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Sinopse

Aos 16 anos, Alex namora Jennifer e é o melhor amigo de Jared. Essa juventude encontra num espaço de skatistas o seu lugar para se expressar. Num dia qualquer, Alex aceita aventurar-se pelos trilhos do trem e algo acontece.  

Crítica

O Parque Paranoid é um lugar meio mítico entre os skatistas de Portland. Alex (Gabriel Nevins) não se acha preparado para fazer suas manobras por lá, mas, mesmo assim, aceita o convite do amigo Jared (Jake Miller) para conhecer esse espaço onde muita gente com a vida ferrada alivia um pouco o peso diário. As cenas gravadas num estilo documental e a desaceleração da imagem tornam lírico esse primeiro contato do protagonista com a pista mais famosa da cidade. Jovens, assim como ele, deslizam sobre rodas, dão piruetas, compondo um bailado cuja beleza transcende a degradação do entorno. Alex não expressa muitas emoções, e assim será durante todo Paranoid Park. Ele lida com a separação dos pais, com o apego exagerado da namoradinha da escola, com a necessidade de entender os próprios sentimentos, suprir expectativas, em suma, com o crescimento iminente e as agruras da vida adulta, cada vez mais próximas e opressoras.

Em Paranoid Park, o diretor Gus Van Sant estreita o foco nos adolescentes, tentando compreender seu mundo de turbulências e indefinições. Os pais de Alex são vistos, com raras exceções, longe demais do primeiro plano ou completamente desfocados. As únicas figuras adultas que ganham contornos mais definidos no âmbito visual são as autoridades, como o policial que chega à escola inquirindo skatistas em virtude da investigação sobre um assassinato próximo ao Parque Paranoid. Alex é chamado, fala onde esteve em determinado dia, dá seu depoimento com o mesmo torpor que o caracteriza. Ele nos conta isso por meio de uma carta, recurso que conduz a narrativa adiante, exposição verbal do que o semblante e os modos dele não transparecem. Dessa maneira, somos espectadores privilegiados, pois muito íntimos do drama desse garoto que, não bastasse todos os percalços, ainda carrega uma grande culpa.

O uso de não atores e a imagética dão a Paranoid Park aspecto de contato com o real, inclusive pela proximidade com a linguagem documental. A inexpressividade de Gabriel Nevins, por exemplo, é uma característica utilizada a favor da construção do personagem, eficiente para denotar o estado de anestesia persistente que lhe é peculiar. O vai e vem temporal do roteiro é perspicaz e sutil, não tão evidente e marcado como em Elefante (2003), filme do qual este é um parente próximo, embora baseado no livro de Blake Nelson, e não livremente inspirado num evento real. Embaralhar cronologicamente os acontecimentos e, principalmente, dar outro sentido a passagens anteriormente mostradas, com informações novas, é um recurso usado com inteligência. O expediente tira das cenas e da própria imagem o caráter definitivo, uma vez que tudo é passível de uma ressignificação futura, mediante a apresentação de perspectivas até ali ignoradas.

O clima de Paranoid Park oscila entre o real e o poético. Se, por um lado, Van Sant busca extrair algo mais da coreografia dos skatistas que ergueram um parque para escapar do cotidiano, uma espécie de santuário onde o que importa é sentir-se livre, por outro persegue a emoção genuína, a linguagem do dia a dia, as interações comuns a todo jovem, não importando de onde ele seja. O crime hediondo, mostrado em toda sua crueldade, é apenas outro passo em falso, algo não premeditado e sem qualquer relação com a natureza de quem o cometeu. As dificuldades de Alex não podem ser totalmente imputadas à separação dos pais, ou mesmo àquilo que lhe fugiu do controle em certa situação, mas, talvez, aos tempos em que ele vive, à falta de esperanças, aos relacionamentos liquidados pela nova configuração das coisas. Gus Van Sant não se atém às respostas, valorizando as perguntas como primeiro e imprescindível passo para entendermos melhor esse mundo particular e suas vicissitudes.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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