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Sinopse

Lara Jean Song Covey escreve cartas de amor secretas para todos os seus antigos paqueras. Um dia, essas cartas são misteriosamente enviadas para os meninos, virando sua vida de cabeça para baixo.

Crítica

Lara Jean não é uma garota qualquer, como todas as outras. Para começar, é órfã de mãe, o que, obviamente, a forçou a amadurecer um pouco mais rápido do que suas colegas. Depois, tem como melhor amigo um rapaz, Josh – o que ainda é bastante incomum, ainda mais em uma fase da vida em que meninas e meninos são tão estranhos uns aos outros como se fossem verdadeiros alienígenas. Por fim, tem o curioso – e antiquado – hábito de escrever cartas. Mas não são quaisquer missivas. São elaboradas declarações de amor, direcionadas a cada um dos garotos pelos quais ela já sentiu seu coração bater mais forte. No entanto, como é comum nessa idade, ela as redige como forma de desabafo, mais para si do que para qualquer outra coisa. Mas como reagir quando, pela ação de terceiros, os destinatários recebem os registros das suas emoções? Com uma premissa sensível, ainda que um tanto deslocada, Para Todos os Garotos que já Amei é uma típica comédia romântica juvenil que vale mais pelos seus méritos indiretos do que por todo o esforço que faz para disfarçar ser o que, de fato, é.

Baseado no romance homônimo de Jenny Han, o filme dirigido por Susan Johnson (Carrie Pilby, 2016) tem como principal destaque o fato de ser protagonizado por uma atriz asiática. Lana Condor, que interpreta Lara Jean, havia feito até então apenas pequenos papeis, como a Jubileu, de X-Men: Apocalipse (2016), ou a Li de O Dia do Atentado (2016), quando foi escolhida para estrelar esse projeto. O fato chama ainda mais atenção quando se descobre que praticamente todos os estúdios de Hollywood, interessados na adaptação do livro, exigiram que a personagem principal fosse interpretada por uma atriz caucasiana. Han negou essas propostas, e manteve consigo os direitos até que a gigante do streaming, Netflix, se interessasse em tocar adiante o projeto. O resultado é um dos maiores sucessos da plataforma, que inclusive já teve suas duas continuações confirmadas – a primeira, Para Todos os Garotos: P.S Ainda Amo Você (2020) estreia em fevereiro.

Esse é um bom recado para quem insiste em pensar que representatividade não importa. Assim como Podres de Ricos (2018) fez história com seu elenco majoritariamente oriental – um bom paralelo com o impacto de Pantera Negra (2018) entre o público afrodescendente – é importante tal observação, ainda que tal elemento nunca chegue a ser um ponto de discussão na trama. As origens familiares da protagonista estão presentes, porém tratadas de forma natural. Ainda mais por ela ser fruto de um casal inter-racial – o pai é interpretado por John Corbett, voltando a um ambiente que lhe é familiar desde os tempos de Sex and the City (2000-2003) ou do sucesso Casamento Grego (2002). Não por acaso, Condor também se verá diante de dois rapazes com cor de pele distinta da dela, sem esquecer de mencionar que uma das suas paixões era por um menino negro. Ou seja, o debate está presente, mas sem ser didático. E este é um acerto e tanto.

Encerrada em seus próprios medos e inseguranças, Lara Jean é exposta quando a irmã caçula não só pega suas cartas, mas também as envia àqueles que serviram como inspiração – se a autora não queria que seus escritos chegassem até eles, porque fechou cada envelope, os selou e preencheu corretamente os endereços? Enfim, este é apenas um pormenor. O maior embrulho se dá quando se percebe atraída pelo melhor amigo – que atualmente namora a irmã mais velha dela. Quando cada um deles recebem as mensagens, suas reações serão diferentes. Josh (Israel Broussard, de A Morte Te Dá Parabéns, 2017) percebe ter perdido o momento certo de se declarar, Lucas (Trezzo Mahoro) com o passar dos anos se descobriu gay, e outros dois, ela acredita, ficaram perdidos na correspondência. Mas há um quinto, e é justamente ele quem lhe provocará palpitações: Peter (Noah Centineo, garoto-propaganda da Netflix, entregando exatamente o que lhe é exigido). Além de ser o galã da escola, ele recentemente terminou um relacionamento – e vê nesse episódio a oportunidade perfeita para provocar ciúmes da antiga namorada.

Indecisa entre Josh e Peter, vivendo um namoro de mentira – quem aí lembra de Namorada de Aluguel (1987) sabe bem como isso irá acabar – e buscando forças para se satisfazer por quem é, e não pela maneira como os outros a veem, Lara Jean acaba por se revelar um modelo mais interessante do que a ideia básica de Para Todos os Garotos que já Amei poderia antecipar. O filme é até mesmo tolo, ingênuo nas reviravoltas provocadas pela vilã ou nos desencontros entre os casais de protagonistas, sem riscos de desviar do final há muito esperado pela audiência. Temas como sexo na adolescência e bullying escolar até são abordados, mas tudo é muito leve, sem profundidade. Se poderia ser motivo de reclamação, ao menos estão presentes e não são ignorados. No final das contas, sem ousar além da conta, trilha caminhos seguros, e os faz com confiança, investindo no garantido e avançando na medida do possível. O que, diante das expectativas levantadas, já parece estar de bom tamanho.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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