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Sinopse

Músico falido, Dave se voluntaria para acompanhar o sobrinho numa viagem escolar após se interessar por uma professora. Todavia, ela é cortejada por dois outros pretendentes. O que ninguém esperava era um apocalipse zumbi.

Crítica

Desde que foi premiada no Oscar por um dos seus primeiros trabalhos de maior destaque, o drama escravagista 12 Anos de Escravidão (2013), Lupita Nyong’o tem se demonstrado bastante cuidadosa na escolha dos seus projetos. Apareceu como um personagem CGI na mais recente trilogia da saga Star Wars, emprestou sua voz para o milionário Mogli: O Menino Lobo (2016), teve participações de destaque na adaptação de uma história real Rainha de Katwe (2016) e na aventura Pantera Negra (2018), e teve apenas um único desempenho como protagonista, no thriller Nós (2019), que foi suficiente para confirmá-la como uma das melhores da sua geração. E, no meio disso tudo, eis que surge também esse Pequenos Monstros, uma produção australiana independente lançada apenas em streaming na maioria dos países ao redor do mundo – como foi o caso dos EUA e do Brasil. O que a teria motivado a investir em uma proposta tão fora da curva que vinha estabelecendo? Afinal, é um misto de comédia com terror – ou melhor, um legítimo terrir – de alcance bastante reduzido e que deverá agradar somente os fãs mais ardorosos da atriz (ou os mais ferrenhos defensores do subgênero). Este, portanto, parece ser o verdadeiro mistério por aqui.

Audrey, ou Senhorita Caroline, como é chamada por seus alunos, é uma professora de jardim de infância que, durante um passeio com sua turma por um parque, acaba se vendo no meio de um ataque zumbi. Bom, essa é a história do filme escrito e dirigido por Abe Forsythe, e não há muito mais a ser dito a respeito, além do que já pode ser antecipado diante de uma sinopse como essa. No entanto, é bom estar atento, pois há alguns artifícios utilizados pelo realizador que buscam revitalizar esse cenário já tão desgastado, ainda que nem sempre tais empregos sejam bem-sucedidos. Pra começar, ainda que Nyong’o seja o mais conhecido nome do elenco, ela não é, necessariamente, a protagonista. Este posto cabe ao novato – porém, muito amigo do cineasta, tendo aparecido em vários dos seus projetos anteriores – Alexander England, que talvez possa ser lembrado por ter sido um dos tantos coadjuvantes de títulos como Alien: Covenant (2017) e Deuses do Egito (2016).

England aparece como Dave, um músico irresponsável que vive brigando com a namorada, até ser expulso da casa onde os dois moravam juntos. Sem ter para onde ir, acaba indo parar no sofá da irmã, mãe solteira do pequeno Felix – que estuda com a Senhorita Caroline e, portanto, faz-se o elo. Ao invés de Forsythe estabelecer essa conexão de forma objetiva, ele leva quase meia-hora até chegar a esse ponto, perdendo tempo com uma subtrama que nada acrescenta ao produto final, como os desencontros do casal de namorados, o fato dela querer ter filhos e dele ser um irresponsável que foge de compromissos, e finalizando esse desvio cansativo com uma sequência de puro embaraço que inclui a criança fantasiada de Darth Vader, um pedido de casamento escrito numa caixa de pizza e um casal nu transando numa cadeira no meio da sala. O constrangimento, que imaginava-se ter atingido seu clímax tão no início da trama, ainda teria muito o que escalar.

Sim, pois Dave resolve ir com o sobrinho no passeio escolar por estar interessado na professora. Porém, quando ela e as crianças se veem diante de um perigo real (partindo do pressuposto que zumbis sejam uma ameaça verossímil), o rapaz simplesmente desaparece (não literalmente, mas como figura de linguagem), deixando a condução da história nas mãos dela – que segue dona de imenso talento, a despeito do entorno problemático – e de um insuportável Josh Gad, aqui visto como um apresentador de programa infantil que, obviamente, nos bastidores não é nada o que aparenta ser quando as câmeras estão ligadas. Não será surpresa alguma, portanto, imaginar sobre quem o viés moralista do diretor irá recair na hora de fazer a primeira vítima de peso entre os personagens principais.

Como os zumbis surgem não parece ter importância (basta uma placa com os dizeres “serviço secreto dos EUA”, ainda que no meio da Austrália, para que as teorias conspiratórias tenham início) e a repercussão do caso fica limitada aos sobreviventes do parque, há pouco a fazer além de deixar a lógica de lado e tentar aproveitar um pouco da presença de Lupita Nyong’o, que ao menos deve ter aproveitado um momento ou outro de lazer despreocupado em meio a todo esse imbróglio que vai do nada ao lugar algum. Mais bela do que nunca, rápida nos diálogos e eficiente em uma narrativa que a leva do romântico ao engraçado, e do furioso ao selvagem em questão de minutos, ela se mostra a única e solitária razão para evitar esse filme caia no mais rápido e imediato esquecimento. Se ao menos a diversão no lado de cá da telinha fosse tamanha ou igual àquela percebida na ficção, talvez fosse possível apenas ‘shake it off’ e deixar para lá os problemas por todos os lados, tal qual nossa amiga Miley Cyrus (os que assistirem, entenderão).

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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