Crítica
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Sinopse
Uma dançarina de 60 anos que trabalha num cabaré da fronteira franco-alemã vê sua clientela minguando. No entanto, a situação dela muda quando um antigo cliente regular a pede em casamento.
Crítica
Angélique Litzenburger trabalhou boa parte da vida num cabaré. Já na casa dos 60 anos, não consegue a mesma clientela de antes, porque os homens preferem as mais jovens. Após uma noite de bebedeira, ela visita Michel (Joseph Bour), um dos últimos que ainda paga para vê-la dançar. Inesperadamente, recebe dele um pedido de casamento. A câmera, colada na expressão dessa mulher de belos olhos claros ressaltados pela maquiagem exagerada, capta o momento de hesitação e dúvida. Embora sua natureza clame por festas, música alta e álcool abundante, ela decide aceitar a oportunidade de se tornar, finalmente, uma dona de casa, com tudo de bom e ruim que isso traz. Não será fácil. Domar os instintos e as vontades é uma tarefa árdua, mesmo que a nova fase prometa recompensá-la com a tão almejada proximidade dos filhos, de quem sente muita falta. Party Girl é sobre alguém lutando.
Quase todos os atores do filme interpretam a si próprios, inclusive Angélique e seu filho Samuel Theis, ele que também é um dos diretores, junto com Marie Amachoukeli e Claire Burger. A espontaneidade da narrativa surge, em princípio, dessa intimidade com as situações realmente vivenciadas, aspecto fortalecido pela imagem, já que o visual é trabalhado rigorosamente para denotar veracidade, assim aproximando-se da linguagem documental. Contudo, o papel fundamental da câmera é guiar nosso olhar diretamente aos gestos, aos não ditos, aos sinais que exprimem o turbilhão de sentimentos que tomam de assalto os personagens. Angélique se esforça para adequar-se à rotina domesticada, para retribuir o carinho daquele homem que a observa apaixonado e lhe proporciona estar física e afetivamente perto dos filhos. Ela quer, verdadeiramente, mas não consegue.
Se a existência fosse uma operação matemática, ou se estivéssemos no terreno dos filmes convencionais, onde invariavelmente um mais um somam dois, os percalços da protagonista poderiam até se impor como obstáculo, mas não seriam páreo para o conformismo do pacificador final feliz. Em Party Girl, os olhares distantes, os desconfortos que se instauram na mais banal das situações, a dificuldade de reatar velhos laços e perdoar, são convites sutis para entendermos a complexidade do outro. Dessa maneira, o óbvio é descartado pela força da imprevisibilidade. A mulher que tinha tudo para ser feliz na vida nova, pois reconciliada com seus amores e ao lado de um homem claramente devotado a ela, esbarra nas impossibilidades, em algo dificilmente transponível. O filme registra essa angústia com muita propriedade, por um lado mirando as pessoas sem condescendência, por outro evitando julgar aquilo que é, no fim das contas, apenas demasiado humano.
Permanecemos conectados emocionalmente à Angélique e aos demais, mas, sobretudo a ela, muito porque os diretores evitam os lugares-comuns que poderiam se impor numa história como esta. Buscando a naturalidade dos movimentos, das falas e das reações, eles nos inserem organicamente naquele cotidiano de inseguranças, oferecendo carona numa jornada sem garantias de felicidade plena. O clima familiar, e, portanto essencialmente terno, que toma conta de Party Girl não diz respeito apenas à intimidade dos atores com os acontecimentos, mas também à maneira engenhosa com que os fatos são transferidos à tela. Por apresentar painéis humanos sem concessões e eufemismos, essa realização transcende sua aparente pequenez, mostrando o gigantismo dos aspirantes à verdade oculta nos porões da alma.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 10 |
Chico Fireman | 6 |
Bruno Ghetti | 6 |
MÉDIA | 7.3 |
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