreia na direção de longas de ficção em território não necessariamente novo, e nem também carente de atualizações. Mas as faz assim mesmo, explorando conceitos que vão desde o já clássico Feitiço do Tempo (1993) até títulos mais recentes, como o oscarizado curta Dois Estranhos (2020) ou o simpático O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas (2021): o subgênero é tão forte que se tornou quase uma identidade à parte em Hollywood. Em todos esses casos, o que se reconhece é a necessidade da lição a ser apreendida. Em Palm Springs, no entanto, as atenções estão mais voltadas aos personagens e menos ao que teriam (ou não) a ensinar ao mundo e à sociedade. Quando o indivíduo assume o foco das atenções, a relação com a audiência se torna mais pessoal, facilitando o acesso a um contexto em específico, por mais inadequado ou fantasioso que esse se revele. A repetição não é apenas uma questão de entendimento, mas também de aprendizado e humildade. Nyles colocou outros dois na mesma situação, e as relações entre os três são as mais distintas possíveis. Mas quem o levou àquele lugar? Quais os motivos que cada um deles carrega para merecer tal envolvimento? Afinal, o que irão descobrir é que, uma vez presos, ir embora ou ficar é mais uma decisão pessoal e menos um enigma a ser resolvido em conjunto.
Andy Samberg é um ator de não muita versatilidade, mas quando acerta na escolha do papel, consegue alcançar ótimos resultados (como os vistos, por exemplo, na série Brooklyn Nine-Nine, 2013-2021, ou no sensível e realista Celeste e Jesse Para Sempre, 2012). Dessa vez ele volta a emular suas zonas de conforto, como o bobo atrapalhado ou o sedutor por acidente, o que acaba funcionando de acordo com o esperado. A química que demonstra tanto com Cristin Milioti (Sarah, indo da surpresa à revolta), como com J.K. Simmons (Roy, mestre na estratégia e no combate, mas também dono de um lado mais família) é a garantia da empatia que a trama irá estabelecer com o público, facilitando o processo de substituição e engajamento com os dramas – e as conquistas – experimentadas em cena. Palm Springs pode não ser aquele sopro de originalidade que alguns mais afoitos chegaram a apontar, mas também longe de se mostrar uma decepção: está, portanto, na honestidade como assume suas referências, assim como também disposto a oferecer sua própria versão de uma leitura já consagrada, que encontra o charme que irá garantir um espaço justo entre uma linhagem que boas ofertas fez no passado, assim como tropeços dos quais não conseguiu evitar.
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