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Sinopse
Parthenope: Os Amores de Nápoles se passa na Itália, onde uma mulher busca o amor em suas inúmeras formas, algumas positivas, algumas destrutivas e algumas mantidas em segredo. Ela é a jornada épica de uma comunidade inteira, refletindo sobre como o tempo molda os destinos. Fantasia.
Crítica
Parthenope (Celeste Dalla Porta), a protagonista do novo filme de Paolo Sorrentino, é retratada como uma miragem que transita por cenários ora suntuosos, ora decadentes. Seu nascimento é representado quase como uma epifania divina, vide o parto nas águas cristalinas que banham o litoral diante do cenário de fundo exuberante. Não é de hoje que a câmera do cineasta italiano busca de maneira obcecada a beleza, sempre tentando extrair poesia mesmo dos lugares e das situações em que a feiura parece predominante. Ambicioso, ele personifica a sua amada cidade de Nápoles na menina criada no seio da família financeiramente bem-sucedida – marcada por conexões pouco exploradas (mas bem sugeridas) com tipos bonachões da política. Parthenope é batizada com o nome da sereia que, no mito de Odisseu, comete suicídio ao não conseguir encantar o herói – o nome Nápoles é em homenagem a essa figura mitológica. Parthenope: Os Amores de Nápoles é mais um trabalho no qual Sorrentino deseja ir além do que os olhos veem. Nele, a principal tarefa é transformar em termos cinematográficos (sons, imagens, etc.) coisas intangíveis, tais como o amor, a saudade, a tristeza, o erotismo e o assombro. Dentro disso, a protagonista é um dínamo encarregado de motivar a história, a materialização do encanto e do desejo atravessando os universos decadentes como se tentasse comprovar que neles há beleza.
Parthenope: Os Amores de Nápoles é mais uma daquelas experiências grandiloquentes de Paolo Sorrentino marcadas por cenários exuberantes e devaneios quebrando a sisudez da realidade. Como no começo, quando os pais de Parthenope ganham uma carruagem francesa rapidamente transformada num dos refúgios favoritos da menina e de seu irmão. Aliás, a relação entre esses manos ganha contornos incestuosos assim que eles se tornam adolescentes. Ávidos por explorar tudo sensorialmente, à base de toque, sabores e cheiros, eles se percorrem entre o pecado e a virtude. Sorrentino não permite que essa situação ganhe ares de tabu, que o carinho entre os irmãos vire combustível para discutir proibições e interdições morais. O mais importante nessa dinâmica fraterna é apresentar a natureza irrefreável de uma conexão amorosa que passa necessariamente pelo corpo, por aquilo que o desejo provoca simultaneamente em ambos. Pensando assim, Parthenope é a sereia enfeitiçando naturalmente os heróis falhos que passam por seu caminho, incluindo aí o irmão assombrado por uma depressão profunda e o amigo filho da empregada que cheira seus biquinis furtivamente para tentar possuir algo dela. Por sua vez, Raimondo (Daniele Rienzo), o irmão melancólico, é uma espécie de Odisseu buscando voltar a um lar do qual nunca saiu, alguém que sucumbe à tristeza por não ter o seu porto seguro ideal.
Paolo Sorrentino pode desagradar a fatia do público menos naturalmente disposta a embarcar em jornadas cheias de epifanias e simbologias, aqui uma sucessão de encontros que a magnética Parthenope tem com homens e mulheres decadentes aos quais naturalmente encanta. Filmada como uma prova da bondade dos deuses, a protagonista de Parthenope: Os Amores de Nápoles é interpretada como muita intensidade e segurança por Celeste Dalla Porta. A jovem atriz é o principal destaque de um elenco que conta ainda com os experientes (e excelentes) Gary Oldman e Silvio Orlando. A intérprete não apenas empresta o corpo à ideia poética de uma personagem proveniente das mitologias, mas também sobressai pela capacidade de representar estados emocionais complexos, tais como encantamento, consternação e certa dificuldade de vivenciar situações dramáticas como o período de luto. Sua Parthenope não é simplesmente o raio de luz capaz de atravessar as trevas de uma Nápoles metade arruinada, metade orgulhosa de sua rica e ufanista história. Ela é parte de uma geleia social obscura, enriquecida pelos aromas e gostos de amores platônicos, frustrações, desejos inconfessos, atitudes intempestivas e encantamento. A protagonista não é desumanizada para se encaixar nessa posição de símbolo transcendente, pois são preservados os sentimentos, erros e acertos da aprendiz. Ela é a juventude reformadora.
O mais interessante de Parthenope é a sua procura interminável por algo. O quê? Talvez nem ela própria saiba ao certo. Não à toa, a mulher se interessa por pessoas mais velhas com contornos decadentes que assim contrastam violentamente com suas radiantes vivacidade e beleza. Ela atrai olhares, se torna o centro das atenções, mas se dedica de corpo e alma àqueles que não estendem um tapete vermelho à sua passagem. Como diante do escritor deprimido cambaleante por Capri, frente o professor aparentemente imune a seus encantos irresistíveis, na companhia da atriz experiente que esconde o rosto desfigurado pelo “cirurgião plástico brasileiro” ou ainda do bispo impetuoso que a seduz justamente por se mostrar corrupto. Parthenope: Os Amores de Nápoles é um daqueles filmes que solicita certa dose de entrega do espectador, sobretudo por conta do ritmo propositalmente lento e dos personagens indefinidos entre o bem e o mal. Contrariando uma das péssimas tendências do cinema atual, a de possuir um olhar moralista sobre pessoas e situações, Sorrentino continua na missão autoral de expressar de modo muito particular e íntimo o seu grande amor por Nápoles. Para isso, ele parte da miragem em forma de prima-dona que mostra a poesia residente até mesmo onde apenas parece haver declínio e dor. E que linda a cena final, a da experiente sereia se deparando com o falso navio de Partenopeis.
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