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Sinopse

A guerra pessoal do líder de um grupo de bandidos do interior do sertão nordestino contra um antigo protegido seu. O sujeito virou oficial de polícia e, portanto, se anunciou como inimigo.

Crítica

Faz todo o sentido que Panca de Valente, misto de comédia e faroeste dirigido por Luis Sérgio Person em 1968, tenha em sua abertura uma animação, servindo tanto de ilustração para os créditos iniciais quanto para situar o espectador na atmosfera em que o filme passeia. Isso porque o longa-metragem é, basicamente, um desenho animado estilo Hanna-Barbera, filmado com atores de carne-e-osso. O estilo de humor é bastante parecido, os personagens são bidimensionais e as atitudes e motivações são incrivelmente preto-no-branco. Nem por isso, Panca de Valente é um trabalho esquecível de Luis Sérgio Person. Tem suas qualidades, sendo um ótimo representante da comédia popular nacional.

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Na trama, assinada por Person, conhecemos o pequeno vilarejo de Espalha Brasa, que passa por um problema constante com seus xerifes. Só naquele mês, já foram cinco homens da lei que assumiram o posto e foram assassinados por bandidos locais. Esses malfeitores são capitaneados por Costa Larga (Átila Iório), homem que costuma mandar e desmandar na região sem conhecimento de qualquer represália. Para continuar nesse seu reinado de terror, o bandido resolve levar ao prefeito (Líbero Ripoli Filho) a sugestão de um novo xerife para o povoado: ninguém menos que o atrapalhado e parvo Jerônimo (Chico Martins), alguém que não representaria qualquer tipo de ameaça ao bando. Ainda que contrariado, o prefeito acaba aceitando após aclamação popular. Jerônimo, no entanto, sabiamente não se sente seguro no cargo – ele não tem coragem nem de beijar sua namorada Terezinha (Marlene França), cujo relacionamento já dura 15 anos. Com a ajuda do seu fiel companheiro Faz Tudo (Tony Vieira) e do garotinho Pitu (Tuca), Jerônimo tentará mudar seu comportamento e virar um homem respeitável. Nem que para isso tenha de ficar frente a frente com Costa Larga e seu bando.

Panca de Valente não pareceria, em primeira análise, uma evolução natural nos trabalhos de Luiz Sérgio Person depois de ele ter assinado os ótimos (e sérios) São Paulo Sociedade Anônima (1965) e O Caso dos Irmãos Naves (1967). No entanto, é interessante notar a vontade do diretor de mudar os ares e assumir um trabalho com pegada notadamente mais popular. Pegando um gênero norte-americano por excelência – o bang bang – e colocando o humor brasileiro na mistura, Person constrói um híbrido que, se não funciona 100%, ainda consegue atingir altas notas. Excetuando-se a cena pastelão com os bolos na cara, as piadas escritas por Person têm sofisticação, com algumas, inclusive, quebrando a quarta parede (quando os atores olham para a câmera e falam direto ao espectador). A pegada do humor aqui é inocente, até por isso lembra tanto um desenho animado da década de 1960.

Quanto ao elenco, temos o grande Jofre Soares em pequeno papel, como o respeitável coronel da região. Mas os ladrões de cena são Átila Iório, irresistivelmente maléfico como o bandido Costa Larga, e Tony Vieira, que utiliza de seu passado circense para mostrar habilidade em cima do cavalo, além de apresentar um bom timing cômico. Chico Martins não pode dizer o mesmo, embora tente fazer rir mais com humor físico do que com o bom texto de Luis Sérgio Person.

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Dignos de nota são a trilha sonora do maestro Rogério Duprat ao lado de Damiano Cozzela – que, sabiamente, bebem na fonte de clássicos temas do faroeste; e a montagem, que ajuda na construção do timing cômico ímpar deste trabalho. Mesmo que Panca de Valente não encontre espaço junto dos melhores trabalhos de Luis Sérgio Person, a ousadia do cineasta em experimentar um gênero desconhecido, atrelado ao seu texto bem articulado e divertido, rende uma olhada mais de perto. É verdade que, por vezes, as piadas não caíam bem na embocadura dos atores, algo que poderia ser melhor resolvido. De qualquer forma, é um título que merece uma redescoberta.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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