Crítica
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Sinopse
Um yeti, criatura conhecida como o Abominável Homem das Neves, ou Pé Grande, está discordando do que todos os seus semelhantes acreditam. Ele tem certeza que os ‘seres humanos’, criaturas míticas que para eles, até então, não passavam de um conto para crianças, realmente existem. Mesmo que todos da sua espécie neguem, ele não irá desistir tão fácil para provar sua teoria.
Crítica
“Maior do que o medo, apenas a curiosidade”. Essa frase, dita quase que a esmo em meio a uma das tantas canções de Pé Pequeno, resume com perfeição o espírito do filme dos diretores Karey Kirkpatrick e Jason Reisig. Afinal, ainda que sua trama não seja necessariamente original – ao menos no sentido de apresentar ao público algo novo e nunca visto antes – ela propõe uma interessante inversão de ponto de vista, e apenas por isso já justifica um olhar mais atento. Se o ser humano sempre conjurou histórias, lendas e fantasias a respeito de seres mitológicos, monstruosos e assustadores, e entre estes o Abominável Homem das Neves – também conhecido como Yeti ou, ainda, simplesmente como Pé Grande – possui um lugar especial, caso este de fato exista, o que ele e seus iguais pensariam a respeito de nós, homens e mulheres?
É a partir desta questão que Pé Pequeno se desenvolve. Migo (voz de Channing Tatum) vive em um vilarejo no alto das montanhas, uma região cercada por nuvens. Diz a tradição impressa nas pedras que regem as normas de conduta do seu povo que abaixo do nevoeiro há apenas dois mamutes gigantes, que sustentam os montes em suas costas. E há outras regras malucas, como a necessidade de todo dia, na mesma hora, eles serem obrigados a bater em um gongo para acordarem o ‘caracol mágico’, que irá se posicionar no céu e iluminar a todos com sua luz (nada mais do que o sol, portanto). Mas se a grande maioria aceita o que lhes é dito sem se perguntar duas vezes, alguns poucos acham tudo aquilo muito estranho. Jovens, principalmente.
São esses que darão ouvidos a Migo quando ele retorna de uma jornada particular afirmando ter encontrado um ‘Pé Pequeno’. Ou seja, da mesma forma que os homens pensam que os Pés Grandes são assustadores, estes também possuem seus contos de arrepiar a respeito dessas criaturas minúsculas, que parecem inofensivas, mas que podem causar grandes danos. E é aqui que Pé Pequeno revela seu valor. Os espectadores – humanos, portanto – são convidados a se colocar no lugar do outro, assumindo o olhar do gigante peludo que interesse algum tem em provocar sustos, preferindo, no lugar, fazer amigos. Mas como a raça humana tem a tendência de destruir tudo aquilo que não compreende, cria-se um embate. As leis dos Yetis não são, portanto, tão descabidas. Elas existem por um propósito: defender a existência dos seus frente aos inimigos que vivem lá embaixo.
Kirkpatrick (Os Sem-Floresta, 2006) e Reisig (que trabalhou como animador em sucessos como Shrek, 2001, e Kung Fu Panda, 2008) se uniram aos talentos dos roteiristas John Requa e Glenn Ficarra (diretores de Amor a Toda Prova, 2011, e da série This is Us, 2016-2018) e dos produtores Phil Lord e Christopher Miller (a mesma dupla de Uma Aventura Lego, 2014) para adaptarem o livro de Sergio Pablos (também autor de Meu Malvado Favorito, 2010). Como se percebe, os créditos falam por si. A combinação é efetiva, e resulta em um trabalho repleto de calor – por mais gélidos que sejam seus cenários – e emoção. Eles são felizes também em evitar a construção da figura fácil de um vilão, sem falar no carisma que dotam seus personagens: Migo tem tudo para ser o melhor ‘amigo’ de todo mundo, assim como Percy (voz de James Corden), o homem com quem o contato é estabelecido, é um tipo não desprovido de falhas, mas capaz de rever seus conceitos e se abrir ao novo assim que esse se mostra necessário. Uma qualidade cada vez mais rara e que merece ser valorizada.
Dono de um visual inebriante – a vila onde os Yetis moram é tão repleta de detalhes que é possível imaginar o parque temático que poderá nascer a partir deste longa – e de um enredo que, assim como não faz uso de reviravoltas inesperadas – e vazias – ao mesmo tempo propõe um desenrolar progressivo dos seus elementos, espalhando aqui e ali as pistas daquilo por vir nos instantes seguintes. Pé Pequeno é para crianças – e as músicas, por mais que algumas possam cansar, possuem função relevante – e também para os mais crescidos – basta conferir a nova versão de Under Pressure, do Queen, ou o momento rap em que a verdade é revelada – que irão aproveitar com um prazer ainda maior as dicas e referências empregadas. E ainda que sua estrutura narrativa seja similar a de títulos como Monstros S.A. (2001) e Hotel Transilvânia (2012), possui como bônus um grande potencial a ser melhor desenvolvido no futuro (uma continuação é só uma questão de data). E quando se acerta as miras a que se destina, não há medo que persista – apenas a curiosidade pelos próximos capítulos.
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