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Sinopse

O capitão Jack Sparrow é capturado por uma rede de intrigas sobrenaturais. Apesar de a maldição do Pérola Negra ter sido solucionada, uma ameaça ainda mais aterrorizante paira sobre seu capitão e sua tripulação desprezível: descobre-se que Jack tem uma dívida de sangue com o lendário Davy Jones, o governante das profundezas do mar e comandante do fantasmagórico Flying Dutchman, ao qual nenhum outro barco é capaz de se equiparar em velocidade e força.

Crítica

Johnny Depp não é, definitivamente, um ator convencional. O cara já fez praticamente de tudo, e quase sempre com um vigor único. Começou numa ponta em A Hora do Pesadelo (1984), despontou para a fama num seriado de televisão (Anjos da Lei, 1987), é um dos atores preferidos de Tim Burton, é amigo e gosta de trabalhar com celebridades excêntricas, como o falecido Marlon Brando, o roqueiro Keith Richards e o comediante Jerry Lewis  e não tem medo de se arriscar em projetos ousados e muitas vezes subestimados. Por tudo isso, seria ele uma das estrelas hollywoodianas menos prováveis de se tornarem fenômenos de bilheteria numa série milionária. Mas é exatamente isso que lhe aconteceu com Piratas do Caribe, que tem o sucesso deste segundo episódio creditado, mais uma vez, ao talento de Depp como protagonista.

A estrutura narrativa de Piratas do Caribe: O Baú da Morte é bastante similar à do filme anterior, A Maldição do Pérola Negra (2003). Os mocinhos Orlando Bloom e Keira Knightley estão prestes a ficarem juntos, mas precisam adiar seus planos ao se envolverem em confusões provocadas pelo capitão Jack Sparrow (Depp). A partir de então o filme é pura correria, trapalhadas, cenas de ação de arrepiar e seqüências hilárias e muito inspiradas, nos conduzindo até um clímax que deixa o espectador sedento pela terceira parte, filmada simultaneamente e lançada no ano seguinte (2007). Se nos momentos em que o foco da trama está no romance de Bloom e Knightley ou nas vilanias do pirata fantasmagórico Davy Jones (Bill Nighy, o roqueiro sessentão de Simplesmente Amor, 2003, aqui quase todo recriado digitalmente) tudo parece seguir de acordo com o esperado, as surpresas de fato surgem ao nos depararmos com o insano Sparrow, um personagem realmente iluminado.

Se Depp é responsável por boa parte do sucesso de Jack Sparrow, há de se oferecer crédito também aos roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio (que juntos escreveram também o primeiro Shrek, 2001), que, ao lado do diretor Gore Verbinski e do produtor Jerry Bruckheimer conseguiram renascer o gênero de ‘filmes de piratas’, que conheceu a glória dos anos 40 e que foi praticamente enterrado no final do século XX com alguns títulos pouco inspirados. O melhor é que aqui tudo está à altura – aventura incessante, efeitos especiais de primeira, cenas de arrepiar e romance na medida certa – mas uma decisão foi sábia o suficiente para garantir o bom resultado: em Piratas do Caribe os personagens são atrativos o suficiente para garantir a atenção do espectador.

Piratas do Caribe: O Baú da Morte é superior ao longa anterior, mas ainda assim está longe de ser perfeito. Extremamente comprido (são 150 minutos!), termina de forma abrupta, no mesmo estilo da saga O Senhor dos Anéis. Ficamos sem muitas respostas, o que inteligentemente aumenta a expectativa pelo terceiro filme, No Fim do Mundo (2007), que encerrou a primeira trilogia desta saga. Se é praticamente impossível ficar indiferente às peripécias do pirata de Johnny Depp, o filme ainda oferece atrativos suficientes para outros tipos de público, desde o mais adolescente até o senhor à procura de entretenimento adulto competente. O que o coloca como opção rara diante um cenário cada vez mais segmentado e específico.

Talvez essa seja uma das explicações para o absurdo sucesso de Piratas do Caribe: O Baú da Morte, o de maior faturamento de toda a série, tendo arrecadado mais de US$ 1 bilhão nos cinemas de todo o mundo. Impressionante, porém não totalmente imerecido. É filme-pipoca sim, e assumido. E quando se faz algo honesto e com tamanha competência, porque não recompensá-lo merecidamente?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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