Crítica
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Sinopse
Crítica
Para Patti (Danielle Macdonald), o rap é uma maneira efetiva de encarar o cotidiano duro. Não à toa, o começo de Patti Cake$ se dá no sonho, num delírio de grandeza muito distante da penúria da protagonista que precisa se virar em diversos empregos para ajudar no orçamento doméstico. Assim, as letras de suas composições, que dão conta de uma vida repleta de dinheiro e ostentação, contrastam violentamente com a realidade. Morando com a mãe, Barb (Bridget Everett), cabelereira frustrada pelas oportunidades perdidas outrora na carreira de rock star, e a avó, Nana (Cathy Moriarty), bem debilitada pela doença que consome boa parte dos ganhos financeiros da casa, a garota almeja virar uma rapper de sucesso. Por meio da aparência de Patti, mulher branca e corpulenta, o cineasta Geremy Jasper afronta as preconcepções, algo potencializado pela origem meridional asiática do melhor amigo, e também aspirante a rapper, Jheri (Siddharth Dhananjay). Essa insolência é, em si, a mensagem.
Patti é uma personagem absolutamente cativante. Seus anseios de um futuro melhor, a despeito das singularidades do desejo por ela acalentado, são praticamente universais. Patti Cake$ é um filme bastante musical, que aproveita as letras e as batidas para complementar as jornadas dos personagens, não fazendo delas meros adereços narrativos. Todavia, mesmo dizendo respeito à trajetória pedregosa da jovem rumo a algum reconhecimento, a realização de Geremy Jasper é centrada na conturbada relação dela com a mãe. Há constantes movimentos de atração e repulsa, o que torna essa interação ainda mais multifacetada. Num primeiro momento, vemos Patti rechaçando toda e qualquer ligação próxima com sua genitora, de quem normalmente reprova o comportamento. Com o desenvolvimento da trama, porém, as similaridades vão ficando menos esparsas, o que evidencia a real conexão. A cena do karaokê, precedida de uma discussão sobre bebida, é um indício da força desse elo.
Patti Cake$ acompanha sua protagonista em batalhas de rimas, nas quais ela coloca para fora toda a sua ira, valendo-se de palavrões e do politicamente incorreto intrínseco ao gênero musical para afirmar sua subjetividade. Nana é uma das figuras mais carismáticas do filme. Entrevada numa cadeira de rodas, ela representa o suporte emocional necessário para que a neta não sucumba diante das demandas diárias, dos obstáculos quase intransponíveis. Antes de tomar as rédeas de sua vida, Patti se desilude até com seu ídolo maior, aprendendo, a duras penas, a acidez de um mundo que não aliviará sua barra. Em meio a esse percurso bem construído, porém, Geremy Jasper incorre em algumas simplificações contraproducentes, especialmente as que dão conta de solucionar com relativa facilidade problemas ou circunstâncias complexas. Prova disso a importante aproximação do casmurro Basterd (Mamoudou Athie) ou o episódio em que Patti conhece o rapper mais famoso da vez.
Voltando à dinâmica familiar, ela realmente é o elemento mais significativo de Patti Cake$. Tocante a forma como a interação entre mãe e filha vai sendo ressignificada a partir da inclusão de novos elementos, como uma compreensão maior acerca de decisões pouco avaliadas anteriormente. Patti, como toda pessoa de sua idade, quer apenas ser aceita, para isso buscando se distanciar dos exemplos negativos que a embaraçam, como a mãe desregrada e constantemente chorosa quanto ao passado de glórias interrompido pela gravidez indesejada. Geremy Jasper mostra a fantasia – vide os delírios de Patti como cantora famosa, ou até quando ela flutua ouvindo seu som favorito – como instância de refúgio. Contudo, o cineasta investe na necessidade de encarar a realidade, de arregaçar as mangas e derrubar concepções para seguir rumo a novos caminhos. Não obstante certa inconsistência do roteiro, ele envolve pela abordagem carinhosa. Difícil não sair da sessão cantarolando PBNJ.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Robledo Milani | 6 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 6 |