Crítica
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Sinopse
Quando seu irmão mais novo, Charlie, inesperadamente desaparece no universo mágico e animado de Playmobil, Marla deve fazer o possível para trazê-lo de volta para casa. Enquanto se arrisca por mundos desconhecidos, encontra amigos corajosos e inesperados: o caminhoneiro Del, o agente secreto e carismático Rex Dasher, um robô rebelde, uma fada madrinha extravagante e outros.
Crítica
Esta animação se estrutura a partir da alteração brusca de gêneros e linguagens: o live action se transforma em animação, o faroeste se torna filme de espião, o realismo cede à magia. Não existe explicação lógica para se passar de um estilo ao outro, ao que o diretor e roteirista Lino DiSalvo justifica com o raciocínio infantil: é assim que as crianças brincam, mudando mundos e combinando registros nem sempre compatíveis aos olhos dos adultos. Por mais tentadora que seja a ideia de uma costura puramente fantasista – tudo pode acontecer, em qualquer ordem -, a consequência óbvia constitui a aleatoriedade. Quando Marla e o irmãozinho Charlie são sugados para o mundo mágico dos Playmobil, eles se tornam vikings, depois embarcam num universo futurista, para então encontram xerifes, fadas madrinhas e imperadores romanos.
Ora, existe uma razão pela qual esta dinâmica lúdica desaparece quando as crianças crescem: os pequenos aprendem a ideia de permanência, as relações de causa e consequência e as noções de valores e de identidade, que são fundamentais para se construírem enquanto indivíduos e para compreenderem o meio em que se inserem. Os filmes, inclusive, podem ajudar a criança a estimular a sua concentração e aprofundar a compreensão de um personagem – a não ser que a aventura forneça apenas uma sucessão de elementos desconexos, como é o caso desta produção. De certo modo, o projeto compreende o universo infantil de maneira literal demais: é possível aludir à mentalidade da criança de maneira metafórica (vide Divertida Mente, 2015), brincar com a alternância de mundos e ainda manter a coerência do discurso (Wall-E, 2008), introduzir novos personagens com frequência enquanto satiriza sua própria inconsistência (Os Pinguins de Madagascar, 2014).
No entanto, Playmobil: O Filme se leva a sério, razão pela qual a aventura moral baseada em boas intenções soa rasa demais perto do potencial da animação. “Nada nesse mundo é pior do que uma vida sem emoção!”, se exclama Marla, numa das dezenas de aprendizados explícitos, vocalizados pelos personagens. A vontade da garota em viajar pelo mundo é representada pelo símbolo recorrente do passaporte, enquanto a revolta do irmão contra a perda dos pais se traduz numa luta viking. Por mais bem-intencionadas que sejam, essas analogias soam óbvias, incapazes de proporcionar outra leitura para além de seu sentido imediato. Pela maneira frontal de lidar com símbolos, alguns soam problemáticos: a ideia de um feno cor-de-rosa que transforma cavalos agressivos em fadinhas efeminadas soa bastante homofóbica, e o mesmo pode ser dito das duas únicas mulheres em posição de liderança, uma representada por uma figura masculinizada e de bigode, e a outra monstruosa, com voz grossa. O roteiro tem dificuldade para superar a dicotomia homem-mulher sem recorrer ao grotesco.
Ao menos, poderia se esperar de um filme sobre os bonecos que explorasse comicamente as limitações dos personagens: as mãos em forma de gancho, as pernas de movimentos duros, as peças de vestuário que soam como encaixes a partir de um corpo único. No entanto, a partir de uma alusão inicial ao caráter robótico dos brinquedos, o filme abandona estas características, fazendo com que Marla dobre os joelhos para andar a cavalo, ou Charlie se contorça durante cenas de luta. Ao contrário de Uma Aventura Lego (2014), que parodia a si mesmo com frequência, Playmobil ignora a identidade básica do material de origem, oferecendo então desenhos comuns, tão autônomos quanto indistintos. DiSalvo está mais interessado na velocidade de transição entre mundos do que na personalidade de cada personagem, razão pela qual tantos coadjuvantes possuem função limitada dentro deste universo – o robô, por exemplo, e o personagem análogo a James Bond tornam-se dispensáveis na jornada de Marla.
Por fim, percebe-se o esmero da produção, além de evidentes qualidades de animação – afinal, o cineasta foi diretor de animação de Enrolados (2010) e Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), entre outros. No entanto, falta ao filme o refinamento esperado no trabalho do tempo e espaço, dois elementos essenciais a qualquer construção cinematográfica – mesmo as infantis, mesmo aquelas destinadas a crianças muito pequenas -, reduzidos aqui a estruturas que o diretor dispensa e retoma quando desejado. As elipses soam abruptas, os espaços se resumem a cenários, e por consequência, a relação dos personagens com o meio ao redor (o apego à vida real, o deslumbramento diante do mundo mágico) resulta pouco convincente. Ao final, os protagonistas terão aprendido o valor da imaginação e da família, exatamente o que já tinham no começo da história. É engraçado perceber que, após conhecerem dinossauros e naves espaciais, o Império Romano e os castelos de princesas, os personagens retornam ao mesmo local de onde saíram. O círculo se fecha, como um sonho, ou num devaneio retórico. O imaginário serve menos como fonte de libertação e aprendizado do que como possibilidade de distração.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Bruno Carmelo | 4 |
Alysson Oliveira | 2 |
MÉDIA | 3 |
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