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Sinopse

Percy Jackson é um jovem que enfrenta problemas na escola, devido ao que acredita ser dislexia e déficit de atenção. Ele foi criado por sua mãe, Sally, e vive com Gabe Ugliano, seu padrasto, que odeia. Após ser atacado em plena excursão escolar, é revelado a Percy que ele é um semideus, ou seja, filho do deus Poseidon com uma humana, e possui poderes. Protegido por Grover Underwood, é levado ao acampamento dos Meio-sangue, onde está em segurança.

Crítica

Desde que teve início o fenômeno Harry Potter, Hollywood tenta desesperadamente encontrar um substituto à altura do bruxinho de Hogwarts. A saga As Crônicas de NárniaEragon (2006) e A Bússola de Ouro (2007) são alguns desses filmes que pegaram carona na febre potteriana para tentar descolar alguns trocados junto aos espectadores. Nenhum deles teve muita relevância, é verdade, com exceção talvez dos jovens de Nárnia, que até já descolaram algumas continuações. Um destes concorrentes a pegar a batuta do mago com a cicatriz é Percy Jackson, protagonista da série literária assinada por Rick Riordan. Para tentar acertar o alvo em cheio, a Fox não se furtou em contratar o cineasta que deu o pontapé inicial da saga de Harry Potter no cinema, Chris Columbus. Se eles tivessem feito o tema de casa corretamente, teriam sabido que o cineasta assinou os dois filmes mais burocráticos da cinessérie. Não é a toa, então, que Percy Jackson e o Ladrão de Raios seja tão quadradão quanto os primeiros filmes do bruxo britânico.

Na trama, Percy Jackson (Logan Lerman) é um garoto que enfrenta problemas em casa e na escola. Sua mãe, Sally (Catherine Keener), é casada com um sujeito desprezível, Gabe (Joe Pantoliano). No colégio, Percy tem dificuldades de aprendizado por causa de sua dislexia. Sua rotina é suportável pela companhia do amigo Grover (Brandon T. Jackson) e dos conselhos do seu professor, o senhor Brunner (Pierce Brosnan). Tudo ia dentro do esperado até que Percy é surpreendido por uma professora que, em um piscar de olhos, se transforma em uma figura alada horrenda, tentando atacá-lo por causa de um “raio roubado”. Nesse dia, o garoto descobre suas reais origens: sua mãe teve um caso de amor com o Deus grego Poseidon (Kevin McKidd) e, como resultado dessa relação, um filho que chamaram de Percy. Em meio a estas revelações, o garoto toma conhecimento de que Grover é seu protetor – um sátiro, ser metade humano, metade bode – e que Zeus (Sean Bean) teve seu raio roubado e agora procura pelo ladrão. E o principal suspeito é Percy. Como se não bastasse só isso, o desaparecimento do raio chama a atenção do deus dos mortos, Hades (Steve Coogan), que rapta Sally em troca do artefato. Agora, Percy terá de treinar junto a outros semideuses para conseguir recuperar sua mãe e resolver toda a encrenca. Para tanto, ele terá a ajuda de Grover e de sua nova amiga, a filha de Atena com um humano, Annabeth (Alexandra Daddario).

Para começar, tudo é muito parecido com Harry Potter – que já era muito parecido com Star Wars (1977) (que bebia da fonte da jornada do herói, recorrente em 9 entre 10 filmes de aventura). Se fôssemos pegar o radical da história, ela seria exatamente a mesma: jovem descobre ter poderes mágicos, entra para uma escola a fim de treinar suas novas habilidades e enfrenta perigos junto a dois amigos. Derivativo o suficiente para você? Claro que, para mudar um pouco o cenário, a mitologia grega foi inclusa na mistura, para tentar dar um tempero diferente à trama. É válido que personagens mitológicos sejam apresentados a uma nova plateia, seja no cinema ou na literatura. Mas o sentimento de déjà vu é inevitável. Percy Jackson e o Ladrão de Raios, no fim das contas, é apenas uma aventura passável, com algumas boas escolhas e, outras, muito questionáveis.

O protagonista, Logan Lerman, por exemplo, tem uma performance cheia de altos e baixos: quando o personagem pede por alguma sagacidade ou algum espírito heróico, o ator consegue convencer. Mas no drama que o leva a entrar na aventura, não existe um pingo de preocupação ou consternação pelo fato de Hades ter acabado de levar sua mãe para sabe-se lá onde. E podem acreditar, culpa disso é da direção de Chris Columbus, que não se interessa em nenhum momento em dar alguma profundidade aos personagens. A ideia é chegar à ação o mais rápido possível. Portanto, coisas "sem importância" como a perda de uma mãe, ou o fato de encarar uma nova realidade desconhecida, são relegadas a segundo plano pelo cineasta.

O elenco de apoio apresenta bons nomes, como Pierce Brosnan (muito à vontade como o tutor centauro de Percy Jackson), Sean Bean, Rosario Dawson e Catherine Keener. A nota de constrangimento fica para Uma Thurman, que liga o mesmo piloto automático de Batman & Robin (1997), e interpreta a Medusa com a mesma desenvoltura com a qual encarnara Hera Venenosa no filme-catástrofe do Homem-Morcego. Os efeitos especiais também não ajudam, é verdade. As serpentes da cabeça da atriz são embaraçosamente mal produzidas. Felizmente, nem todos os efeitos são tão pobres.

O roteiro, assinado por Craig Titley, baseado no romance de Rick Riordan, é bastante previsível, sendo possível adivinhar o vilão da história a milhas de distância. Acredito que o que atrapalhou e muito Percy Jackson e o Ladrão de Raios foi a pressa. Na época, a Warner estava para lançar Fúria de Titãs (2010), trazendo a mitologia grega repaginada com um grande elenco. A Fox, então, resolveu correr para entregar seu filme antes. Tiro no pé. Tivesse mais cuidado com um produto valioso, como uma cinessérie baseada em literatura best seller, talvez pudesse colher frutos mais vistosos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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