Crítica
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Sinopse
Nelly Lenz sobreviveu a um campo de concentração durante a segunda guerra mundial, onde teve seu rosto desfigurado. Após uma cirurgia de reconstrução facial, Nelly retorna a Berlim em busca de seu marido, que não a reconhece. No entanto, ele se aproxima dela com uma proposta: reivindicar a herança de sua viúva. Nelly concorda, pois deseja descobrir se Johnny a amava ou se a traiu.
Crítica
Em Phoenix, Nina Hoss interpreta Nelly, judia que acaba de voltar de um campo de concentração nazista com o rosto desfigurado. Após a cirurgia de reconstrução facial, ela busca reaver o seu lugar no mundo, algo difícil, sobretudo porque as feridas emocionais e psicológicas ainda estão abertas como duras evidências do sofrimento. A amiga Lene (Nina Kunzerdof) sugere a possibilidade de uma mudança para Tel Aviv, já que é complicado permanecer naquela Alemanha despedaçada física e moralmente, um território saturado de lembranças ruins e escombros, envergonhado pelo massacre dos não arianos. Nelly encara essa realidade com o torpor e a perplexidade próprios dos sobreviventes marcados a ferro e fogo. Todavia, mais ainda do que o flerte com a morte, as experiências degradantes em Auschwitz estão nos rastros de seus movimentos pesados, no seu indisfarçável olhar melancólico.
Christian Petzold volta a abordar o passado conturbado da Alemanha, após o não menos incisivo Bárbara (2012). Vemos um país completamente desolado, repleto de heranças nefastas. O semblante de Nina Hoss reflete não apenas a dor de sua personagem, mas a que paira nesse ambiente cinzento. Até aí, Phoenix parece um filme dedicado exclusivamente a observar o lento e penoso processo de re-humanização de alguém que teve a dignidade e outros atributos essenciais severamente violados. Entretanto, as coisas mudam quando Nelly decide procurar o marido a contragosto da amiga. Esse movimento de reaproximação com Johnny (Ronald Zehrfeld) traz à história outro aspecto e amplia a presente sensação de perturbação e pesar diante do lado menos nobre das pessoas. A abordagem inicial um tanto forçada de Johnny à “estranha” destoa da naturalidade dos demais acontecimentos. Felizmente, um acidente de percurso sem maiores danos.
De olho na herança, demonstrando pouca saudade, ele propõe transformar a mulher recém-surgida na esposa que, em tese, morreu nas mãos nazistas. Em Phoenix há ecos bastante visíveis de Um Corpo que Cai (1958). Assim como a Madeleine de Kim Novak, Nelly também sofre em silêncio diante do homem obcecado por trazer dos mortos uma imagem que satisfaça o seu desejo. Contudo, se no filme de Hitchcock o querer de Scottie (James Stewart) é fruto da paixão, ainda que doentia, em Phoenix a vontade de Johnny surge de um interesse bem menos digno. Christian Petzold trabalha num registro íntimo, nos aproximando do trajeto cada vez mais acidentado da protagonista. O redemoinho de sensações conflituosas, decorrente da convivência insólita entre ela e o marido ignorante quanto à sua real identidade, espelha as contradições da sociedade alemã no pós-guerra. Embora nos detenhamos objetivamente no drama privado, sentimos com constância a fantasmagórica e opressora influência do meio.
Petzold não atribui à sua protagonista uma profissão artística por acaso. A ausência de qualquer menção mais significativa a esse dado no transcorrer da trama, sendo ele, então, em princípio, apenas uma curiosidade do passado de Nelly, parece algum desleixo com algo que poderia ser valorizado. Mas, habilmente, o diretor guarda na manga essa carta, deixando para usá-la num momento de expressividade pontual, mais precisamente no ápice de um teatro do absurdo instaurado. A voz que gradativamente se ergue melodiosa, acompanhada pelo piano vacilante do parceiro incrédulo, marca a um só tempo, em cena de grande força dramática, a restituição da verdade e a ressurreição simbólica, virada que aproxima Nelly da ave mitológica.
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Marcelo Já li outras críticas do filme mas, Gostei demais da sua crítica do filme Phoenix! Rosa
Sempre um prazer ler suas críticas!