Crítica
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Sinopse
Davi sempre achou o Brasil um país vergonhoso. Sua filha Beatriz, no entanto, acreditava na boa índole dos brasileiros. Porém, ela acaba se tornando vítima da violência urbana.
Crítica
Há um bom tempo já está claro aqui em Gramado que a mostra competitiva latina é muito mais interessante do que a de filmes brasileiros. E com a seleção nesse ano do catastrófico Ponto Final essa disparidade ficou ainda mais evidente. É quase inexplicável a inclusão de um longa como esse entre os sete selecionados para a competição oficial. Esse segundo trabalho do diretor Marcelo Taranto é tão pretensioso quanto desnecessário, sem pé nem cabeça que mais constrange do que desperta interesse. Um desastre, sem tirar nem por.
Há vários motivos para que a mostra nacional do Festival de Gramado seja fraca: este é ainda um dos poucos certames brasileiros que não oferece prêmios em dinheiro; há cada vez mais competições por todo o país, ao contrário de até dez anos atrás, quando ocorriam apenas os festivais de Brasília, Recife e daqui; e o pior e mais grave problema, a seleção é feita apenas por duas pessoas, Sergio Sanz e José Carlos Avellar, dois profissionais de grande valia mas que, infelizmente, encontram-se em descompasso com a produção atual, sem se reciclarem com novas tendências, gostos e atitudes. Isso sem falar que, com mais de 100 produções inscritas – como foi anunciado – é praticamente impossível assistir a todas. Dessa forma, a escolha acaba sendo feita com base em outros critérios, infelizmente nem sempre os mais nobres.
Ponto Final, portanto, a despeito de todos os seus deméritos, acabou sendo um dos sete representantes brasileiros. E é fácil imaginar quem tente defendê-lo pontuando sua “ousadia, originalidade ou inovação”. Afinal, trata-se de um filme que faz de tudo para deixar de ser cinema – ou, pior, tentar ser mais do que cinema. É exageradamente teatral, seus diálogos beiram a poesia mais rasa, e a mensagem é de uma filosofia tão barata que parece ter sido retirada de um catálogo de publicações de autoajuda. De provocar vergonha em qualquer desavisado.
Esse pretenso drama psicológico parte de uma trama sobre uma família desfeita a partir do assassinato da filha adolescente por uma bala perdida em pleno Rio de Janeiro. A mãe aproveita a tragédia para abandonar o marido. Esse, o pai, se culpa pelo ocorrido e encara um desafio: subir no ônibus e ir adiante, tocando a vida, ou permanecer com suas mágoas, arrependimentos e tristezas sem avançar nem regredir. Nesse meio tempo encontra uma mulher que tem como passatempo passear sem destino pela cidade em transportes públicos escolhidos ao acaso. Ela está desprendida de compromissos, afeições ou julgamentos. E talvez seja justamente isso o que ele precisa nesse momento. O pior é que nesse embate pessoal participam também o cobrador e o motorista do coletivo, ultrapassando a linha da analogia e fazendo do ônibus também cenário de suas angústias e reflexões.
O filme anterior de Taranto, A Hora Marcada, é de 2000 e tinha Fábio Assunção à frente de uma história policial que, se não surpreendia, também não decepcionava. Bem ao contrário do que acontece com “Ponto Final”. O diretor, ao apresentar o filme aqui em Gramado, apontou a felicidade em ver realizado um trabalho que lhe consumiu cinco anos. A impressão, no entanto, para quem está assistindo, é que se passa de fato meia década durante a projeção. Extremamente lento e arrastado, com toques de metalinguagem e discursos paralelos que não levam a lugar nenhum, provoca como última questão o que levou atores de gabarito como Roberto Bomtempo, Hermila Guedes e Othon Bastos participarem de algo tão equivocado assim. Mas nenhum sofrimento deve ser maior que o do espectador que decidir enfrentar esse desastre do início ao fim.
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