Crítica


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Sinopse

Henri Charrière, conhecido como Papillon, um pequeno bandido das baixadas de Paris da década de 1930, é condenado à prisão perpétua por um crime que não cometeu. Enviado para a Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, ele conhece Louis Dega, um homem a quem promete ajudar em troca de auxílio para escapar da prisão.

Crítica

A história do malandro que é acusado injustamente de assassinato e acaba sendo mandado para uma prisão de segurança máxima na Guiana Francesa no início do século passado – e por isso passa o resto dos seus dias tentando fugir de onde foi mandado por engano – não chega a ser nenhuma novidade ao cinéfilo mais atento, principalmente por ter sido adaptada antes no clássico homônimo Papillon (1973), que contou com os gigantes Steve McQueen e Dustin Hoffman à frente do elenco, e somou indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro. Pois quatro décadas são mais do que suficientes para justificar uma releitura deste conto de persistência e determinação, e agora quem entra em cena são dois jovens astros em ascensão – Charlie Hunnam e Rami Malek – em uma adaptação de Papillon que se propõe ser ainda mais fiel aos escritos de Henri Charrière. E o resultado não faz feio ao original, assim como também possui personalidade suficiente para se manter ereto pelos próprios méritos.

As diferenças estão logo no início, e voltam a se manifestar com força em sua conclusão. Charrière – apelidado de ‘Papillon’, ou ‘borboleta’, por causa da tatuagem que carregava no peito – escreveu não apenas um, mas dois livros sobre sua vida. Além do óbvio Papillon, que serviu de base ao longa anterior, ele também deu continuidade aos seus relatos em Banco, lançado poucos anos depois. Esse novo filme, portanto, não se restringe a apenas uma obra, fazendo uso de ambas para construir sua narrativa. Assim, temos a possibilidade não apenas de descobrir um pouco mais a respeito de quem foi este homem antes de ser trancafiado em uma ilha paradisíaca aparentemente longe de tudo e todos – cem anos atrás, a América do Sul era não mais do que um destino insólito para os europeus – mas também é possível se debruçar um pouco a respeito do que ele fez com a própria vida após alcançar a liberdade – fato que, é preciso concordar, não chega a ser um grande spoiler, uma vez que é público e notório que ele viveu para contar o que lhe aconteceu.

Charlie Hunnam é um grande ator. No entanto, lhe falta apenas um passo para se tornar um astro de verdade. As séries Queer as Folk (1999-2000) e Sons of Anarchy (2008-2014) podem ter lhe dado popularidade e prestígio junto à círculos restritos, mas filmes como Círculo de Fogo (2013), A Colina Escarlate (2015) e Rei Arthur: A Lenda da Espada (2017) falharam em lhe tornar verdadeiramente conhecido pelo grande público. Rami Malek, por outro lado, está, literalmente, à beira do estrelato: a série Mr. Robot (2015-2019) pode ter despertado curiosidade a seu respeito, mas será o vindouro Bohemian Rhapsody (2018) – em que vive ninguém menos do que o roqueiro Freddie Mercury – que irá lhe garantir (ou não) um lugar especial em Hollywood. Papillon, portanto, é o filme que deveria sedimentar o caminho de ambos. Infelizmente, passou quase que em brancas nuvens pelos cinemas norte-americanos. Uma lástima, uma vez que possui qualidades suficientes para justificar toda e qualquer atenção despertada.

Ao chegarem na prisão, Papillon (Hunnam) vê em Louis Dega (Malek) um parceiro inusitado, porém apropriado. O primeiro é grande, atlético e forte, e sempre precisou lutar muito para se manter. O segundo é franzino e delicado, porém cheio da grana, pois acabou atrás das grades por falsificação financeira. Um tem os meios, o outro o dinheiro para que o plano seja bem-sucedido. Mas ali, no meio do nada, qualquer empreitada será bem mais difícil do que poderiam imaginar. E entre anos – e décadas – de frustrações e esperanças vãs, de fugas que não se concretizam, parceiros pouco confiáveis e alianças de última hora, a única coisa que permanecerá vigente será a amizade entre essas duas figuras tão diferentes, porém com muito mais em comum do que poderiam imaginar no momento em que se conheceram. E é na relação que se constrói entre eles que Papillon mostra o seu valor.

Há sabedoria também nos passos escolhidos pelo diretor dinamarquês Michael Noer, aqui estreando em língua inglesa, que evita reprisar as passagens mais marcantes – e óbvias – da versão dos anos 1970. Assim, deixa de lado as baratas e diminui-se o sofrimento na solitária, para investir mais tanto no aspecto aventuresco – os cenários são muito melhor explorados dessa vez – como também se debruça mais no quanto um transformou a vida do outro a partir do momento em que se encontram e formam essa sociedade um tanto torta, porém vital para seguirem adiante. Se o longa anterior era justamente batizado Papillon, pois o foco estava mesmo na história do indivíduo, aqui talvez tivesse sido mais apropriado um Papillon & Louis, por exemplo. Não chega a ser melhor ou pior – é apenas diferente. E, por isso, justifica os esforços envolvidos. Em ambos os lados da tela.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
8
Roberto Cunha
6
MÉDIA
7

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