Crítica
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Sinopse
A paixão do ator pelo teatro e seu envolvimento com companhias teatrais e a formação e dinâmica dessas “comunidades” muito particulares. A criação do TBC: Teatro Brasileiro de Comédia e reflexões sobre a arte do ator também estão na obra.
Crítica
Paulo Autran: O Senhor dos Palcos é uma homenagem mais que merecida ao ator que dedicou toda uma vida à arte. Com direção de Marco Abujamra, o documentário de 82 minutos compila grandes momentos da carreira de Autran, fazendo um justo destaque à sua trajetória teatral, mas não se esquecendo de suas incursões no cinema – com o referencial Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, devidamente sublinhado – e na televisão, com a inesquecível cena de humor físico da novela Guerra dos Sexos (1983-1984), ao lado de Fernanda Montenegro, uma das depoentes do doc.
Abujamra reúne entrevistas cedidas por Autran nos mais diversos veículos de comunicação, costurando essas falas com momentos do ator no palco, em espetáculos que remontam à sua carreira. Acompanhamos a paixão do artista pelos textos de Shakespeare, sua imersão no ofício e como tentava traduzir, da forma mais clara, seu ofício ao público. Nesses momentos, vemos a inteligência do ator e sua sensibilidade ímpar. Em entrevistas para Antônio Abujamra ou ao programa Roda Viva (ao lado de Tônia Carrero, parceira de palcos e da companhia Tônia-Celi-Autran, montada após sua saída do TBC), o ator expõe seus pensamentos a respeito do teatro, ensinando muito acerca da sua arte. Sobre Terra em Transe, Autran conta uma história curiosa a respeito de como foi convidado por Glauber para participar do longa. O cineasta teria ido três vezes seguidas a uma peça encenada por ele, tentando observá-lo de todos os lados possíveis. Chegava a incomodar os espectadores ao se levantar e chegar perto do palco. No terceiro dia, foi aos bastidores e o convidou para o filme, um dos mais importantes da história do nosso cinema.
Além dos materiais de arquivo, o documentário traz interpretações de textos escritos pelo próprio Autran, em sua autobiografia inédita. Bete Coelho, Gustavo Machado, Bruce Gomlevsky e Patrícia Selonk fazem leituras dramáticas dos textos. É nesse momento em que Abujamra mostra maior arrojo. Fotografados com uma luz belíssima, num palco de teatro (onde mais?), o quarteto interpreta alguns trechos que dão um maior vislumbre sobre quem era Paulo Autran, o que pensava e o que queria dividir com seus leitores.
Fechando o pacote, pessoas que conviveram com o ator, como sua viúva Karin Rodrigues, os diretores Mauro Farias, Paulo de Moraes, Ulysses Cruz e Eduardo Tolentino, o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa e a atriz Fernanda Montenegro falam da importância do retratado para o mundo das artes. Tolentino e Zé Celso admitem rusgas com Autran, algo interessante de ser falado num projeto que, como de praxe, apenas tece elogios ao biografado. O primeiro coloca na conta sua imaturidade à época. O segundo, não chega a ser tão diplomático, mas pondera que qualquer coisa do passado ficou para trás, com os dois fazendo as pazes há tempos. Um dos momentos mais emocionantes é deixado para o final. Fernanda Montenegro lê uma carta que recebeu de Autran após ela ter enviado fotos da novela para ele, enquanto estava internado no hospital, já no final da vida. Abujamra deixa a câmera rodando, focando sempre na atriz, enquanto ela lê aquela correspondência. Logo depois, Montenegro também divide com o espectador a resposta escrita para seu companheiro de palco. São pouco mais de dez minutos em que essa homenagem tão especial toma conta do documentário.
Claro que, com apenas 82 minutos de duração, muita coisa ficou de fora. Ainda mais quando estamos falando de Paulo Autran, ator que atuou em mais de 90 espetáculos, tendo uma longeva carreira, trabalhando até perto de sua morte, em 2007, aos 85 anos. Paulo Autran: O Senhor dos Palcos serve como uma interessante porta de entrada para o público conhecer o trabalho desse inesquecível ator. Exibido de forma especial no Festival de Cinema de Gramado, em 2017, no mesmo evento em que Autran recebeu homenagem póstuma, o documentário tem produção do canal à cabo Curta, que exibe o longa-metragem em sua programação.
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