Crítica
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Sinopse
Depois de desmaiar durante um baile de ex-alunos de uma escola, Peggy Sue percebe que voltou no tempo.
Crítica
Se você soubesse antes o que sabe agora, faria alguma coisa diferente? Ou erraria tudo, exatamente igual? Em Peggy Sue: Seu Passado a Espera (1986), a personagem título tem chance de mudar os rumos de sua vida quando, inexplicavelmente, volta 25 anos no tempo, para o período em que ainda estava no colégio. Com direção de Francis Ford Coppola e roteiro de Jerry Leichtling e Arlene Sarner, o longa-metragem estrelado por Kathleen Turner e Nicolas Cage faz um belo trabalho ao conseguir fazer com que o espectador se coloque no lugar da protagonista e embarque naquela jornada de autoconhecimento e nostalgia.
O filme começa em 1985, durante um baile comemorando os 25 anos de formatura da turma de Peggy Sue (Turner). Ela hesita muito em aparecer nesta festa, já que está se separando do seu namorado de colégio – e agora marido – Charlie (Cage). Peggy sabe que todos a questionarão sobre ele, fato que a incomoda. Após reencontrar vários de seus velhos amigos, Peggy é chamada ao palco para receber a coroa de rainha do baile. Charlie acabou de chegar à festa e toda aquela comoção ao redor dela a faz desmaiar. Quando acorda, Peggy está na enfermaria do colégio, em 1960, despertando após ter doado sangue. Seus amigos que ela havia acabado de encontrar no baile estão jovens, assim como ela. Primeiramente imaginando estar morta, Peggy Sue logo percebe que, de alguma forma, voltou no tempo. Se emociona por reencontrar os pais mais jovens e poder falar com seus avós, já falecidos. Mas o que realmente a coloca em cheque é seu namoro com Charlie. Ele a traiu no futuro, mas o rapaz que ela encontra em 1960 é muito diferente. Peggy Sue poderia lhe dar outra chance?
A temática viagem no tempo estava em voga naquele período dos anos de 1980. De Volta para o Futuro (1985) havia sido lançado há pouco tempo e feito grande sucesso nos cinemas. Em 1986, mesmo ano da estreia de Peggy Sue, Star Trek IV: A Volta para Casa também contou com o recurso da viagem no tempo para contar sua história. Diferente de seus parceiros, Peggy Sue não tem nada de ficção científica. É um drama, com pitadas cômicas, em que o que menos importa é como ela conseguiu voltar no tempo – se é que isso realmente aconteceu, visto que o filme deixa essa possibilidade em aberto. Mais importante para os realizadores do longa-metragem é discutir o que alguém como Peggy faria caso tivesse a chance de reverter os erros do passado. E o mais interessante nesta jornada é que, mesmo com esta possibilidade, os nossos passos em falso do passado geralmente são repetidos, porque quando você se depara com a realidade daquele momento, eles podem não parecer erros. Por ser uma história tão humana, Peggy Sue: Seu Passado a Espera ganha muitos pontos.
Alguns destes pontos são perdidos, é verdade, graças a interpretação irritante de Nicolas Cage como o sonhador Charlie. Usando uma voz forçada e expressões faciais mais careteiras do que Jim Carrey (que está no filme, em um pequeno papel), Cage é um dos pontos fracos do filme. Faltou uma mão mais firme do seu tio diretor na hora de comandá-lo. Em compensação, Kathleen Turner tem um desempenho elogiável, mesmo não convencendo como uma garota adolescente. A atriz já tinha mais de 30 quando fez a personagem e, ainda que não passe por uma menina de 17 anos, sua interpretação é emocionante em diversos momentos, por conseguir transmitir felicidade e angústia na medida.
O trabalho de maquiagem da sequência de abertura, para a época, foi bem realizado e a direção de arte é um verdadeiro presente, nos fazendo retornar aos anos 60 no melhor estilo. Os carros reluzentes e as roupas características denotam grande esmero e valor de produção. E, claro, o trabalho de Coppola – ainda que deixe a desejar com alguns atores – se mostra corretíssimo ao caprichar na melancolia misturada a alegria do passado, entendendo qual é a verdadeira força daquela história. É verdade que um dos momentos mais emotivos do filme, o reencontro de Peggy Sue com seu avós, logo é seguido por uma cena descartável, envolvendo uma seita estranha que tenta levar a menina de volta para o futuro. É quase como se quisessem dar algum sentido àquela viagem no tempo, quando muito mais interessante é mantê-la no mistério.
Indicado a 3 prêmios da Academia, Atriz (Turner), Figurino e Fotografia, Peggy Sue: Seu Passado a Espera não recebeu Oscar algum, mas teve mais sorte no prestigiado National Board of Review, de onde Kathleen Turner saiu como Melhor Atriz daquele ano. É um filme agridoce, por vezes divertido, por vezes emocionante, que realmente consegue colocar o espectador naquela situação, envolvendo-se com os personagens de forma cativante.
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