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“Quem se importa com os filmes hoje em dia?”, pergunta o assassino Ghostface, logo no começo de Pânico VI. Essa, aliás, é a grande questão do momento, indo desde o vídeo de abertura de Os Fabelmans (2022), no qual o diretor Steven Spielberg agradece a presença dos espectadores na sala de cinema, até diversos títulos que tem penado, semana após semana, para encontrar seu público. Estaria o mundo vivendo uma “crise cinematográfica” nessa realidade pós-pandemia? Os indícios são muitos, diversos e, por vezes, contraditórios, e tem atingido também – é óbvio – Hollywood e suas principais marcas capazes de movimentar as bilheterias. Entre elas, a saga criada por Kevin Williamson e Wes Craven há quase três décadas. Tanto é que, num dos momentos mais inspirados deste mais recente episódio, uma das personagens faz questão de lembrar à audiência que não se trata mais de apenas uma sequência – o que se tem, agora, é uma franquia, e, como tal, cada segmento pode ser visto tanto como a continuação dos eventos anteriores, como a possibilidade de uma trama inédita, independente das demais e, por isso mesmo, através da qual todos os que até então se sentiam seguros podem, de uma hora para outra, serem considerados ‘descartáveis’. Exatamente o que se percebe a respeito do conjunto apresentado.
Craven dirigiu, entre 1996 e 2011, quatro episódios da saga Pânico, e tentou ao máximo oferecer a eles um arco narrativo, fazendo uso tanto da auto-ironia como até mesmo da paródia declarada. Esse sarcasmo sempre foi um diferencial importante da série. Mais de dez anos se passaram até a chegada de Pânico (2022), que veio assim mesmo, dispensando o uso do número cinco em sua denominação. Esse misto de rebeldia com confiança até fazia sentido, uma vez que o filme, agora dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (Casamento Sangrento, 2019), era tanto uma releitura quanto uma continuação: muitos dos rostos originais seguiam presentes, mas as motivações afirmavam serem outras, na maior parte das vezes baseadas naquelas exploradas tempos atrás. Pois bem, Pânico VI segue nas mãos dos mesmos realizadores, mas deixa claro, desde o começo, não estar imbuído dessa busca por originalidade do seu antecessor. Eis, então, o que de pior pode acontecer a uma produção do gênero: sem ousar, nem assumir riscos, se mostra acomodada, e não mais do que isso.
Para começar, o suposto diferencial anunciado para esta sexta parte – deixa-se a minúscula Woodsboro para trás e muda-se para uma gigantesca Nova York – é visto como algo irrelevante, e nunca um recurso que de fato ofereça algo à trama. Sam (Melissa Barrera, de Em Um Bairro de Nova York, 2021) e Tara (Jenna Ortega, cada vez mais em alta, e com razão), as duas irmãs sobreviventes dos ataques vistos um ano antes, se mudaram para a cidade grande não apenas para tentar superar as tragédias presenciadas, mas também por um motivo óbvio: são estudantes universitárias e precisam seguir com suas graduações. Junto com elas estão os também irmãos Chad (Mason Gooding, não mais apenas “o filho de Cuba Gooding Jr” e se mostrando como uma figura de fato interessante) e Mindy (Jasmin Savoy Brown, de Yellowjackets, 2021-2023), aquela que melhor trabalha a questão da metalinguagem. Um recurso sempre presente, mas dessa vez servindo apenas para constar, como um lembrete, e não mais determinante no decorrer das ações.
São os recém-chegados, portanto, que mais despertam as atenções: Quinn (Liana Liberato, de O Mínimo para Viver, 2017), a nova colega de quarto das irmãs; Anika (Devyn Nekoda, de Os Tênis Encantados, 2022), a namorada de Mindy; Ethan (Jack Champion, o “menino-aranha” de Avatar: O Caminho da Água, 2022); e Danny (Josh Segarra, visto em Mulher-Hulk: Defensora de Heróis, 2022), o flerte de Sam. Em um certo momento da história, uma personagem avisa: “os antigos não estão salvos, e podem ser eliminados a qualquer momento. No entanto, os principais suspeitos são sempre os novatos, pois desses desconhecemos seus passados e suas verdadeiras intenções”. Essa declaração não é feita por acaso, e termina por ser um gigantesco spoiler sobre o que irá acontecer depois. Ainda mais quando se levar em conta que, entre os adultos envolvidos nas novas mortes, há tanto os retornos de Gale (Courteney Cox, novamente subaproveitada) e de Kirby (Hayden Panettiere, a eterna Claire de Heroes, 2006-2010) como a chegada do detetive Bailey (Dermot Mulroney, perdido e sem saber para onde ir ou o que fazer, mostrando-se o elo mais fraco do elenco). Nomes razoavelmente conhecidos, como Samara Weaving (sobrinha de Hugo Weaving) e Tony Revolori (O Grande Hotel Budapeste, 2014) são não mais do que distrações, fazendo às vezes de Drew Barrymore.
Dessa forma, sem um mistério que se sustente por muito tempo e mostrando-se satisfeito em apenas reciclar velhas fórmulas já vistas não apenas nos similares que até então serviam como motivo de deboche, mas também dentro deste próprio universo, Pânico VI desperdiça os elementos que busca agregar, ocupando-se apenas em oferecer mais do mesmo, sem fazer uso efetivo daquilo que curiosamente encontra-se ao seu alcance. Se o Pânico de 2022 assumia o desafio de ser tanto sequência como reimaginação, esse de apenas um ano depois recai em lugares-comuns e confortáveis, acreditando estar com a torcida ganha. E quando não há esforço, como manter o interesse? Mais forçado ainda é a tentativa de inserir um gancho para um possível desdobramento futuro, como se o natural fosse fazer da presa, predador. E quando nem mesmo a figura mais carismática (a Sidney de Neve Campbell) faz questão de se fazer presente, o que dizer de todo o resto? Um amontoado de oportunidades perdidas, e nada mais.
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