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Sinopse

Em Nova York, um casal adota um menino. Com o tempo, o pai adotivo decide saber quem é mãe biológica do filho. Ele descobre que se trata de uma prostituta chamada Linda, que em filmes pornográficos usa o nome Judy Cum e que nem imagina quem seja o pai do garoto.

Crítica

Pode até parecer perseguição a Mia Farrow, mas é fato que os filmes de Woody Allen ficaram mais leves após a turbulenta separação do casal no início dos anos 1990. Primeiro veio o excelente Tiros na Broadway (1994) para, na sequência, o cineasta presentear o público com Poderosa Afrodite, comédia que, propositalmente ou não, começa com a adoção de uma criança (ironia do destino?) para subverter a história em paixões e traições num tragicômico teatro grego. Literalmente, neste caso.

Allen assume o protagonismo da trama como Lenny Weintraub, comentarista esportivo casado com a marchand Amanda (Helena Bonham Carter). Os dois adotam Max, uma criança com inteligência muito acima da média, o que desperta a curiosidade dele, afinal a mãe biológica do menino deve ser um gênio. Ironicamente, Lenny descobre que ela é Linda Ash (Mira Sorvino) uma ex-atriz de filmes pornô e atual prostituta, tão adorável quanto ignorante. Mesmo com a decepção da descoberta, ele se afeiçoa à garota e resolve mudar seu estilo de vida.

A comédia que já tem uma sinopse bem interessante ganha contornos ainda maiores por Allen utilizar o teatro grego como ponto de partida e, é claro, de total sarcasmo sobre como as situações vão desenrolar, distorcendo o mito de Jocasta e Édipo. Não bastasse a história da mãe que repassa sua criança para outro, uma série de fatos aproximam o pai e a garota de programa, ainda mais com a crescente preocupação de Lenny sobre a atração visível que surge entre sua esposa e um colega de trabalho. Apesar do tom leve e descontraído, nunca a trama beira a ingenuidade. E o melhor de tudo são as intervenções dos mitos gregos na história, como a própria Cassandra, que já anuncia: “vejo desastre, vejo catástrofe, pior, vejo advogados!”. Impossível não rir pela própria piada e pela figura que elucida tal fato. É claro que isso tudo não teria a menor graça se Allen não tivesse contratado um belo elenco, que tem a participação de F. Murray Abraham como o líder do coro grego.

Acima de tudo, é Mira Sorvino quem sempre rouba a cena. Allen, mestre em tirar atuações inspiradas de seu elenco, fez com que a atriz mostrasse toda a ingenuidade de sua personagem, tornando-a até um pouco ignorante em relação à vida, mas sempre otimista. E Sorvino compõe fisicamente sua Linda com uma voz extremamente irritante de tão estridente e um jeito de andar sem sensualidade alguma sobre o salto alto. Méritos que a fizeram ganhar vários prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante, entre eles o Oscar e o Globo de Ouro.

Poderosa Afrodite é um dos longas mais alegres de toda a filmografia de Woody Allen, num tom longe de seu pessimismo habitual, por mais que as situações irônicas e o teatro grego possam parecer afirmar o contrário. Passados quase 20 anos de seu lançamento, ainda é uma obra que, mesmo sendo considerada menor no currículo do cineasta, merece todos os aplausos por mostrar a genialidade de seu autor. Se há dúvidas, pule para a cena final, em que a maior ironia da história acontece. Como fala a música que encerra o longa, “quando você sorri, o mundo todo sorri com você”. Mais apropriado, impossível.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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