Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre
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Michael Fimognari
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To All the Boys: Always and Forever
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2021
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Lara está prestes a começar uma nova fase de sua vida após a formatura. Em meio a duas viagens marcantes, ela vai reavaliar como poderão ficar suas relações familiares, a ligação com os amigos e o vínculo com seu namorado.
Crítica
Uma coisa é certa: a trilogia Para Todos os Garotos, desenvolvida a partir dos livros de Jenny Han, é voltada prioritariamente para meninas pré-adolescentes que sonham com um mundo perfeito e cor-de-rosa, que ainda esperam que o Príncipe Encantado surja diante delas a seja um cavalheiro do início ao fim, que não cometa erros e não lhes provoque frustrações. É dentro deste conceito muito sólido que Para Todos os Garotos que Já Amei (2018) e Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você (2020) transitavam, e não há motivo para imaginar que em Para Todos os Garotos: Agora e Sempre, o terceiro – e, provavelmente, último capítulo desse jornada – o resultado seja diferente. E, de fato, o filme é tudo aquilo que dele se espera. Essa honestidade, se por um lado pode ser decepcionante, pois a todo momento derrapa numa previsibilidade constrangedora, também é reconfortante por uma postura rara atualmente. Quem até ele se dirige sabe muito bem o que quer, e é exatamente isso que irá encontrar.
Isto posto, é curioso observar como, dos três segmentos dessa saga romântica adolescente, este último talvez seja o menos interessante e mais previsível. Se no primeiro Lara Jean, a protagonista vivida com cada vez maior desinteresse por Lana Condor, precisa se guiar entre “os fantasmas das paixões passadas”, quase como em um conto dickensiano, em P.S. Ainda Amo Você a dúvida era mais explícita: continuar com o amor de infância, Peter Kavinsky (Noah Centineo, que entrega com desenvoltura o pouco que se espera dele), ou se dedicar a uma nova paixão – no caso, o recém-chegado John Ambrose (Jordan Fisher, de Dançarina Imperfeita, 2020). E se, na prática, esse questionamento não existia – qualquer um mais ou menos antenado sabia de antemão com qual dos dois ela ficaria no final – o mesmo se repete em Agora e Para Sempre. Com uma pequena diferença que, se no anúncio parece ser relevante, ao deixar a teoria de lado se demonstra tão improvável quanto qualquer outro questionamento que a personagem enfrentou ao longo dos três filmes.
Sim, pois o que o diretor Michael Fimognari (o mesmo do episódio anterior) e a roteirista Kate Lovejoy (de séries como Dracula, 2013, e Dead Inside, 2018) tentaram vender dessa vez é que o novo dilema de Lara Jean seria entre o coração e a razão. Ou seja, não estaria mais indecisa entre dois amores: agora, teria que escolher entre Peter e... ela mesma! Sim, pois do outro lado da balança estaria dar voz ao que, de fato, quer para o seu futuro, isso representado através da opção por qual faculdade continuar seus estudos. Se ir cursar uma próxima a dele para que possam continuar juntos, visando apenas a questão prática de logística, ou ouvir seu instinto que a melhor universidade para a formação que pretende seguir é a NYU – em Nova Iorque, portanto, do outro lado do país – e, com isso, colocando milhares de quilômetros entre os dois. Seria o romance deles forte o suficiente para resistir a um namoro à distância? Esse é um preço que, talvez, não estejam dispostos a pagar.
Quer dizer, até poderia ser, caso esse fosse um filme realista. O que, como já foi dito, não é o caso. Como tudo em cena é absolutamente idealizado – da escolha dos pares para o baile de formatura da escola, sempre feita por meio de gestos grandiosos e excessivamente românticos, ao novo casamento do pai, que se vê envolvido pela vizinha da casa da frente – o mesmo ocorrerá no que diz respeito ao relacionamento de Lara Jean e Peter. Haverá momentos de dúvida, uma eventual – e bastante momentânea – separação, mas que ninguém tema: um está irreversivelmente destinado a permanecer ao lado do outro. Peter é o namorado perfeito – como rapaz nenhum conseguiria ser, e como qualquer garota sempre sonhou em ter – e a única coisa que ele tem a temer, além de uma eventual rejeição paterna (participação discreta de Henry Thomas), são as inseguranças da própria namorada. Afinal, como ele mesmo diz, “o que são quatro anos para quem está comprometido a passar uma vida inteira juntos?”
O humor proposto pelas intervenções das irmãs de Lara Jean quase desaparece, a presença de John Corbett, como a figura de autoridade da família, é esmaecida a tal ponto que se torna uma presença não mais do que pontual. Da mesma forma, as tentativas de mudança de cenário, como uma viagem à Coreia do Sul ou um passeio de fim de semana por Nova Iorque, se apresentam tão fugazes e irrelevantes que o espectador poderá se perguntar se tais passagens não foram feitas em fundos verdes, com inserções digitais posteriores, pois em nada afetam no desenrolar da trama. Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre serve também para mostrar que tanto Lana Condor quanto Noah Centineo já estão grandinhos o suficiente para alçarem voos mais arriscados (ela estará na ficção-científica Moonshot, que será ambientada em Marte e se encontra atualmente em fase de filmagens, enquanto que ele viverá ninguém menos do que o icônico He-Man na nova versão de Masters of the Universe, previsto ainda para esse ano) – ambos soam desconfortáveis com os figurinos e as ambientações colegiais, que há muito já deixaram para trás. Assim como seu público, que também deve estar pronto para conflitos mais concretos e menos açucarados do que os vistos por aqui, mais próximos da fantasia do que da realidade.
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