Crítica
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Sinopse
Dois anos após os assassinatos que marcaram sua vida, Sidney Prescott descobre que um novo criminoso está usando o traje de Ghostface. Com a ajuda de seus amigos, tentará desvendar quem está por trás disso, à medida que a lista de suspeitos diminui e a de vítimas aumenta.
Crítica
O prólogo de Pânico 2 é promissor: ele se ambienta na badalada estreia do filme inspirado pelos eventos de Pânico (1996), ou melhor, baseados na série de assassinatos ocorridos na pequena cidade de Woodboro, Califórnia. Na fila da sessão, um casal negro discute a desigualdade racial no cinema de horror logo antes de ser brutalmente assassinado por um novo Ghostface. A sequência termina com uma das vítimas agonizando entre a tela e a plateia da sala escura – onde muitos estão fantasiados como o assassino mascarado. A irônica, autorreferente e muito simbólica introdução deixa claro tudo o que virá a seguir, uma afiada e aperfeiçoada sequência que não deve nada ao seu original.
Logo nestes primeiros minutos, Pânico 2 já entrega uma rápida, porém eficiente crítica ao papel da audiência que vangloria a violência glamourizada do cinema de horror. No entanto, como era de se esperar, isso é apenas parte do que o diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson oferecem numa continuação que tem como referência essencial seu filme percussor. A heroína traumatizada Sidney Prescott (Neve Campbell) retorna como protagonista, agora uma estudante de artes dramáticas na universidade, onde seu amigo Randy (Jamie Kennedy) oportunamente pesquisa e debate os méritos das sequências cinematográficas. Além da dupla, algumas faces conhecidas e tantas outras novas aparecem para ampliar as possibilidades de um vilão - ou vilões - em potencial no jogo do whodunit aqui novamente proposto.
Além de apontar seu olhar para si próprio, Pânico 2 direciona sua perspectiva para seus espectadores, suas expectativas e frustrações com o cinema de gênero. Williamson compôs seu roteiro com tantas camadas – da sátira à paródia, passando pela crítica social e intelectual – numa narrativa divertida e nada econômica em sangue ou suspense. Seu texto flerta com a inteligência metalinguística que Charlie Kaufman viria a popularizar em obras como Quero Ser John Malkovich (1999) e Adaptação (2002), salvas as devidas pretensões e proporções.
Neve Campbell retorna ainda mais imersa na fragilidade de Sidney, com algumas novas nuances para sua personagem ainda mais traumatizada. A atriz demonstra uma versatilidade para o drama e suspense impressionantes, infelizmente pouco exploradas nas duas vindouras partes da franquia. Desta vez, a repórter indiscreta de Courteney Cox e o tapado detetive de David Arquette ganham mais destaque e melhores diálogos, que se sobrepõem ao restante do elenco fadado a personagens pouco desenvolvidos e mais próximos dos arquétipos que o próprio filme tenta subverter. E a dupla de assassinos e suas razões são das mais estapafúrdias e improváveis, porém eficientes na mitologia do filme quando se considera o deboche ao qual a saga Pânico se dispõe.
Wes Craven ressignifica os códigos comuns das sequências numa direção que se prova melhor quando despida de afetação ou exageros. É na economia que o cineasta se destaca: seu clímax tem toda a grandiosidade de uma tragédia grega, mas são as sequências como a que se passa com Sidney e com sua amiga no carro de polícia que impressionam. O tempo que Craven dedica para a construção do suspense é meticulosamente planejado, o que garante um melhor resultado quando sua intenção é chocar com o excesso de sangue e vísceras ou eletrizar nos momentos de perseguição tipo gato e rato, ou mais diretamente, Ghostface e suas vítimas. A trilha de Marco Beltrami mais uma vez ganha destaque, porém aqui ela briga pelo protagonismo com outras peças criadas por Hans Zimmer e Danny Elman.
Em um ou outro momento, os personagens de Pânico 2 discutem os motivos que tornam continuações tão ruins – uma piada que só é engraçada porque esta não é. Os níveis de qualidade só decaem em Pânico 3 (2000), que propõe o encerramento da trilogia com um filme-dentro-do-filme duplamente errático – felizmente resgatado pela reinvenção da série em Pânico 4 (2011). Mas deixemos estes e outros apontamentos para as vindouras sequências desta crítica.
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