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Sinopse

Max é um cachorrinho que mora em um apartamento de Manhattan. Quando seu dono traz para casa um vira-lata desleixado chamado Duke, Max não gosta nada, já que o seu tempo de bichinho de estimação favorito parece ter acabado.

Crítica

Diretor do curta A Aventura Perdida de Scrat (2006) – com o esquilo viciado em nozes da saga A Era do Gelo – e do sucesso Meu Malvado Favorito 2 (2013), responsáveis por suas duas indicações ao Oscar, Chris Renaud se reuniu ao estreante Yarrow Cheney – que trabalhou como design de produção no último – para investir em uma ideia curiosa: o que será que os animais de estimação fazem quando seus donos não estão por perto? O resultado ganhou o nome de Pets: A Vida Secreta dos Bichos, e ainda que não entregue exatamente o prometido, é um entretenimento até certo ponto interessante, além de ter se confirmado como um dos maiores sucessos de público do estúdio – a ponto de uma continuação já estar confirmada.

De imediato, somos apresentados aos mais evidentes estereótipos sobre estes bichinhos – e quem tem um conhece bem estes cenários: o cão desesperado por atenção é Max (Louis C. K. no original e Danton Mello no Brasil), que leva uma vida ótima ao lado de sua dona, porém sem entender por que ela diariamente sai pela manhã, para retornar apenas no final do dia – o conceito de ‘trabalho’ lhe escapa. Porém, esta tranquilidade acaba quando ela chega acompanhada pelo peludo e bagunceiro Duke (vozes de Eric Stonestreet e Tiago Abravanel) um vira-lata sem muita noção do próprio tamanho que, após anos nas ruas, está decidido a fazer do pequeno apartamento seu novo lar. E se na frente da garota é só latidos alegres e balanços de rabo, assim que ela vira as costas o novato trata de deixar as coisas claras para o antigo morador: ele chegou para ficar, e os incomodados que se retirem.

Max, no entanto, pode até parecer indefeso, mas logo descobrirá como subjugar a força bruta de Duke, obrigando este a tramar como eliminar o rival. Só que isso se dará durante um passeio por Nova Iorque, quando, ao invés de ficarem comportados no parque, terminam por se perderem sozinhos pelos becos e vielas da cidade grande. É quando um dos clichês narrativos mais recorrentes da ficção hollywoodiana se faz presente: dois tipos totalmente anacrônicos e até opostos se veem obrigados e unirem forças para sobreviver. E, no processo, acabam descobrindo os valores um do outro, nascendo, assim, uma improvável amizade.

Mas, felizmente, Pets: A Vida Secreta dos Bichos não se reduz ao óbvio. Afinal, será a partir deste momento que o filme ganhará vida a partir da inclusão de dois outros personagens, ambos disputando espaço pra ver quem chama mais atenção. A primeira é a cachorrinha apaixonada (voz de Jenny Slate e Tatá Werneck) – e determinada em salvar o desaparecido Max – que não permite que seu aspecto fofo e diminuto lhe intimide mesmo diante o maior dos desafios (como quando forma aliança com um gavião carnívoro). Ela que irá liderar a equipe de resgate, que contará ainda com tipos como uma gata gorda e preguiçosa e um hamster um tanto esquizofrênico. Do outro lado estará o coelho psicótico e bipolar (voz de Kevin Hart e Luis Miranda), líder de uma gangue subterrânea de animais abandonados e sedento por vingança contra a humanidade.

Quando Max e Duke cruzam o mesmo caminho de Bola de Neve, a situação inteira ganha novos ares, que remetem à clássicos como Alcatraz: Fuga Impossível (1979) ou mesmo Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) – como esquecer como Bebê Herman, que apesar do aspecto adorável fumava um charuto atrás do outro e adorava traçar planos malignos contra seus companheiros de cena? Quando, no entanto, a dupla original acaba se afastando – uma carrocinha de cachorros é sempre uma ameaça maior – e Max se vê obrigado a se unir ao seu até então antagonista, o coelho começa a revelar outras facetas, despertando até mesmo consideração e empatia com o público, que passa a torcer também pelo vilão.

É neste meio termo, portanto, que Pets: A Vida Secreta dos Bichos se desenvolve. A anunciada premissa a respeito “do que os animais de estimação fazem quando não tem ninguém olhando” não se cumpre, pois eles pouco tempo passam em seus ambientes domésticos. A aventura está lá fora, acima – e abaixo – de avenidas movimentadas e bueiros sujos, repletos de surpresas a cada nova esquina. Lembra, nesse contexto, uma combinação entre o frustrante Selvagem (2006) com o divertido Os Sem-Floresta (2006), tendo como diferença o fato de serem os comuns cães e gatos à frente da ação, e não leões, tigres ou guaxinins. E se todos deixam claro que a selva urbana pode ser muito mais violenta do que qualquer ambiente natural – sem evitar situações gráficas e até mesmo verbais que poderão assustar os mais pequenos da audiência – ao menos tipos como o felpuda e obstinada Gigi ou o maluco e carente Bola de Neve conseguem tirar Pets da vala comum.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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