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Sinopse

Os Tucci são uma família de origem humilde de uma aldeia de Lazio, na Itália, que tiram a sorte grande e ganham na loteria. Bilionários da noite para o dia, decidem ir para Milão viver num hotel de luxo e desfrutar, mas logo percebem que os ricos de hoje não são o que imaginavam e de repente sua nova vida não parece mais tão divertida assim.

Crítica

Você conhece a história: família pobre do interior, que vive aos trancos e barrancos, ganha uma bolada da noite para o dia e resolve torrar tudo em busca de uma vida melhor. Não é o remake de A Família Buscapé (1993), mas a comédia italiana Pobres, Mas Ricos, que fez ótima carreira na terra de Federico Fellini e chega agora, dois anos depois, às telas brasileiras. Um título com todos os vícios do gênero, que usa a lente de aumento para potencializar uma pseudocrítica à valorização do dinheiro, apostando suas fichas em erros crassos que boa parte do seres humanos cometem quando têm uma conta bancária ilimitada, especialmente incorrer no ridículo por meio de luxos desnecessários.

É nesse cenário que vivem os Tucci, família pobre e ignorante, moradora do interior da região de Lazio. Temos o marido que estudou apenas até metade do ensino fundamental e hoje trabalha para sustentar a casa; a esposa que vive na neurose de manter a residência limpa; a avó que assiste à novelas o dia inteiro; o cunhado vagabundo que só quer saber de fazer experimentos em vegetais; a filha disléxica que sonha em ser subcelebridade; e o filho mais novo, que assiste a tudo acontecer com imensa incredulidade, mas aceitação, pelos parentes que vivem sem grandes ambições. Um dia, a dona da casa acerta os números da loteria. Cem milhões de euros vão parar nos bolsos de todo mundo. E, claro, não querem que alguém descubra até algo acontecer e eles precisarem sair do vilarejo para morar em Milão. Mas como aproveitar essa grana toda?

Para o diretor, Fausto Brizzi, mais conhecido aqui por outra comédia, Guerra dos Sexos (2010), é como se todos os pobres fossem ignorantes e, porque não, burros, sem inteligência para aproveitar os lucros. Os Tucci sabem nada de nada, nunca tiveram estudo e parecem não entender o que se passa no mundo. Nem o mínimo possível. Sim, há casos reais de quem tem pouco, ganha muito de uma vez, e acaba perdendo tudo por conta do impulso. Porém, aqui a situação extrapola e se torna praticamente ofensiva. Tanto que o cineasta aposta no talento do elenco para improvisar gags a todo o momento, já que o roteiro, recheado de situações e diálogos clichês, não traz qualquer novidade. E ainda bem, pois justamente o conjunto de atores e atrizes consegue segurar o interesse pela história, por mínimo que seja.

É claro que dos 100 milhões de euros gastos pela família buscapé à la toscana, boa parte do vai para luxos sem necessidade. Suíte master de um hotel, custando 18 mil a diária, mordomo exclusivo, várias Ferrari na garagem e até show musical particular. No caso, do cantor Al Bano, que faz uma participação especial no meio das trapalhadas dos Tucci. E o ponto principal, levantado pelo caçula (único inteligente do grupo), é que, uma hora a fortuna vai embora. Não que isso seja empecilho para que todos façam o que bem entendem.

Após se mudar para um luxuoso loft na área mais rica de Milão, Loredana (Lucia Ocone), a dona de casa sortuda que acertou os números da loteria, quer aprender a ser uma pessoa chique. Por ser uma grosseirona (o roteiro a trata no sentido mais ofensivo possível), é óbvio que as coisas não dão certo. O marido, Danilo (Christian De Sica, filho do diretor Vittorio De Sica, autor do clássico Ladrões de Bicicleta, 1948) segue o mesmo caminho, ainda mais por ser ignorante nas contas e tentar investir na sua paixão, a Fórmula 1. No meio do caos, há ainda uma história de amor. No caso, protagonizada por Marcello (Enrico Brignano), irmão de Loredana e inventor de novas frutas que não dão certo. Ele se apaixona justamente pela garçonete do hotel que odeia pessoas ricas. Por isso, se faz de pobre para conquistá-la.

Percebe-se que a originalidade passa longe desta produção, o que não quer dizer que ela cause poucas risadas. O absurdo das situações é tamanho que o público parece assistir a um conjunto de esquetes do Zorra Total – numa mistura entre o antigo e o recente formato do programa –, o que pode dar uma ideia de que alguma coisa se salva no meio de tudo. Há uma pequena crítica, extremamente superficial, sobre o modo de vida dos ricos atuais: todos são veganos, minimalistas, metidos a ambientalistas e tentam se sentir bem participando de eventos de caridade. Uma generalização com algum fundo de verdade, em dado momento, mas que carece de uma discussão maior. São pequenas pontuações jogadas num roteiro confuso, em que a cada cena um dos personagens toma a dianteira, como se protagonista da história. O filme foi um sucesso de bilheteria, tanto que rendeu uma continuação exatamente um ano depois. Se ela vai chegar aqui, depende da recepção brasileira. Pode até divertir um pouco, mas é tão esquecível quanto a fortuna gasta pelos Tucci.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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