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Sinopse

Dez anos se passaram desde os crimes de Woodsboro e agora, após uma turnê de lançamento de seu livro de auto-ajuda, Sidney retorna a sua cidade natal. Lá, se reencontra com Dwight e Gale, que estão casados, e com sua jovem sobrinha, Jill. No entanto, parece que o retorno de Sidney traz de volta também o antigo pesadelo com o assassino Ghostface.

Crítica

Depois de ser vítima de severas tentativas de homicídio, de perder amigos, namorados e membros da família – alguns destes assassinados por suas próprias mãos – e adquirir um trauma possivelmente insuperável, Sidney Prescott (Neve Campbell) decidiu tomar a única iniciativa lógica ao seu alcance: capitalizar a partir de seu sofrimento. Intenção semelhante foi a de Wes Craven e Kevin Williamson ao retomarem uma parceria que rendeu a trilogia comercialmente mais bem-sucedida do slasher na história do cinema, uma década depois da conclusão da saga amargar críticas terríveis e uma bilheteria inferior aos seus precedentes. Pânico 4 não se saiu melhor em arrecadação, mas com uma série de variações sobre o mesmo tema faz valer sua existência com humor, sangue e alguma nostalgia.

Agora autora de uma autobiografia best-seller, Out of Darkness (algo como Fora da Escuridão, em tradução literal), Sidney deve mais uma vez enfrentar o passado ao retornar a Woodsboro para o lançamento de seu livro. Uma vez no local que marcou o primeiro dos três massacres que presenciou, não demora para que um novo serial killer copista deixe rastros de corpos e vísceras ao redor dela, que, ao contrário do que preconiza o título de seu livro, acaba novamente imersa em trevas.

Com a premissa de que uma nova década pede por novas regras, Pânico 4 não vai tão longe em suas pretensões e sequer propõe algo de novo ao gênero, mas sim uma homenagem aos filmes anteriores da série e um olhar em retrospecto como principais referências. Assim, ainda que dedique seu foco principal a um novo grupo de jovens vítimas em potencial personagens aliados a figuras recorrentes da franquia, temos basicamente um mais do mesmo reciclado. O que não é necessariamente algo ruim, considerando o nível de qualidade do cinema mainstream de horror deste século.

Expandindo a proposta de Pânico 2 (1997), desta vez Craven revela uma franquia cinematográfica inteira dentro do filme, inicialmente baseada na matança do Pânico (1996) original e subsequente ao primeiro A Punhalada. A metalinguagem é novamente um dos principais recursos de Williamson – na introdução ele inclusive apresenta um divertido filme-dentro-do-filme-dentro-do-filme – e o roteirista insiste em enfatizar as regras do jogo que propõe. Enquanto os três primeiros filmes versavam, respectivamente, sobre os códigos do cinema de horror, de sequências e de franquias ou trilogias, Pânico 4 lida com os preceitos de reboots. No entanto, o fracasso comercial do filme que parece ter sepultado as possibilidades de uma nova trilogia deixa claro: trata-se apenas, infelizmente, de uma nova sequência.

Ainda que os novos personagens pareçam mais conscientes do que nunca do universo no qual estão inseridos, isso não limita a crescente contagem dos corpos. Não importa o quão inteligente um filme de horror se supõe, as vítimas continuam saindo das casas para investigar barulhos suspeitos, abrindo portas para o perigo iminente e subindo escadas enquanto são perseguidas por um assassino. Esses novatos reiteram o principal erro de Pânico 3 (2000) ao desviarem excessivamente as atenções de Sidney, do detetive Dewey e da jornalista Gale, numa tentativa frustrada de reinventar a franquia para novas audiências – que na ocasião do lançamento da produção acabaram mais interessadas na estreia da animação Rio (2011).

Ainda assim, Neve Campbell, David Arquette e uma plastificada Courteney Cox retornam aos seus papeis familiares e permanecem mais uma vez como o coração do filme, o que atesta a principal carência de outras franquias do gênero que raramente permanecem com o mesmo grupo de personagens/atores e logo acabam esquecidas. O sangue fresco em Pânico 4 é o da insossa Emma Roberts como Jill, prima adolescente de Sidney, Nico Tortorella como Trevor (reinvenção pouco inspirada de Billy Loomis), Erik Knudsen como Robbie (reinvenção pouco inspirada de Randy Meeks), Rory Culkin como Charlie e de Hayden Panettiere como Kirby – alívio carismático e interessante entre um elenco tão errático.

Em certo momento, o filme declara que o inesperado é o novo clichê, e o whodunit aqui respeita o mito recorrente da série de que o assassino (ou assassinos) deve ser revelado com um motivo improvável e impensável. Mais uma vez a revelação final sobre quem está por trás da máscara de Ghostface é extremamente inverossímil, mas isso já é a marca da série e uma mudança nesse aspecto seria demasiadamente... inesperada. Craven segue brincando muito bem com o imaginário que criou e, apesar de seus deslizes, uma Screamathon é sempre bem-vinda e melhor desventura que o ingresso na pouco promissora série televisiva da MTV derivada da saga Pânico, Scream – The TV Series (2015-2019).

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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