Crítica
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Crítica
Precisamos falar sobre Lindsay Lohan. Não, na verdade melhor deixar pra lá. Afinal, tanto se comentou sobre a atriz nas últimas duas ou três décadas que é bem provável que ninguém mais esteja interessado no que a ruivinha que fez sucesso no final dos anos 1990 e início dos 2000 tem a dizer – ou a mostrar – tanto depois. Ou quase isso. Afinal, a Netflix tem se mostrado disposta a nadar contra a corrente em alguns (muito bem estudados, diga-se de passagem) casos. Não se trata de uma ação beneficente, obviamente. O que se tem é uma busca por um nicho, um espectador nostálgico que não se importa com o quão ruim certo filme ou série possa ser, desde que estrelado por seu astro ou estrela do coração. Se esse comportamento parece não ter espaço entre a atual geração, há saudosos dessa ideia capazes de tudo por um ou outro instante de melancólica felicidade. Mais ou menos o que oferece esse Pedido Irlandês, segundo projeto da (ex?) garota-problema com a plataforma de streaming. Um título que nem com a ajuda de São Patrício ou de algum duende endiabrado conseguiria encontrar salvação.
Após ter despontado como musa teen da Disney e aparecido em sucessos moderados como Operação Cupido (1998) e Sexta-Feira Muito Louca (2003), Lohan acreditou que o mundo estava aos seus pés, e, portanto, nenhum limite a ela poderia ser imposto. Vã ilusão. Rapidamente vieram as drogas, confusões, a fama de ser “difícil de lidar” nos sets de filmagens e até períodos detrás das grades. As ofertas de trabalho foram minguando, e somente uma passagem pelo sofá da Oprah Winfrey (aliada às muitas lágrimas derramadas na ocasião) foram capazes de reverter esta maré. Durante esse período somou indicações às Framboesas de Ouro (além de três vitórias, duas como Pior Atriz pelas irmãs gêmeas que interpretava no suspense Eu Sei Quem Me Matou, 2007), e após participações esporádicas em seriados que raramente passavam da primeira temporada (quem aí lembra de Love Advent, 2014? Ou de Dá Licença, Saúde, 2018?), viu sua sorte mudar ao ser chamada pela gigante do conteúdo online para voltar como principal nome de uma comédia romântica natalina (bem ao estilo das “clássicas” da Hallmark, aliás): Uma Quedinha de Natal (2022).
Pois é a mesma Janeen Damian, diretora deste citado recomeço, que a colocou novamente sob os holofotes em Pedido Irlandês. Damian possui em sua filmografia somente estes dois longas, mas é responsável pelo roteiro de obras como Marley & Eu 2: Filhote Encrenqueiro (2011) e Christmas in Transylvania (2024), que parecem ser mais do que suficientes para que se possa ter uma noção do seu estilo de trabalho. O que mais chama atenção nesta investida recente é, primeiro, a despeito do título fazer referência a uma região bastante específica, há muito pouco em cena que caracterize a localização geográfica (além de uma inserção fantasiosa que poderia ser facilmente substituída por qualquer outra similar). E, segundo, tem-se o fato deste ser um filme dirigido, protagonizado e escrito por mulheres (Kirsten Hansen, de Natal no Riacho, 2018, e Expresso de Natal, 2020, é a roteirista), mas cuja trama resume-se em apenas uma questão: com qual homem a personagem principal conseguirá ser feliz? Afinal, ninguém pode se realizar sozinho, certo (contém ironia)?
Pois este é o grande dilema de Maddie (Lohan não é má atriz, e essa é sua sorte, afinal, a despeito de todos os problemas que gerou no passado, segue capaz de conduzir uma história do início ao fim): decidir se seu coração está com o seu príncipe encantado, o escritor Paul Kennedy (Alexander Vlahos, de Sanditon, 2022-2023), ou com o rebelde fotógrafo James Thomas (Ed Speleers, de Downton Abbey, 2012-2014). Sua personagem é vista com frequência nesse tipo de produção: a bobinha insegura que é explorada justamente por aquele por quem se sente atraída, ao passo que aquele que de fato lhe valoriza e a entende está o tempo todo diante do seu nariz, mas só será por ela percebido já quase ao término dos acontecimentos. O toque “mágico”, por assim dizer, inserido à fórceps num esforço desesperado para fazer desse conjunto algo minimamente diferentes dos inúmeros exatamente iguais que existem por aí aos borbotões, vem de uma confissão feita em uma “cadeira dos pedidos” (!) que acaba sendo atendida por uma senhora de lenço ao redor dos cabelos (tradicional e de boa família, pelo jeito) e com espírito encrenqueiro.
O que acontece a seguir não exige nenhum gênio da lâmpada para se adivinhar: Maddie irá receber tudo o que sonhou apenas para se dar conta de que aquilo pelo qual sempre ansiou não é bem o que queria. E não há problema em fórmulas escapistas como estas – ao menos não quando as personagens são desprovidas de atrativos ou interesses. Mas este não é o caso da protagonista. Desenhada como uma escritora competente que se submeteu a uma função aquém de suas capacidades para conseguir pagar suas contas, ela não é nem de longe a mocinha indefesa que precisa ser salva – ou que necessita de um varão elegante aos seus pés. Entre dois galãs tão belos quanto vazios (Speleers é um pouco mais versátil, mas não muita coisa) e cenários que pouco valorizam os arredores das filmagens – que foram, de fato, realizadas na Irlanda – Lindsay Lohan se vê obrigada a carregar praticamente sozinha um conto de fadas antiquado e um tanto misógino, que talvez fizesse sentido nos anos 1930 ou 1940 (quase um século atrás, portanto), mas desprovido de sentido nos dias de hoje. Melhor fez Jane Seymour (musa do romântico Em Algum Lugar do Passado, 1980) que nem saiu de casa e gravou todas as suas cenas em estúdio. De um filme desses, esse é o melhor conselho: manter distância.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 2 |
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