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Sinopse

Em pequenos filmes, diversos cineastas falam sobre o deslumbre que é estar em Paris, a Cidade Luz.

Crítica

Todo longa composto pela a união de diversos curtas é, por definição, irregular. Paris, Te Amo não foge desta sina, porém, felizmente, de modo muito positivo. A grande maioria dos curtas - são 18 no total - são excelentes! Claro, tem também alguns muito bons, outros somente bons, e uns dois ou três razoáveis. De fato, apenas um me decepcionou. Isso dá uma média excepcional, não?

Iniciativa da dupla de cineastas Tristan Carné e Emmanuel Benbihy (este responsável pela direção dos trechos de transição entre uma trama e outra), Paris, Te Amo é o primeiro resultado de um projeto chamado Cidades do Amor - os próximos deverão ser sobre New York e Shanghai. E eles conseguiram recrutar, para esta "estréia", 21 cineastas das mais diversas nacionalidades, culturas, idades, tradições e gêneros. E o que temos é uma obra absurdamente envolvente, carismática, reveladora e instigante.

Em comum, os 18 enredos de Paris, Te Amo têm o fato de se passarem cada um num bairro diferente da capital francesa e serem, todos, histórias de amor. O romance estará presente sob as mais distintas motivações: paixão, fraternidade, humanismo, nostalgia, carinho, saudade e até sobrenatural. Com um elenco impressionante e cineastas realmente empolgados com a proposta, tem-se um dos filmes mais encantadores dos últimos tempos, uma experiência inesquecível para todos aqueles que já se apaixonaram - por Paris ou não!

01. Montmartre

Dirigido, escrito e protagonizado pelo realizador grego Bruno Podalydès, mostra um homem que quer estacionar seu carro enquanto reflete sobre suas atitudes e sobre a própria vida. Um início tímido, que não faz jus a tudo que está por vir.

02. Quais de Seine

A diretora de origem indiana Gurinder Chadha (Driblando o Destino / Bend it Like Beckham) fala da atração que surge entre um garoto francês e uma moça muçulmana. Estranhamento, compreensão e sinceridade caminham juntos neste simpático libelo de paz. A emoção começa a aflorar!

03. Le Marais

O norte-americano - e gay assumido - Gus van Sant (Gênio Indomável, Elefante) é responsável pelo único episódio de tonalidade homossexual. Mas a trama vai além do óbvio desejo que surge entre dois rapazes. Espiritualidade, destino e à procura por uma alma gêmea, independente do corpo e sexo em que ela se apresenta, eleva a discussão. Um dos protagonistas é interpretado por Gaspard Ulliel, de Eterno Amor e Hannibal: A Origem, e há também uma participação especial da cantora Marianne Faithfull (vista há pouco em Maria Antonieta).

04. Tuileries

Os irmãos Joel e Ethan Coen (Fargo, O Homem que Não Estava Lá) criam o mais cômico dos segmentos. Steve Buscemi (Cães de Aluguel) é um turista que acaba no meio da pegação de um casal de namorados, numa estação de metrô. Despreocupado em querer passar grandes mensagens, diverte e entretêm.

05. Loin du 16e

Os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, que juntos dirigiram Terra Estrangeira e O Primeiro Dia, contam em Longe do 16º Distrito com a colombiana indicada ao Oscar Catalina Sandino-Moreno (Maria Cheia de Graça), neste que é um dos pontos altos do longa. Emocionante, simples e bastante direto, comove com palavras escassas e olhares de muitos significados. De cortar o coração.

06. Porte de Choisy

O australiano Christopher Doyle, diretor de fotografia de filmes como A Dama da Água e O Americano Tranquilo, responde pelo mais frustrante de todos os segmentos. Cabeleireiras orientais, surrealismo, falta de nexo e a presença do diretor Barbet Schroeder (Mulher Solteira Procura) como ator contribuem para o fracasso da empreitada. Definitivamente o único evidente percalço do conjunto.

07. Bastille

A espanhola Isabel Coixet, dos tocantes Minha Vida Sem Mim e A Vida Secreta das Palavras, fala da tentativa de um casal em crise de salvar a relação após descobrirem que a mulher está com câncer. As ótimas atuações de Miranda Richardson (Perdas E Danos), irreconhecível, e de Sergio Castellitto (Simplesmente Martha), por si só, já valem a conferida.

08. Place des Victories

O diretor japonês Nobuhiro Suwa joga nos ombros da sempre excelente Juliette Binoche (O Paciente Inglês) a responsabilidade de nos conduzir pela dor e sofrimento de uma mãe que sofre pela morte recente do filho. Tudo é tão sensível, delicado e bem exposto que nem um Willem Dafoe (Homem-Aranha) como cowboy consegue estragar!

09. Torre Eiffel

Sylvain Chomet, da adorável animação As Bicicletas de Belleville, nos mostra a história de amor que surge entre dois mímicos. Divertida, terna e muito bem humorada, traz um pouco de luz após o baque dramático do episódio anterior.

10. Parc Monceau

O mexicano Alfonso Cuarón (E Sua Mãe Também) continua explorando as possibilidades de um plano-seqüência, muito bem exemplificadas no seu último filme, Filhos da Esperança, neste encontro de um pai (Nick Nolte, de Hulk) com sua filha adolescente (Ludivine Sagnier, de 8 Mulheres). Curioso.

11. Quartier des Enfants Rouges

O diretor francês Oliver Assayas (Clean, Alice & Martin) esfria as emoções nesta análise distante sobre o relacionamento que poderá surgir (ou não) entre uma atriz norte-americana (Maggie Gyllenhaal, de Secretária) e o rapaz que lhe irá conseguir a droga que está buscando.

12. Place des Fêtes

O sul-africano Oliver Schmitz, apesar de até então só ter trabalhado em televisão, entrega o mais emocionante e triste de todos os episódios. Impossível não se comover com o amor que surge entre uma paramédica e um emigrante esfaqueado em praça pública. Nem sempre a pessoa pela qual esperamos toda uma vida chega à tempo para podermos desfrutar da companhia dela, mas ao menos estes dois protagonistas conseguiram cruzar seus olhares, nem que por meros segundos. Extremamente romântico, chocante e muito bem construído, traz esperança e desespero na mesma medida. Uma obra-prima!

13. Pigalle

Assim como Bastille, esse aqui também vale de antemão já pelos protagonistas, a fabulosa Fanny Ardant (Callas Forever) e o divertido Bob Hoskins (Mona Lisa). Com direção do norte-americano Richard Lagravenese (Freedom Writers), é uma interessante abordagem sobre a redescoberta do amor durante a maturidade, tendo à frente um casal que inventa um jogo particular para manter acesa a paixão entre eles no bairro mais sexual de Paris. Provoca a curiosidade do espectador ao mesmo tempo que brinca com a nossa própria inteligência. Muito bom!

14. Quartier de la Madeleine

O diretor e roteirista Vincenzo Natali não esconde seu passado de diretor de arte no mais visualmente interessante de todos os episódios, nesta trama de vampiros e turistas desavisados que atrai mais pela aparência do que pelo conteúdo. Mesmo assim, é uma brincadeira curiosa. Como protagonista, Elijah Wood (O Senhor dos Anéis).

15. Père-Lachaise

O diretor Wes Craven (A Hora Do Pesadelo, Pânico) deixa de lado seu passado de monstros e assassinos para mostrar os humores que conduzem um casal (Rufus Sewell, de O Ilusionista, e Emily Mortimer, de Match Point) pelos corredores do popular cemitério do título. O roteiro muito bem elaborado, os diálogos marcantes e uma aparição do cineasta Alexander Payne como o escritor Oscar Wilde fazem deste, surpreendentemente, um dos melhores do conjunto. Um feito e tanto!

16. Fauborg Saint-Denis

O alemão Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra e Perfume) tem a ótima Natalie Portman (Closer: Perto Demais) como protagonista de um amor que surge entre uma atriz iniciante e um jovem cego. A montagem instigante e o desenrolar da ação garantem o interesse do espectador, nesta trama que combina juventude, surpresas e uma ótima conclusão.

17. Quartier Latin

O astro francês Gerard Depardieu faz uma das suas raras aparições como diretor (ele também interpreta um personagem coadjuvante), ao lado do colega Frédéric Auburtin. Os dois mostram como é difícil apagar a chama da paixão mesmo após anos de relação, de sofrimentos mútuos e outros constrangimentos. Os veteranos Ben Gazarra (Dogville) e Gena Rowlands (Diário de Uma Paixão) conduzem um diálogo ferino, que esconde feridas não cicatrizadas e um carinho que transcende aparências. Muito bonito.

18. 14º Arrondissement

Paris, Te Amo encerra com chave de ouro com a paixão que faltava: a pela própria cidade! Alexander Payne (Sideways, As Confissões de Schmidt) mostra uma turista norte-americana narrando seus passeios solitários pela capital francesa. É triste e comovente, tocante e melancólico, mas ainda assim muito bem-humorado e sensível. O roteiro é genial, e a interpretação de Margo Martindale (Menina de Ouro) impressiona pela simplicidade. Fantástico!

Apesar de propositalmente fragmentado, como uma colcha de retalhos construída em momentos, intenções e situações específicas e distintas entre si, Paris, Te Amo comprova que a multiplicidade desta criação coletiva consegue ser superior à soma de suas partes separadas. Uma visão global de uma das cidades mais lindas do mundo, que tem o mérito de fugir das obviedades - não vá esperando um passeio turístico pelas ruas e pontos turísticos parisienses - apostando em sentimentos universais e facilmente identificáveis. Simplesmente genial!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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