Crítica
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Sinopse
Dona de uma vida aparentemente tranquila, uma mulher acaba estressada por conta de seu dia a dia. Cansada, ela parte numa jornada de libertação com duas amigas que passam por problemas semelhantes.
Crítica
O empoderamento feminino é uma questão cada vez mais presente em todas as esferas da sociedade atual, com o cinema assumindo uma função importante na propagação dos debates relacionados a ela. Perfeita é a Mãe! - longa escrito e dirigido pela dupla Jon Lucas e Scott Moore, responsável pela gênese da trilogia Se Beber Não Case e por outras comédias como Eu Queria Ter a Sua Vida (2011) e Finalmente 18 (2013) – tenta adentrar na discussão ao mostrar a trama protagonizada por Amy (Mila Kunis), mulher na casa dos 30 anos que sofre com a pressão de precisar equilibrar seu tempo entre um emprego de meio período, que não lhe oferece o devido reconhecimento, e as inúmeras tarefas que envolvem a criação de seus dois filhos, Jane (Oona Laurence) e Dylan (Emjay Anthony).
Cansada dessas exigências diárias, ela se junta a outras duas mães, Carla (Kathryn Hahn) e Kiki (Kristen Bell), e resolve mudar drasticamente sua rotina, o que inclui lutar contra os padrões inalcançáveis de perfeição estabelecidos pela Associação de Pais e Professores liderada por Gwendolyn (Christina Applegate). Essa premissa permite que os diretores exponham temas como o papel da mulher moderna no ambiente familiar, a igualdade de gêneros ou como as imposições comportamentais são quase sempre multiplicadas apenas para um dos lados, já que num mundo ainda dominado pelo machismo, a criação dos filhos continua sendo vista por muitos como uma obrigação exclusivamente feminina. Infelizmente, apesar das aparentes boas intenções, a exposição desses assuntos complexos acaba sendo bastante superficial.
O tipo de comédia feita por Lucas e Moore almeja uma subversão que aqui se confunde com a simples fuga momentânea, já que a libertação das mulheres do longa se resume a uma regressão à juventude perdida em função da maternidade, através de festas, álcool, comida e sexo. Ainda que colocar as protagonistas falando abertamente sobre suas preferências sexuais, por exemplo, seja algo saudável dentro de uma indústria do entretenimento que geralmente não permite este espaço, tudo é trabalhado num modo escapista e sem aprofundamento, emoldurado por uma atmosfera que soa bastante artificial. Os diretores buscam utilizar o humor de exageros como ferramenta para amplificar uma visão crítica, algo extremamente válido, mas demonstram pouca habilidade para executar tal estratégia.
A tentativa da dupla gera alguns momentos interessantes e divertidos - como a reunião da Associação de Pais e Professores para discutir um festival de tortas que ganha a dimensão grandiosa de uma convenção de partido político -, mas quase nunca consegue ir além. O longa aposta na segurança das referências à cultura pop (tiradas com filmes e séries de TV, a participação especial de Martha Stewart) e das gags físicas, ficando soterrado sob uma avalanche de clichês: da montagem inicial em que Amy narra cada passo de seu dia a dia suburbano estereotipado, passando pelos momentos de “rebeldia” (no supermercado, na festa de candidatura) filmados em câmera lenta e embalados por sucessos musicais do momento, pela figura masculina idealizada do “partido perfeito” (o pai viúvo interpretado por Jay Hernandez) até a redenção da vilã.
Optando por esse caminho já tão percorrido, Lucas e Moore não conseguem nem mesmo escapar da desgastada cena do discurso inspiracional no qual as pessoas da plateia se levantam e liberam seus sentimentos reprimidos, culminando na ovação completa da personagem principal. É bem verdade que Perfeita é a Mãe entrega algumas boas piadas ao longo de sua projeção - quase todas concentradas nos diálogos desbocados proferidos com naturalidade por Kathryn Hahn -, assim como Mila Kunis e Kristen Bell esbanjam simpatia e Christina Applegate parece se divertir na pele da antagonista caricatural. Mas a proposta inicial de elevar a noção do empoderamento da mulher se perde em meio às fragilidades de uma estrutura narrativa ultrapassada, que conflita diretamente com as ideias que deveria defender.
O único suspiro de surpresa e frescor fica por conta da sequência de créditos de encerramento, que apresenta entrevistas das atrizes ao lado de suas mães falando sobre as relações maternas e relembrando histórias do passado. Um momento genuinamente emotivo, mas que surge tarde demais para obter um efeito positivo maior sobre o produto final. Talvez a falta de feminilidade no olhar da dupla de cineastas/roteiristas seja o principal empecilho na construção de um discurso mais contundente. O que não se pode negar é que Lucas e Moore realmente colocam as mulheres de seu filme em um patamar de igualdade com os protagonistas das comédias sobre amizade masculina lançadas nos últimos anos, como as continuações de Se Beber Não Case. Pena que esse patamar não seja dos mais elevados.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 4 |
Ailton Monteiro | 5 |
MÉDIA | 4.5 |
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