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Sinopse

Após sofrer um acidente na espaçonave em que estava, Leo Davidson chega num planeta estranho e primitivo, onde os humanos migalham por sua subsistência, são caçados e escravizados por primatas tiranos, que formam o poder local. Sem concordar com a opressão imposta à raça humana, Leo logo se torna uma séria ameaça ao local e dá início a uma revolução social no planeta.

Crítica

Uma grande aventura. E só, não espere mais do que disso. O Planeta dos Macacos sob o comando de Tim Burton, 33 anos após o original, é um excelente blockbuster de férias, perfeito para arrecadar milhões e levar multidões aos cinemas - como de fato fez - mas pouco contém do pessimismo, da seriedade e do caráter reflexivo da primeira versão, lançada em 1968. Dessa vez, o que foi levado em conta são os detalhes técnicos e a emoção causada pelas altas doses de adrenalina disparada nos espectadores, acostumados a não pensarem muito sobre o que assistem quando em busca de mero entretenimento passageiro. Para quem buscava apenas isso, o programa atendeu o esperado. O problema é que, com os talentos envolvidos em sua produção, era inevitável esperar por mais.

Já se imaginava que seria complicado repetir o impacto do clássico estrelado por Charlton Heston (que faz uma ponta nesse remake, como um macaco, pai de Thade). Os tempos são outros, o perigo da Guerra Fria é (quase) inexistente e se tem um pouco mais de esperança no futuro da humanidade. No filme original, por exemplo, leva-se cerca de quarenta minutos até que apareça o primeiro macaco, enquanto que o novo já abre com um chimpanzé astronauta (antes mesmo dos créditos)! No antigo, os humanos remanescentes não eram capazes de falar, e a máscara dos macacos era extremamente rudimentar, não possibilitando muitos movimentos faciais. Devido a esses fatos, o filme continha várias seqüências de puro silêncio, sem um único diálogo. Você é capaz de imaginar isso nos tempos atuais: cinco, dez minutos de ação contínua na tela sem uma palavra sequer pronunciada?

No entanto, a fórmula antiga foi um imenso sucesso, resultando em um filme perturbador que conquistou milhares de fãs e que gerou uma verdadeira legião de adoradores, provocando mais quatro continuações, uma série televisiva, histórias em quadrinhos, desenhos animados e uma infinidade de outros derivados. Tudo o que se desejava era reviver essa saga, e assim possibilitar o ressurgimento de uma das mais lucrativas franquias da história de Hollywood. Para tanto, acreditou-se que a excelente qualidade técnica, com efeitos especiais de última ponta e uma maquiagem surpreendente (o ponto alto do filme – os macacos são perfeitos, chega a ser impressionante!) seriam suficientes. Mas esqueceu-se do principal: uma história inovadora, que providenciasse o impacto necessário para não só eclipsar as versões anteriores, como também pavimentar possibilidades futuras.

A impressão que se tem é que, como se sabia que era praticamente impossível recriar o ambiente original, apostou-se no que existia de melhor na época em termos concretos, físicos, enquanto restava a esperança de que a expectativa gerada e as lembranças provocadas pela comparação fossem suficientes para envolver a plateia. Em muitos casos até chega a convencer, mas nunca de modo suficiente. Por exemplo, o final emocionante da primeira versão, marcante até hoje para todos que o assistiram - é considerado uma das conclusões mais emblemáticas da história de Hollywood. Dessa vez ficou claro que a história não se desenvolveria na Terra, mas a preocupação de não se repetir foi tão grande que o que acontece acaba sendo justamente o inverso. Será impossível não sentir um gostinho amargo de “oh, não, tudo menos isso” ao final.

Como a aposta era muito alta, o diretor não pode ser considerado responsável por todas as decisões. Afinal, ele dependia (e muito) da opinião dos executivos do estúdio, que alteraram o final previamente imaginado para garantir a possibilidade de futuras seqüências. Isso já aconteceu uma vez com Tim Burton, quando ele dirigiu o primeiro Batman (1989), que apesar de todas as interferências dos estúdio, acabou dando certo, possibilitando uma carta branca ao diretor para a realização do segundo, Batman: O Retorno (1992), que certamente é o melhor da série. Infelizmente, não foi o que aconteceu dessa vez, e o realizador ficou nos devendo um Planeta dos Macacos legítimo, exatamente do modo como imaginou. Esse, sim, seria um grande espetáculo, não só para os olhos, como a versão aqui comentada, mas também para o cérebro, como era o original.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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