
Sinopse
Em Plankton: O Filme, nosso amado Bob Esponja fica um tanto de lado nessa aventura para dar espaço a uma emaranhada história de amor entre o personagem-título e sua esposa-computador. Tudo vira um desastre quando ela decide destruir o mundo sem os planos do vilão. Animação.
Crítica
Aventura do principal vilão do Bob Esponja, Plankton: O Filme é uma história de origem. Nela vemos Plankton tentando pela enésima vez roubar a fórmula do hambúrguer de siri e, claro, falhando miseravelmente. No entanto, dessa vez o fracasso não vem sem consequências, pois depois dele o protagonista fere os sentimentos de sua esposa-robô Karen. A companheira do plâncton se revolta como nunca antes e resolve mostrar quem é verdadeiramente o cérebro maquiavélico da dupla, para isso criando um plano gigantesco que visa destruir toda a Fenda do Biquini e ir para a superfície conquistar literalmente o mundo. Seguindo uma tendência bastante contemporânea, os criadores transformam o vilão em herói, deslocam o propósito original do personagem que deveria ser bandido e o tornam o mocinho da vez. No entanto, isso acaba não sendo tão relevante, pois a jornada de Karen como grande imperatriz do mal é apenas uma desculpa esfarrapada para o que verdadeiramente importa na trama: longos flashbacks nos quais somos apresentados ao passado de Plankton, com direito a uma breve visita à sua infância, passando pela emancipação na universidade com a ajuda dessa sua parceira cibernética feita a partir da calculadora movida pela energia de uma batata, chegando até a gênese da obsessão pelo hambúrguer de siri. E no meio de toda essa correria, Boba Esponja vira um mero escudeiro.
Plankton: O Filme mostra seu protagonista como um sujeito de origem humilde, fadado por sua natureza a ser pouco menos do que invisível no reino submarino. Ainda que o roteiro assinado por Mr. Lawrence e Chris Viscardi não desenvolva muito essa sensação de inferioridade que leva à mania de grandeza de Plankton, ela aparece de vez em quando para justificar o desejo do personagem de tomar o mundo para si. É uma piada implícita, semelhante ao que acontece com os personagens Pinky e Cérebro, ratos que, do alto de sua pequenez e insignificância, também tramam para conquistar o planeta. Podemos imaginar que em ambos os casos os criadores estão satirizando os anseios de homens reais do passado que promoveram guerras para compensar as suas fraquezas? Sim, mas a nova animação do universo Bob Esponja não parece interessada em desenvolver qualquer subtexto nesse nível, apenas em ilustrar o passado de um personagem recorrente no desenho animado da esponja mais famosa a usar calças quadradas. Enquanto transforma os planos para frustrar a dominação de Karen num amontoado de situações ligeiras e sem tanta criatividade visual, os idealizadores se saem melhor ao mostrar a origem da vontade imperialista de Plankton. São particularmente divertidas as cenas dele na universidade que não previa matérias sobre dominação global – no fim, ele mesmo acabou criando isso e estudando.
Uma personagem que ganha atenção na animação é Karen. Tratada pelo criador-marido como conveniente artefato que aplaca a solidão e ainda se torna uma aliada importante para tentar roubar a maior relíquia do Seu Sirigueijo, ela aqui reivindica ser enxergada como um ser autônomo, dona de personalidade e opiniões próprias. Aliás, do ponto de vista do discurso, a rebelião dela é a coisa mais importante de Plankton: O Filme. Claro que estamos diante de um enredo pensado para crianças, com situações e personagens elaborados para agradar à fatia inocente da plateia, ou seja, o público-alvo principal da franquia. No entanto, exatamente como acontece no programa de TV, que já conta com mais de 300 episódios, há também certas coisas formuladas apenas para a compreensão da parcela adulta da plateia. E a principal delas aqui é a revolta feminina por conta da submissão a um “homem” que simplesmente não a valoriza como ela merece. Ninguém está esperando um exemplar da franquia Bob Esponja com discursos veementes sobre machismos e feminismo, nem um tratado a respeito da necessidade de valorizar o companheirismo e as conexões amorosas. Porém, essa indignação de Karen é apresentada como fruto de algo em Plankton que ele precisa mudar se quiser salvar o mundo. Uma vez transformado em herói, esse vilão esbravejante tem de demonstrar empatia pelo outro.
Ainda escavando um pouco para além da superfície colorida e agitada de Plankton: O Filme, podemos encontrar a sororidade como um dos antídotos para a vilania. Sim, pois Karen encontra suporte nas três amigas (entre elas Sandy Bochechas) com as quais pode desabafar e relaxar longe da insistência do criador-marido de conquistar o mundo para provar sua “grandeza”. Esse trio de fêmeas será fundamental para aplacar a ira da criatura inorgânica transformada em Hidra. Enquanto elas são razoáveis e práticas, Plankton continua agindo como uma criança desesperada por atenção, Bob Esponja consegue se divertir em meio ao caos, Patrick aparece de vez em quando hiperfocado em ketchup e as outras figurinhas carimbadas da Fenda do Biquini têm suas obrigatórias participações especiais. Tecnicamente falando, o longa-metragem segue a linha das recentes produções lançadas com a marca Bob Esponja, ou seja, animação em 3D de qualidade satisfatória e com raros lampejos de criatividade visual – como, por exemplo, no design da Mega Karen, estrutura gigantesca feita com todos os prédios da vizinhança e que, em um momento, é levada a interagir com figurantes de carne e osso. Mas, o que importa nesse filme é conhecermos a história pregressa do vilão e finalmente entendermos de onde vem a sua ridícula mania de grandeza. Porém, mais relevante ainda é recebermos um pouco mais de Karen, a esposa furiosa.
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