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Sinopse

Um serial killer apavora o interior da Califórnia, assassinando brutalmente jovens da pequena Woodsboro. Ele telefona para alguém fazendo perguntas sobre filmes de terror. Se errar a resposta, a vítima morre.

Crítica

Qual é o seu filme de terror favorito? Na segunda metade dos anos 1990, período marcado pela decadência do subgênero slasher e anterior às ondas do found footage, de remakes de filmes japoneses e de muitas atividades paranormais, uma das melhores e mais recorrentes respostas para esta pergunta era Pânico. Criado a partir das elucubrações mirabolantes de Wes Craven, então empenhado em modernizar o slasher e subverter alguns dos códigos do horror que ele próprio ajudara a criar, esta tragicômica desventura ainda é uma delícia de se ver. E merece toda a atenção e mítica que criou ao seu redor e para seu serial killer, o Ghostface.

Nos anos 1990, personagens icônicos como Jason Vorhees, Michael Myers e outro filho de Craven, Freddy Krueger, já estavam mortos e enterrados – mesmo que ressurgissem nos anos seguintes sem qualquer expressividade. Baseado na essência desses vilões e na força que eles demonstram mesmo depois de mortos, quando retornam para um sanguinário ataque (supostamente) final, Pânico ressuscitou o slasher para uma devida homenagem que se estendeu pelos três outros filmes da série, numa sátira impiedosa e irresistível. Aqui a matança ocorre em Woodsboro, pequena cidade ficcional da Califórnia onde um assassino mascarado ceifa as vidas de jovens estudantes enquanto caça sua principal presa: a final girl perfeita Sidney Prescott (Neve Campbell).

Como deveria ser, a primeira sequência de Pânico apresenta uma bela e indefesa jovem, Casey Becker (Drew Barrymore), que está sozinha quando recebe uma ligação. Enquanto ela flerta com o estranho do outro lado da linha, brinca com um jogo de facas e se prepara para ver um filme, a garota descobre que a ligação foi feita de dentro de sua casa, como nas lendas urbanas norte-americanas já muito exploradas pelo cinema. Passando dos risos aos gritos em poucos minutos, o filme revela seu espírito nesta breve introdução: não é por se tratar de uma sátira que as mortes serão menos violentas ou repulsivas. E a provavelmente ótima protagonista de Drew Barrymore morre eviscerada logo neste prólogo, numa escolha feita pela própria atriz, que tinha o papel de Sidney em mãos antes de decidir viver Casey e chocar os espectadores numa morte precoce como a de Janet Leigh em Psicose (1960).

Cada personagem de Pânico parece recorrente no gênero terror, mas aqui eles são abastecidos com diálogos surpreendentemente inteligentes e divertidos, que servem como comentários ácidos sobre as convenções do cinema feito para chocar e assustar. Logo no primeiro encontro do grupo principal, eles discutem suas ligações com Casey Becker e os possíveis motivos de cada um para tê-la matado, demonstrando a ausência de sensibilidade e empatia juvenil que permanece como um dos principais temas da franquia. Kevin Williamson equilibra referências, homenagens e reinvenções em seu roteiro de forma assertiva, numa abordagem original que serviria de base para tantos outros filmes de terror protagonizado por adolescentes que são lançados ainda hoje, copiosamente.

A maior parte das vítimas de Pânico morre para honrar os melhores clichês dos filmes slasher quando contrariam certas regras: nunca faça sexo, nunca beba ou use drogas, nunca diga “eu já volto”. Randy, personagem de Jamie Kennedy e provável alterego de Craven e Williamson, é o geek que trabalha numa vídeo locadora e tenta alertar a todos sobre o que não fazer para permanecer vivo – mas seus amigos parecem ocupados demais fazendo sexo, bebendo ou fugindo de psicopatas mascarados.

No primeiro contato entre Sidney e Ghostface, um diálogo resume a franquia Pânico e suas inspirações quando o assassino pergunta para sua vítima em potencial o que ela pensa sobre filmes de terror: “Qual é a razão dos filmes de terror? Eles são todos os mesmos. Um serial killer estúpido persegue uma jovem com seios grandes que não sabe atuar e que sempre acaba subindo as escadas quando deveria fugir pela porta. É insultante”. Dito isso, uma perseguição física se inicia e Sidney, impossibilitada de sair pela porta, acaba subindo as escadas correndo. Enquanto foge e perde seus melhores amigos um a um, Sidney ainda tem que lidar com a repórter Gale Weathers (Courteney Cox), que torna sua vida quase tão miserável quanto o próprio assassino.

Neve Campbell, até então mais conhecida como a Julia da série Party of Five (1994-2000), empresta todo seu carisma e vulnerabilidade habituais para Sidney, que ainda carrega força e inteligência para driblar os arquétipos femininos e acéfalos de tantos slashers. Ao seu lado, nomes como David Arquette, Matthew Lillard, Skeet Ulrich, Rose McGowan e outros tantos atores que permanecem desaparecidos de produções de maior renome, com exceção de Courteney Cox, que manteve certa expressividade graças também ao seu sucesso como a Monica de Friends (1994-2004). O elenco é afinado e eficiente, agraciado por um ótimo texto aqui já exaltado e pela hábil direção de Craven. Marco Beltrami também merece créditos, pela música que permanece como uma das mais tensas trilhas originais compostas para o cinema de horror recente.

No lançamento de Pânico, Craven e Williamson talvez não tivessem a ideia da proporção que sua pequena produção tomaria, mas hoje, depois de três outros longas-metragens, uma série de TV na ativa e constantes boatos sobre um possível reboot, o status cult da saga e do vilão Ghostface são inegáveis. Então não se sinta envergonhado se este ainda for seu filme de terror favorito.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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