Crítica
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Sinopse
Ao se tornar pai, Tom vê sua vida mudar drasticamente. Ao lado da esposa, Elisa, ele precisa aprender na prática como cuidar de uma criança, encarando coisas relativamente normais, bem como as singularidades da paternidade.
Crítica
No cinema se tornou convenção abrir espaço para a importância paterna na criação dos filmes apenas quando a mãe não mais faz parte da equação. São exemplos dessa verdade obras das mais díspares, desde o clássico oitentista Três Solteirões e um Bebê (1987) até o mexicano Não Aceitamos Devoluções (2013), passando não apenas por variações do mesmo tema, como também refilmagens e adaptações que, invariavelmente, confirmavam igual impressão. Diante do cartaz de Papai é Pop, com uma família feliz, composta por pai, mãe e filho, seria possível imaginar que a fórmula, ao menos dessa vez, teria sido evitada. Ledo engano. Afinal, o homem só passará a de fato entender seu papel nessa nova configuração não quando se dá a concepção, ou enquanto a barriga da esposa começa a crescer e evoluir, e nem mesmo depois dela ter dado à luz. Eis, portanto, mais uma vez o conto do macho que só se verá tendo que assumir funções que pensa serem de competência exclusivamente materna quando deixado sozinho. A mesma vontade que terá o espectador ao perceber ter caído na armadilha já gasta de tanto uso.
Não se fez necessário um, nem mesmo dois, mas quatro roteiristas para chegar até uma história que termina por soar mais como lição de autoajuda do que um exemplo transformador de vidas – ou mesmo um entretenimento passageiro capaz de envolver sem exigir além do que está disposto a entregar. Ricardo Hofstetter, Maíra Oliveira e Luísa Guanabara – todos estreantes no cinema – contaram com a colaboração de Lusa Silvestre (o único experiente na área, tendo assinado longas premiados, como Estômago, 2007, e A Glória e a Graça, 2017) para adaptar o livro de mesmo nome escrito por Marcos Piangers, jornalista que se encantou tanto com a paternidade – ou com a popularidade alcançada a partir dessa condição – que, após o primeiro livro (basicamente, um relato de sua vivência pessoal), seguiu na mesma batida, entregando aos fãs outras obras similares, como O Papai é Pop 2, O Papai é Pop Em Quadrinhos e O Pai é Top. Como se percebe, não é por falta de demanda que a fonte irá secar. Afinal, já foram mais de 500 mil livros vendidos, com traduções para Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.
A presença de Silvestre nesse grupo, certamente, não foi ao acaso. Parceiro do diretor Caíto Ortiz no longa anterior deste – o muito mais interessante O Roubo da Taça (2016) – cabe ao veterano oferecer algum tipo de unidade a uma trama que carece de motivação, ou mesmo, propósito. Afinal, qual a jornada a ser percorrida? Qual o clímax dos eventos em cena? Ou quais dos personagens se veem diante de desafios inesperados? Nenhum, pois cabe a Tom não se transformar, mas apenas arrumar o que ele mesmo se encarrega de destruir. Eis, portanto, um trajeto circular, que termina exatamente no ponto onde começa, sendo que este percurso em torno de si mesmo se dá pela inabilidade do protagonista em lidar com o que há tempos tem ciência que terá pela frente, mas por não admitir as mudanças quando elas, enfim, se manifestam de forma concreta, opta pelo método avestruz de enfrentar os problemas: enfiando a cabeça num buraco e torcendo para que a situação se resolva por conta, sem o seu envolvimento. Não é apenas o retrato da imaturidade masculina, mas um registro deslocado do tempo, mais propício a uma época na qual a estes se exigia apenas a responsabilidade de provedor, enquanto que as necessidades ‘caseiras’ eram destinadas às mulheres e a ninguém mais.
Se o enredo se apresenta ultrapassado pelo conceito que busca defender, é de se reconhecer que o elenco está esforçado, fazendo de tudo ao alcance para entregar à audiência personagens minimamente convincentes. Lázaro Ramos, como Tom, tira de letra o tipo que tem pela frente, mostrando-se essencial em sua simpatia e carisma para não fazer deste homem o vilão da história, mas, sim, apenas uma criança despreparada frente aos compromissos que assumiu. Paolla Oliveira, por sua vez, é menos exigida, ainda que, quando solicitada, mostra-se à altura de uma postura em conflito, indecisa entre o marido que ama e que é feliz em ter ao lado e o companheiro cada vez mais inapto para ser o pai de sua filha. Outra figura feminina forte, mas ainda assim relegada a uma posição coadjuvante – afinal, este é um relato de homens para homens – é a veterana Elisa Lucinda, como mãe de um e sogra da outra. Distante dos estereótipos que tais posições poderiam lhe conferir, se mostra como uma mulher moderna e antenada, que não faz vista grossa aos deslizes do filho, assim como também não vê sentido em antagonizar com aquela que lhe deu uma neta. Sua composição é tão afinada a ponto de provocar o questionamento: como ela poderia ter gerado alguém tão alienado quanto este aqui em discussão?
Recheado por uma série de ensinamentos básicos – cuidar da temperatura do bebê, não o colocar para dormir na cesta de roupas sujas etc – Papai é Pop ainda se torna mais complicado ao inserir uma subtrama paralela envolvendo um pai viúvo, uma criança órfã e a disposição de criar descendentes mesmo sem grandes perspectivas profissionais ou ao menos algum tipo de estabilidade financeira, como se isso fosse algo “que a gente vê depois”. E quando se imagina que o caos não poderia ser maior, há ainda um questionamento a respeito do título. O que seria necessário para um pai ser, enfim, pop? Querido em família, atento às necessidades destes que dele dependem, cumpridor das diretrizes internas do lar? Ou se tornar um fenômeno na internet, postar vídeos no youtube que digam o óbvio sem ousar ir além do lugar-comum – mas apelando para um sentimentalismo tão barato quanto descartável – e se consagrar como influenciador digital, torcendo para que um sucesso atingido sem planejamento sirva de exemplo às gerações futuras? Parece estar na resposta a essas indagações o verdadeiro dilema da paternidade moderna.
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