Crítica
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Sinopse
Dave é um radialista curioso para conhecer a ouvinte sensual que liga várias vezes pedindo a canção Misty. Há o encontro, ele decide não levar o romance adiante e ela começa a persegui-lo.
Crítica
Não é mistério para ninguém que Clint Eastwood é apaixonado por música. Por anos, o ator ficou dividido entre sua carreira em Hollywood e uma possível incursão no mundo musical – jazz e blues são seus estilos preferidos. Sua carreira à frente das câmeras acabou prevalecendo, mas seu amor pela música não diminuiu com o passar do tempo. Tanto que seu filme mais recente é uma cinebiografia do grupo Four Seasons, Jersey Boys (2014). Dito isso, não é difícil entender o porquê de a estreia na direção de Clint Eastwood trazer o ator como um radialista bem sucedido. Em Perversa Paixão, o então novato diretor mostrava uma faceta que poucos conheciam neste thriller bem construído, apesar de um tanto datado para os dias de hoje.
No filme, com roteiro de Jo Heims e Dean Riesner, Eastwood vive o DJ Dave Garver, radialista que comanda um programa nas madrugadas da rádio KRML, que vive atendendo ao pedido de uma certa ouvinte de voz rouca: “toque Misty pra mim”. Certo dia, ele conhece esta fã, chamada Evelyn (Jessica Walter), e tem uma noitada com ela. O que parecia apenas sexo casual se transforma em motivo de preocupação para Garver, já que Evelyn começa a aparecer em sua casa, nos lugares onde frequenta e, basicamente, o perseguindo onde quer que vá. Além de tolher sua liberdade, a obcecada fã pode atrapalhar os planos do radialista de voltar com sua ex-namorada, Tobie (Donna Mills). Mas explicar a Evelyn que o romance entre os dois não pode acontecer é mais difícil do que Garver poderia imaginar. Perversa Paixão é uma estreia maiúscula de Clint Eastwood na direção. Misturando características de filmes de gênero com cinema de arte, o cineasta de primeira viagem consegue construir um suspense que cresce em tensão a cada nova sequência. Como principal característica do “filme de arte”, o longa-metragem tem certa falta de objetividade em alguns momentos. Exemplo disso são as cenas que documentam o festival de Jazz de Monterey. Não existe motivo dentro da trama para que se perca tanto tempo dentro do evento. Mas é uma escolha artística do cineasta, que não parece se preocupar em manter a trama apertada. Por afrouxar seu filme desta forma, Eastwood consegue uma interessante fusão do gênero suspense com o chamado filme de arte.
É verdade que Perversa Paixão se ressente de algumas cenas datadas, como a montagem romântica no meio do filme, contando com a canção de Roberta Flack The First Time Ever I Saw your Face. Na época, certamente uma belíssima cena. Hoje em dia, bastante cafona. A trilha sonora de Dee Barton também ajuda a manter o filme lá nos anos 70, com o destaque negativo para a música que abre o filme, cobrindo a longa viagem de Eastwood até seu trabalho. Se alguns pontos falam contra Perversa Paixão, as atuações da dupla principal só somam a favor. Clint Eastwood estava no auge de suas performances viris e em seu primeiro longa-metragem como diretor, não deixando seus fãs decepcionados. Dave Garver é um mulherengo e, tudo indica, já utilizou seu programa de rádio para sair com sua cota de rabos de saia. No momento em que o radialista parecia tomar jeito, tentando as pazes com sua ex, esta obsessiva fã aparece em seu caminho dificultando as coisas. Não chega a ser a melhor atuação da carreira de Eastwood, mas o ator dá conta do recado utilizando apenas o seu feijão com arroz habitual. Já Jessica Walter tem mais espaço para brilhar. Com um personagem deliciosamente desequilibrado, a atriz tem a chance de ir do doce ao doentio em questão de segundos. E faz isso de forma perfeita. Certamente Perversa Paixão serviu de filme de cabeceira para Glenn Close em Atração Fatal (1987) ou para Kathy Bates em Louca Obsessão (1990) - dois filmes que poderiam fechar a trilogia “Pesadelo Masculino”.
Com uma boa parcela de suspense e com diálogos espirituosos entre o protagonista e John Larch (que vive o sarcástico sgt. McCallun), Perversa Paixão é uma produção que pode ter ficado datada com o passar do tempo, mas que ainda consegue prender a atenção do espectador. Clint Eastwood só lapidaria seu talento de diretor nos anos seguintes, infelizmente se afastando dos thrillers. Com as qualidades mostradas neste primeiro filme, imagine hoje uma produção deste gênero comandada pelo diretor.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Rodrigo de Oliveira | 7 |
Chico Fireman | 7 |
Ailton Monteiro | 7 |
MÉDIA | 7 |
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