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Sinopse

O bando de criminosos com o “quociente de inteligência mais alto que já existiu” volta a se juntar. O motivo: uma redução de pena em troca de ajuda para vencer a batalha contra as drogas sintéticas.

Crítica

O sucesso local de público da comédia italiana Paro Quando Quero (2014) fez com que seu roteirista e diretor, Sydney Sibilia, resolvesse dar continuidade – por mais que o original se sustentasse como um produto individual, sem aberturas mais evidentes para uma sequência - às aventuras do grupo de acadêmicos desempregados que adentra o universo do crime através da produção de drogas sintéticas. Buscando replicar o êxito de sua estreia na direção de longas, Sibilia conta em Paro Quando Quero: Masterclass com o retorno de todo o numeroso elenco principal do exemplar anterior, bem como com a manutenção de, basicamente, todos os seus elementos narrativos e de identidade visual: a montagem dinâmica, os diálogos acelerados, a fotografia de filtros fluorescentes e cores ultra saturadas, o tom farsesco, paródico etc.

A estrutura narrativa também se repete, com a trama tendo início em um ponto futuro e recuando na linha temporal para expor os eventos ocorridos nesse intervalo. Assim, na abertura, vemos o químico Pietro Zinni (Edoardo Leo), líder da erudita gangue de traficantes, na prisão, recebendo a visita da esposa, Giulia (Valeria Solarino), e do filho recém-nascido. Após discutirem sobre a custódia da criança, o prisioneiro volta à sua cela, onde confronta uma misteriosa figura. Os créditos surgem interrompendo o embate e levando à reconstituição de uma sequência-chave do primeiro filme, em que Alberto (Stefano Fresi), braço direito de Zinni, viciado nas drogas produzidas pelo próprio, sofre um acidente automobilístico que leva ao desmantelamento do esquema do grupo. Passa-se, então, ao julgamento, quando Zinni assume a culpa em troca da liberdade dos amigos e Sibilia introduz a primeira nova personagem, a policial Paola Coletti (Greta Scarano).

Inspetora da divisão de narcóticos, ela propõe um acordo ao químico: que ele reúna seus companheiros e, infiltrando-se no mundo do tráfico, descubra as fórmulas de trinta substâncias/drogas ainda não catalogadas pelo Ministério da Saúde. Em troca, todos terão seus históricos criminais apagados e Zinni sua pena anulada. Seguindo a cartilha hollywoodiana das continuações, Sibilia aposta no aumento do escopo da ação, do absurdo das situações e do número de personagens. Nessa busca pela grandiosidade, porém, a característica diferencial da obra original se apequena: o olhar irônico e crítico sobre a crise financeira europeia e sobre a falência das instituições acadêmicas. Pois, apesar dos letrados protagonistas seguirem impossibilitados de exercer funções ligadas às suas formações, aderindo ao crime para sobreviver, o debate surge de maneira muito mais discreta.

Outra qualidade enfraquecida é a dinâmica do grupo, assim como a exploração das habilidades particulares de cada integrante, já que o foco sobre Zinni e seus conflitos – o filho prestes a nascer, o envolvimento da esposa com outro homem, o cotidiano na prisão – domina o longa. Edoardo Leo segura com bom timing cômico o personagem verborrágico e neurótico, contudo, com seu protagonismo mais latente, Sibilia deixa pouco espaço para que os outros bons atores possam se destacar, especialmente Fresi, como Alberto, cuja questão da recaída ao consumo de drogas não atinge o potencial esperado – ainda que ele protagonize uma sequência alucinógena, em animação, esteticamente atraente. O tempo dedicado ao núcleo policial, com choques entre Coletti e seu superior, por sua vez, serve apenas a uma funcionalidade burocrática, sendo praticamente desprovido de humor.

A adesão de novos membros à quadrilha também não obtém o efeito esperado, embora as cenas do recrutamento dos mesmos, todas situadas fora de Roma, sejam divertidas: um anatomista que vive na Tailândia e se transforma no “homem de ação” do grupo, um perito em nanotecnologia que ganha a vida vendendo armas para milícias de países de terceiro mundo e passa a fornecer suas invenções – compondo uma versão do agente Q dos filmes de James Bond – e um advogado especialista em direito canônico, que surge numa ótima cena, no Vaticano, defendendo uma ativista ucraniana da acusação de atentado ao pudor. Todos, contudo, acabam relegados a intervenções esporádicas ao longo da projeção. Sibilia ainda peca no desenvolvimento da missão central, já que a descoberta das substâncias se dá de modo apressado, com extrema facilidade, sem a criação do senso de ameaça.

Apenas a procura pela droga final, o Sopox, ganha alguma ênfase, desencadeando as principais sequências de ação, como a perseguição em meio aos monumentos históricos da Vila Adriana ou a tentativa de interceptação da carga de um trem em movimento, com os personagens pilotando veículos nazistas – espelhando a ideia do filme anterior em que o personagem do arqueólogo trazia armas da era napoleônica para um assalto. Sibilia conduz tais cenas com competência, mesmo que não as torne particularmente memoráveis, e mantém o ritmo sem que se perca o interesse, ao menos até se aproximar do desfecho, que acaba sendo totalmente anticlimático e inconclusivo, deixando a trama aberta para um longa de encerramento da trilogia, filmado paralelamente a este (há, inclusive, a inserção de “cenas do próximo capítulo”, que deixa a impressão de que algo ainda mais extravagante e grandiloquente está por vir). Ao assumir essa função de episódio de transição, servindo às exigências mercadológicas, Paro Quando Quero: Masterclass vê o frescor do original se esvair, tendo seu contexto sociopolítico amenizado e, mesmo que apresente momentos genuínos de entretenimento, no geral, o sentimento predominante é o de frustração.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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