Crítica
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Sinopse
Mariano, depois de quase uma década desaparecido, retorna à sua cidade natal com o objetivo de encontrar o filho que jamais conhecera, Pedro, de oito anos. Ao saber da chegada do pai na cidade, o menino acaba escondido na casa de Mariano e passa a viver sob a cama dele.
Crítica
O cineasta gaúcho Paulo Pons começa Pedro sob a Cama priorizando o desenho de personalidades bem definidas. Mariano (Fernando Alves Pinto) é um empresário em conflito com sua cunhada, Flavia (Fernanda Thuran), como atesta a cena da censura ferrenha às roupas com que ela vai visita-lo no trabalho. Meio bronco, esse sujeito, porém, demonstra carinho ao preparar a festa de aniversário da esposa interpretada por Suzana Castelo. Já nessa dinâmica inicial fica evidente a inclinação por valer-se de condutas bastante marcadas, sem espaços generosos para sutilezas efetivas. Uma discussão durante a comemoração propicia a tragédia que leva o filme oito anos à frente, quando tudo muda drasticamente, inclusive os comportamentos. Depois da ausência, transcorrido todo esse período, o protagonista volta à pequena Pedro Osório, cidade do interior do Rio Grande do Sul, para tentar recuperar o tempo perdido e reconquistar o amor do enteado adolescente e do filho por ele desconhecido.
A ideia é mostrar um homem em busca de redenção. Contudo, o realizador desloca o foco ao caçula Pedro (Gabriel Furtado), então criado pela tia que mudou radicalmente de atitude por conta da morte estúpida da irmã. O menino não fala, comunicando-se apenas por meio de gestos e, principalmente, de palavras escritas no celular. Pedro sob a Cama não consegue disfarçar a aura de melodrama ralo, com personagens encaixados desajeitadamente em contextos representados com frouxidão patente. Incapacitado de encarar o pai, Pedro se esconde embaixo da cama dele, sorrateiramente, chegando a providenciar o mínimo de conforto para passar noites inteiras por ali. Tal situação, que poderia até mesmo incitar uma chave fabular, deflagra a necessidade de uma grande dose de suspensão de descrença, pois há uma série de situações, pequenas evidências de inverossimilhança, às quais precisamos fazer vista grossa. Para começo de conversa, o som do celular, próximo, passa despercebido.
Outro exemplo das muitas fragilidades conceituais e de execução de Pedro sob a Cama diz respeito à maneira como o cineasta articula a comunicação com o garoto que prescinde da voz, valendo-se da escrita para fazer-se entender. Ao invés dos demais personagens lerem o que ele registra no celular, verbalizando logo em seguida unicamente as respostas, Pons prefere traçar um caminho mais didático à compreensão, com as sentenças e/ou perguntas de Pedro ganhando a voz dos interlocutores que, somente depois disso, oferecem a réplica. As coisas ficam ainda mais pálidas a partir do instante em que se instaura um conflito pretensamente grave entre Mariano e a sogra, vivida por Betty Faria. A cena dele sendo levado por policiais a mando dela dá uma ideia do tom predominante de artificialidade, culpa de uma encenação inconsistente que sequer oferece ao espectador a possibilidade de uma progressão dramática satisfatória, que fundamente nos traumas os silêncios supostamente exasperantes.
Em determinados momentos, Pedro sob a Cama parece completamente perdido em meio às próprias aspirações. A resistência do enteado, Mani (Konstantinos Sarris), à reaproximação é quebrada com uma facilidade difícil de acreditar, embora Paulo Pons tente revestir tudo de uma aparente incorrigibilidade. A dinâmica da criança chegando-se do pai à sua maneira perde força assim que a missão de reconquistar a confiança do primogênito ganha o primeiro plano. São necessárias boas doses de força de vontade para embarcar de cabeça na trama, sem pensar no itinerário como fruto de uma sucessão de caminhos facilitadores. Certos instantes, como uma revelação bombástica que pode ocasionar rompimentos definitivos, atestam a pouca criatividade visual do longa-metragem, no mais das vezes, apoiado demasiadamente nas atuações – nem todas boas –, em situações gratuitas e tortuosas, como a aparição de Letícia Sabatella, uma participação afetiva ótima, porém sem ressonâncias que a justifiquem.
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