Crítica
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Sinopse
Três amigos ganham superpoderes em contato com uma substância misteriosa. Gradativamente a sensação de impunidade os faz ultrapassar todos os limites.
Crítica
Assim é muito fácil fazer cinema! Basta juntar três adolescentes do grupo de teatro da escola, somar mais alguns amadores como figurantes e ligar uma câmera sem a menor preocupação estética ou artística. Depois, basta chamar dois ou três nerds de informática com bastante conhecimento em manipulação digital – os chamados “efeitos visuais”, cada vez mais populares e acessíveis – e voilá! Está pronto seu filme de estreia, que já chega fazendo barulho e chamando atenção de quem realmente interessa: os estúdios, sempre preocupados com as bilheterias e em busca de modos cada vez mais baratos para se arrecadar cada vez mais. O exemplar recente desse gênero é Poder sem Limites, um longa feito por um grupo de desconhecidos que estreou em primeiro lugar na preferência do público americano e arrecadou em todo o mundo quase US$ 100 milhões – ou seja, aproximadamente 10 vezes o seu valor total! Merecido? Claro que não!
Qual é a trama de Poder sem Limites? Três adolescentes ganham poderes extraordinários e passam a usá-los em brincadeiras infantis, até que um deles perde o controle, explodindo casas, carros e pessoas, vingando-se de quem sempre o tratou mal. Ou seja, a revolta das vítimas de bullying – caso esse mundo aceitasse a existência de eventos similares. Em nenhum momento é explicado como o poder surgiu – os vemos entrando num buraco, tipo uma caverna, e após encontrarem algo muito misterioso, tudo se apaga, para que na próxima cena a transformação já tenha ocorrido. O foco é centrado no personagem Andrew (Dane DeHaan), um ninguém na escola que ainda apanha do pai em casa. O coitado não tem amigos e ainda precisa enfrentar a dor de ter a mãe doente, agonizando seus últimos dias no quarto ao lado. Quando suas novas habilidades se manifestam, logo se percebe que o rapaz não irá se contentar em assustar pessoas no shopping ou jogar futebol americano entre as nuvens. Inseguro, infeliz, insatisfeito: tudo e todos estão contra ele, ou ao menos é o que acredita. E na primeira oportunidade irá usar suas novas “armas” contra todos que ficarem no seu caminho. Independente quem seja.
Mas Josh Trank, que antes já havia trabalhado como produtor, ator, assistente de som, editor e roteirista, deu um golpe esperto nessa sua estreia como diretor. Seu filme está revestido por um viés de amadorismo documental, seguindo as mesmas linhas já traçadas por outras “surpresas picaretas” do mesmo nível, como A Bruxa de Blair (1999), Cloverfield: Monstro (2008) e Atividade Paranormal (2007). O que vemos na tela, supostamente, é a versão editada do material que foi encontrada junto aos que passaram pelo incidente. Um personagem mantinha uma câmera consigo sempre ligada, e são essas imagens – aliadas a outras aleatórias, como registros de câmeras de vigilância em lugares públicos, por exemplo – que compõem o filme. Portanto, está mais do que claro: se os personagens não entendem o que está acontecendo, como o espectador poderá compreender?
O único ator do elenco principal com alguma experiência de maior expressão é Michael Kelly, que interpreta o pai do protagonista. Ele já havia feito papéis pequenos em filmes como A Troca (2008) e Os Agentes do Destino (2011), e no próximo ano poderá ser visto também em O Homem de Aço, a nova versão cinematográfica do Superman na tela grande. Aí, sim, ele poderá contar que trabalhou num filme de super-herói de verdade. Porque esse Poder sem Limites é mais um embuste, feito para capturar o interesse de poucos desavisados e que não deverá permanecer na memória de ninguém por muito tempo. Seja em qual lado da tela você esteja.
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Concordo plenamente Robledo.