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Sinopse

Um pouco antes da erupção do monte Vesúvio, que decretaria a destruição de Pompeia, o escravo Milo se apaixona por uma jovem integrante da nobreza local e identifica o responsável pelo assassinato de seus pais. Ele vai fazer de tudo para escapar da tragédia, conquistar a sua amada e conseguir executar a sua vingança.

Crítica

A sinopse é conhecida: rapaz pobre e rebelde se apaixona por garota rica e mimada, já prometida para o vilão ganancioso que a trata com descaso, às vésperas de uma catástrofe de proporções épicas. Quem pensou logo em Titanic (1997), no entanto, se enganou – mas por pouco. O filme em questão agora se chama Pompeia, mas o enredo é basicamente o mesmo do recordista de Oscars dirigido por James Cameron. Só que ao invés da ação transcorrer a bordo de um transatlântico prestes a afundar, estamos na famosa cidade italiana no ano de 79 A.C., quando o vulcão Vesúvio entrou inesperadamente em erupção, destruindo tudo ao seu redor. Porém, apesar da coincidência – talvez não tão casual assim – a inspiração maior parece ter sido o seriado Spartacus (2010) e todos esses genéricos que surgiram após o sucesso de 300 (2006). Ou seja: o visual até pode impressionar, mas o resto é completamente descartável. 

Aliás, não se passou nem dois meses de 2014 e esta já é a terceira produção do gênero a chegar às telas com resultados que beiram o constrangimento – após Frankenstein: Entre Anjos e Demônios e Hércules – e será seguida justamente pela sequência daquele que deu origem a esta verdadeira febre – 300: A Ascensão do Império, que chega aos cinemas no começo de março. E se até agora o que tem sido apresentado é bastante decepcionante, Pompeia não faz nada para mudar esse quadro. O que se salva, mesmo, é o desastre de proporções gigantescas, bem executado, porém pouco aproveitado – leva-se dois terços do filme para chegarmos nele. E, até lá, quase todo o interesse que se tinha inicialmente pelo projeto já se dissipou.

Kit Harington – o Jon Snow do seriado Game of Thrones (2011-2019) – é Milo, um jovem celta que teve sua família e tribo assassinada por romanos sob o comando do senador Corvus (Kiefer Sutherland, o único visivelmente se divertindo em cena) quando ainda criança, e já adulto é vendido como escravo. Na arena, se apaixona pela filha de um nobre, Cássia (Emily Browning, que cresceu e ficou distante da menina de Desventuras em Série, 2004), e conquista a amizade apenas de Atticus (Adewale Akinnuoye-Agbaje, do seriado Lost, 2004), outro gladiador como ele. Os dois só poderão contar um com o outro quando o vulcão começar a explodir e a cidade que dá título ao filme for, literalmente, aos ares.

São muitos os problemas de Pompeia, e um dos mais gritantes são os diálogos absurdos. “A cada segundo você fica mais longe dela”, proferido no momento em que a mocinha é raptada pelo bandido, ou “gladiadores não imploram”, quando um deles está prestes a morrer, são algumas das frases que deveriam provocar impacto mas, ao invés disso, estimulam apenas a graça involuntário. Pompeia, num todo, por pouco não se qualifica naquela categoria dos filmes ‘tão ruins que se tornam bons’. O problema é que todo mundo – com exceção de Sutherland, como apontado anteriormente – se leva muito à sério, como se estivessem inventando a roda ao defender uma trama que fosse fazer diferença na vida de alguém na audiência. Quando, na verdade, tudo o que temos é um pastiche mal explorado que combina diversos clichês sem muita harmonia ou equilíbrio.

Harington pode ser uma das presenças mais marcantes no show televisivo que estrela, mas ainda está longe de ter condições de carregar um filme sozinho nas costas. Por outro lado, chega a ser triste ver a bela Carrie-Anne Moss – a eterna Trinity, da saga Matrix – ser tão desperdiçada num papel quase sem diálogos e virtualmente desnecessário. E Browning se sai melhor como guerreira – assim como visto no esquizofrênico Sucker Punch (2011) ou no interessante Beleza Adormecida (2011) – do que na posição de donzela indefesa. Além de não possuir uma beleza convencional e com a qual o espectador possa se relacionar, lhe falta simpatia cênica para construir uma química relevante com o protagonista.

Ao contrário do xará indicado ao Oscar (P.T. Anderson, de Magnolia, 1999), o diretor Paul W.S. Anderson é reconhecido por seus exageros e falta de sutileza – o que mais uma vez se comprova. O mais patético, no entanto, é o fato do personagens fazerem questão de ignorar a todo instante o óbvio – há um vulcão explodindo em frente a eles, e mesmo assim seguem agindo naturalmente! Ao invés de fugirem alucinadamente para salvarem suas vidas, se distraem no caminho pela menor bobagem – seja para ajudar uma garota que tropeçou, para se despedir de um conhecido ou até mesmo para tomar um gole d’água! E assim, diante tantas atitudes incompreensíveis e figuras dramáticas com as quais não nos importamos nem simpatizamos, Pompeia se revela um desperdício tão grande quanto o próprio uso do 3D que o filme tenta se apropriar, porém sem a menor competência para tanto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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