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Crítica


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Sinopse

O soldado Eriksson se coloca contra seu superior imediato, um homem carismático e poderoso,  diante de um crime absurdo.

Crítica

O cinema americano, mais do que qualquer outro, toda vez que vai à guerra é, invariavelmente, para enaltecer os esforços patrióticos de seus soldados e corroborar a influência da presença norte-americana em lugares perdidos pelo mundo. O cineasta Brian De Palma, porém, não é mais um qualquer igual a tantos outros. Ainda que sua carreira seja repleta de (alguns) altos notáveis e (muitos) baixos problemáticos, uma coisa sempre foi constante em seus trabalhos: seu forte viés político. E foi essa mesma postura que, provavelmente, o levou a se interessar tanto pela trama de Pecados de Guerra, longa que levou anos para ser realizado e que, ainda que tenha seus problemas, possui o mérito de apresentar uma visão crítica sobre um lado muito pouco explorado a respeito dos oficiais enviados pelos Estados Unidos nas chamadas missões de paz – o que, convenhamos, nem sempre é o que acontece.

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Em plena Guerra do Vietnã, Eriksson (Michael J. Fox) se vê em apuros ao ficar preso da cintura para baixo em um túnel subterrâneo construído pelos vietcongues inimigos. Quem consegue salvá-lo no último instante é o sargento Meserve (Sean Penn). Colocados em uma mesma missão, aos dois se juntarão ainda o capitão Clark (Don Harvey, voltando a atuar sob o comando do diretor após Os Intocáveis, 1987) e os soldados Hatcher (John C. Reilly, estreando no cinema) e Diaz (John Leguizamo). Frustrados pela morte recente de um colega de armas em um ataque inesperado e pela impossibilidade de descarregarem suas mágoas no prostíbulo da vila mais próxima, Meserve e Clark decidem que irão descontar essa raiva na primeira aldeia que encontrarem pelo caminho. Hatcher é o bobo alegre que topa todas, enquanto que tudo que Diaz quer é não se sentir excluído. Já Eriksson prefere acreditar que o que ouviu dos amigos é não mais do que uma bravata exagerada.

Assim eles seguem, e de uma hora para outra o mundo dos cinco irá se transformar. Isso porque, após devastarem um vilarejo que não oferecia a menor resistência, os dois superiores decidem levar uma das garotas locais como prisioneira. Para eles, isso nada mais é do que uma revanche merecida. Para o único que discorda da prática, o que se sucede é nada menos do que um sequestro. Ainda que não tenha força para impedi-los, deixará clara a sua posição contrária. E assim o frágil laço que os une começa a se despedaçar. Eriksson possui uma dívida de gratidão com Meserve, mas nem por isso permanecerá cego diante às barbaridades do companheiro. Esse, tomado pela fúria e pela excitação, crê que o estupro coletivo que ele e seus subordinados irão promover na menina não é mais nem menos selvagem do que tudo a que estão sendo impostos desde que chegaram naquele país do outro lado do mundo. Em um mundo de absurdos, chegou a vez deles receberem sua parte. Não há mais humanidade, apenas animais lutando por seus instintos.

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Um dos filmes mais concisos da carreira de Brian De Palma, Pecados de Guerra é baseado em uma notícia de jornal publicada no final dos anos 1960 a partir de um episódio verídico registrado pelo Exército Militar dos Estados Unidos e que acabou indo parar nos tribunais. Michael J. Fox, longe do ambiente fantástico da série De Volta Para o Futuro, assume com bastante consistência um personagem de fortes convicções, atuando quase como um alter ego do realizador. Não seria injusto afirmar que aqui temos sua melhor atuação em tela grande, infelizmente eclipsada em grande parte pela presença enérgica e vulcânica de Sean Penn, como um diamante bruto ainda sendo dilapidado até se tornar o excelente ator como hoje é reconhecido. É nos embates entre os dois que o filme revela seus melhores momentos, num misto de angústia, impotência e explosões à beira de um abismo. Abrindo mão de um maniqueísmo até óbvio, o longa se mantém vivo, quase trinta anos após seu lançamento, tanto como denúncia quanto como manifesto pacifista e social.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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