Crítica
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Sinopse
Toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. A situação deles parece mudar quando o filho começa a dar aula a uma garota rica. Fascinados com essa outra realidade, ele, a irmã e os pais bolam um plano para se infiltrarem, um a um, entre os burgueses.
Crítica
Uma família tem tudo do bom e do melhor. A outra, se vira como pode. Nenhuma delas demonstra estar disposta a que tais situações se alterem. Os ricos moram numa casa da mais moderna, mas o que possuem lhes vem de mão beijada, fruto do trabalho do patriarca, que mantém esposa e filhos como verdadeiros troféus. Ele próprio, inclusive, parece ter conquistado sua posição mais por mérito intelectual do que por esforço repetido. É seu por direito, mas assim o é pois este é o mundo que conhece. Aos demais, cabe apenas jogar pelas beiradas. E assim que uma fresta se faz presente no caminho deles, não irão hesitar em por ela se espreitar. Parece simples, ainda que se saiba não ser exatamente assim que as coisas se sucedem na vida real. Em Parasita, o tom de fábula é constante. E ainda que vá da comédia ao grotesco sem muito cuidado, os tropeços ao transitar de um ponto a outro se mostram turbulentos o suficiente para atrapalhar uma fruição que, com maior sensibilidade, teria tudo para revelar maior eficiência.
Song Kang-ho, um dos atores-fetiche do diretor Bong Joon-ho, visto em O Hospedeiro (2006) e Expresso do Amanhã (2013), por exemplo, dessa vez pode ser visto como Ki-taek, o patriarca dos Kim. Ele, a esposa (Jang Hye-jin, de Poesia, 2010), e os filhos (Park So-dam, de O Veterano, 2015, e Choi Woo-sik, de Invasão Zumbi, 2016) vivem em um porão que corre o risco de ser inundado a qualquer momento. Sobrevivem de subempregos, do wifi dos vizinhos e de pequenos trambiques que aplicam em desavisados. Quando um colega do filho o avisa que vai viajar e o recomenda para assumir seu lugar como tutor de uma menina rica, esse vê na indicação a chance para algo mais arriscado – e de ganhos significativos. Afinal, se ele, mesmo não estando na universidade, pode fingir ser professor particular, por quê a irmã não pode se apresentar como instrutora do caçula? E uma vez os dois inseridos, não será difícil fazer do pai o novo motorista. Com um antigo empregado eliminado, nada mais fácil do que se livrar do próximo, abrindo a vaga para que a mãe assuma como governanta.
O que poderia ser uma fórmula elaborada, no entanto, resulta em algo simplista que beira o acaso. Afinal, os quatro pobres grudam nas suas contrapartidas abastadas como pestes dispostas a estabelecerem profundas raízes. Nada que fazem é desprovido de intenções escusas, por mais que Joon-ho se esforce em apresentar o desenrolar dos acontecimentos quase como coincidências passageiras. O primeiro chega por indicação, mas o que dizer da segunda? E se o antigo condutor é mandado embora graças a uma artimanha da garota, essa só consegue colocar seu plano em prática por um conjunto de fatores alheio à sua vontade. Tão absurdo quanto a estratégia improvável e exagerada que leva à demissão da velha senhora que cuidava da casa. Quando reunidos, os aproveitadores se gabam com justificativas como “dei uma olhada no Google e o resto foi só improvisação”. Pessoas que nunca foram capazes de conseguir algo válido na vida, mas que, de uma hora para outra, são capazes de lances de genialidade inesperados.
A suspensão da realidade é exigida da audiência do início ao fim. Nada que ocorre se passa por um registro realista. Por outro lado, o filme se propõe a discutir a luta de classes fortemente calcada num cenário contemporâneo. Sem se decidir por qual contexto irá desenrolar suas ações, se partindo de um universo fantasioso ou percorrendo caminhos mais concretos, tal indecisão permite uma quebra de verossimilhança, forçando no exagero em detrimento de uma análise demorada e precisa. O que se busca é o retorno imediato, a reação no lugar da reflexão. Do próprio título, que aponta para um lado enquanto, obviamente, anseia por discutir a representatividade daqueles no extremo oposto, aos próprios gatilhos emocionais que faz uso, Bong Joon-ho constrói sua trama exigindo da audiência uma contrapartida maior do que a disposição dos elementos que se mostra disposto a compartilhar. Para que a troca se faça efetiva, é necessária uma aceitação maior do que a entrega. E quanto a balança se mostra desequilibrada, será o todo o primeiro a sofrer.
Percorrendo obviedades e soluções fáceis, Parasita busca um discurso que somente através da boa vontade do espectador se poderá se dar sem maiores ruídos. As duas famílias irão lutar pelo mesmo espaço, ainda que sob diferentes táticas: uma pela total ingenuidade, outra pela dissimulação. E assim que uma terceira força se manifesta, o circo estará armado. Porém, quando chegado o momento do confronto, a aposta estará na violência e no exercício de clichês envelhecidos, da torta na cara à filosofia de fundo de quintal (“o melhor a fazer é não ter plano algum, pois eles nunca funcionam”). Diante de tamanho desconforto, enquanto alguns irão recorrer ao riso nervoso, ainda que desprovido de profundidade, outros verão aqui um cenário repleto de possibilidades, ainda que muitas tenham sido, na maior parte das vezes, não apenas ignoradas, mas também rechaçadas. O constrangimento, como se vê, está tanto naquele que busca um resultado imediato, quanto nos que anseiam por encontrar aquilo que o conjunto simplesmente não possui condições de oferecer.
Filme visto na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2019
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Será que hoje o autor dessa crítica escreveria o que escreveu? Ele errou feio, mas muito feio. Talvez precise estudar mais.
Achei superestimado. Suas virtudes residem apenas no discurso. Até aí gostei. Mas do ponto de vista cinematográfico é mal executado, a trama é cheia de furos, as situações são artificiais, a coisa toda me pareceu inverossímil. 7/10 .