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Sinopse

Etienne vai a Paris para estudar cinema na Sorbonne. Ele conhece Mathias e Jean-Noël, que compartilham sua paixão por filmes. Mas, conforme passam o ano estudando, precisarão enfrentar os desafios da amizade e do amor, assim como escolher suas batalhas artísticas.

Crítica

Ettienne (Andranic Manet), assim como tantos outros jovens em busca de oportunidades melhores de formação e emprego, sai do interior a fim de morar na capital. No caso, a troca é Lyon por Paris, onde ele vai perseguir o sonho de se tornar cineasta. A decisão afeta seus relacionamentos então essenciais, pois o afasta dos pais e da namorada, Lucie (Diane Rouxel), com quem mantinha namoro duradouro e de diária proximidade. Inicialmente, Paris 8, desenha esse caminho relativamente comum, já visitado cinematograficamente inúmeras vezes, com uma aura de suposta singularidade. Isso porque a aclimatação do protagonista ao novo cotidiano se dá, principalmente, na faculdade em que são constantes os debates com colegas de diferentes origens e ímpetos criativos, colóquios acalorados com um verniz inconfundível de intelectualidade e carga retórica. A fotografia em preto e branco ajuda a conferir ao longa-metragem de Jean-Paul Civeyrac uma aura de nostalgia atrelada ao cinema.

Paris 8 se foca na ambiguidade dos comportamentos de Etienne, na maneira como ele se cerca de pessoas, nem sempre com desenvoltura suficiente para construir elos emocionais sólidos. Todavia, há desperdício evidente de possibilidades nesse percurso capturado pela câmera, cujo trânsito quase solene pelos espaços rima bem como a inclinação dos personagens a demonstrar abertamente o quanto são pedantes e egocêntricos. Embora o realizador não demonstre vontade de julgar as pessoas em cena, alguns procedimentos reforçam a sensação de que elas praticamente flanam num mundo paralelo. No mau sentido. O mais facilmente identificável deles é a irritante repetição das citações literárias, das aspas, utilizadas até mesmo em conversas corriqueiras, em diálogos descaradamente marcados por uma necessidade mútua de afirmação. Sem viés crítico, tais manifestações se consolidam narrativamente como frações de uma visão romantizada.

Da mesma maneira, a turbulência do namoro, decorrente da distância, é tratada trivialmente, primeiro, por uma vontade plenamente conjurada de afastar-se da convenção instaurada pelo próprio roteiro e, segundo, em virtude da ausência de impacto emocional perceptível a médio e longo prazo. Na medida em que expande o escopo da experiência parisiense de Etienne, Paris 8 amplia sua condição de refém de uma estrutura sufocante, povoada de gente deliberadamente deslocada da realidade. As discussões do rapaz com a nova colega de quarto, Annabelle (Sophie Verbeeck), ensaiam colocar em crise uma visão de mundo compartilhada pelos demais aspirantes a cineastas, a de que fazer filmes é uma forma concreta de tornar o mundo um lugar melhor. Até nessa dialética supostamente tensa, a narrativa deixa a desejar, por permitir um enfraquecimento das possíveis ressonâncias. Tudo vai se concentrando na imaturidade e na frustração do jovem provinciano.

Paris 8 possui estilo e momentos dramaticamente expressivos. Também apresenta sequências verdadeiramente deliciosas para os cinéfilos – como a aula em que a professora discute a produção italiana pós-Segunda Guerra Mundial como uma nova Renascença. Contudo, é gradativamente combalido por banalidades e/ou recorrências mal resolvidas, como a obsessão de Ettienne por Mathias (Corentin Fila), colega que reclama para si uma autoridade, simplesmente por ser “sincero” e militar pelo cinema que "acessa a verdade". A inconsistência dramática sobressai, dirimindo a potência de determinados atravessamentos, como as novas experiências amorosas, as rupturas (abruptas) com velhos amigos e as frequentes dificuldades para seguir a carreira almejada. Autoindulgente, o longa de Jean-Paul Civeyrac acaba, involuntariamente, refletindo a atitude pernóstica dos personagens, ainda que tenha substância o suficiente para prender nossa atenção circunstancialmente, em instantes belos, não raro caracterizados por conquistas e rompantes sensuais.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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