Crítica

Filmes sérios, com importantes mensagens a serem transmitidas, existem vários. Mas, dentre esses, dois tipos são bem específicos e de fácil identificação. Existem aqueles que tocam fundo, que incomodam, que nos fazem sair de nossa zona de conforto, que realmente possuem algo a ser dito, seja através de imagens ou de um texto forte e conciso. Clube da Luta (1999), de David Fincher, é um bom exemplo. No lado oposto estão os que possuem boas intenções, mas que naufragam em um ponto ou outro de sua realização. Por maiores que sejam seus méritos – e muitas vezes são dotados de vários, a começar pela iniciativa de se tentar fazer algo que se situe além da mediocridade – no final estes pouco importam, uma vez que o que permanece no espectador é apenas uma sensação de déja vù. Por um Sentido na Vida se encaixaria bem nessa definição.

O quadro é bem interessante. Ficamos, logo de início, a par dos sentimentos de Justine (Jennifer Aniston, a melhor em cena), uma mulher desiludida da vida, cansada do trabalho ridículo, do marido simplório, dos sonhos desperdiçados. Sua situação começa a mudar quando um jovem (Jake Gyllenhaal) passa a trabalhar na mesma loja de descontos que ela. A estranheza do garoto – está sempre lendo, é muito tímido, de olhar perdido – logo chama sua atenção, o que a faz descobrir que ambos possuem muito em comum. Daí para um romance proibido, é um instante. O problema é quando o amante de primeira viagem perde o controle, se envolvendo num roubo – em nome do amor, como não poderia ser diferente – que pode por tudo a perder, tanto na vida dele quanto na dela.

Justine está – e desde o começo isso fica claro – à procura de mudanças. O que sucede, portanto, é que passa a vislumbrar no novo colega uma chance de como tudo poderia ser diferente. No entanto, as soluções oferecidas pelo roteiro são contraditórias: se por um lado a trama se desenvolve de modo previsível, as reações dela diante dos novos acontecimentos fogem do convencional, indicando que nem tudo pode estar perdido. O amadurecimento do personagem é visível, e a conclusão mais óbvia é que o mesmo poderia estar acontecendo com qualquer um da plateia. O que você faria no lugar da protagonista, diante da oportunidade de jogar sua vida vazia na privada e começar tudo do zero?

Essa dualidade é o que mais incomoda, pois percebe-se que o material trabalhado oferecia boas possibilidades, mas que essas são apenas razoavelmente exploradas. Se Por um Sentido na Vida traz algo de positivo é a interpretação de Aniston, que pela primeira vez se distanciou com efeito da personagem do seriado Friends (1994-2004). Seu desempenho em nada lembra qualquer uma das suas performances anteriores, não repetindo trejeitos nem maneirismos. Fugindo do terreno seguro das comédias românticas, a atriz deu um passo arriscado que felizmente se justificou. Ou seja, além de ser também uma estrela, ela se confirmou aqui como uma intérprete versátil. E por isso o filme já merece uma conferida.

Alternando bom humor com momentos dramáticos, o primeiro trabalho do porto-riquenho Miguel Arteta para um grande estúdio (é dele o independente Chuck & Buck, 2000, celebrado no circuito alternativo norte-americano) até alcança bons momentos, mas o que sobra após o término da projeção é um sentimento de que ficou faltando algo para que seus objetivos se realizassem por completo. Não que prejudique seu entendimento ou trajetória, mas é o que o diferencia de uma obra inesquecível, deixando-o restrito à vala comum de ser “apenas mais um”.

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