Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Produções sobre relacionamentos e términos existem às pencas. As que buscam traçar uma desconstrução de linguagem dentro da narrativa com questões relativas ao tempo ou percepção dos personagens, então, podiam ganhar todo um subgênero dentro da categoria Romance. Poucas são as que integram o filão com personalidade e trazem sutileza ao trabalhar temática e linguagem de maneira equilibrada. Porto, coprodução entre Portugal, França, Estados Unidos e Polônia, e que conta com Jim Jarmusch entre os produtores, é um exemplar notável de respiro dentro desse perfil por retratar personagens de maneira a dar espaço à ótica de cada em um universo de relações humanas paradoxais, que podem parecer simples sob um olhar superficial, mas se revelam muito mais complexas.
Dirigido pelo brasileiro Gabe Klinger, a produção converge em alguns pontos com Paterson (2016), recente realização de Jarmusch. Não é à toa a participação do diretor na produção portuguesa, já que sua filmografia conversa com o filme. Assim como a cidade e personagem-título do filme do diretor de Amantes Eternos (2014), Porto traz a história de um casal em um curto espaço de tempo frente à investigação de sua rotina e, principalmente, do envolvimento e da perspectiva de que cada parte traz para o relacionamento na cidade-título do litoral de Portugal. Se o filme de Jarmusch é plano ao retratar muito mais um viés masculino a rotina e a mediocridade de um casal, a realização de Klinger apresenta maior amplitude. Na história, o americano Jake (Anton Yelchin) acaba se envolvendo com a francesa Mati (Lucie Lucas), que está pela cidade portuguesa estudando escavações de fósseis. Simples assim, eles dividem uma noite tórrida de sexo e trocam sentimentos profundos. A química entre ambos parece indiscutível e a relação apenas iniciando para algo ainda maior.
Porém, aos poucos, o co-protagonista se mostra obsessivo com o envolvimento que termina de forma decepcionante para ele. Era apenas sexo casual. Então, acaba vagando pelas ruas lusitanas projetando em outras mulheres o semblante de Mati. Buscando desmistificar culpados ou vítimas, Klinger se desfaz da ideia em sua narrativa de maneira a dar espaço para ambas percepções, tanto de Jake como de Mati. Apresenta, então, uma estrutura dividida em três atos, cada um com os nomes dos personagens: “Jake”, “Mati” e “Jake & Mati”. E é durante esse processo investigativo que o diretor apresenta dois formatos de quadro para os espectadores. O primeiro é a tela wide, com o enquadramento amplo para demonstrar o passado e, no segundo, o famoso 4:3, olhar televisivo para representar o que entendemos como o futuro dos personagens. Existe um significado por trás dessas escolhas de tela. O que está por vir, devido às decepções, é visto como algo fechado e até mesmo claustrofóbico, enquanto que o passado, como forma de nostalgia, é amplo, tem um respiro grandioso e tom romântico. No terceiro ato, que junta as duas visões, enxergamos tudo de uma única maneira, como se representasse o presente, a junção das perspectivas.
Com ares de Jean-Luc Godard, nuances de Dois Lados do Amor (2014), ao retratar a duplicidade ótica de uma relação, e também utilizando de maneira muito similar do recente Krisha (2015), a experimentação de diferentes formatos de tela, Gabe apresenta uma belíssima primeira empreitada em longas-metragens com questões relativas à percepção do olhar de cada um dos seus personagens. Vale destacar a performance de Lucie Lucas, cativante como Mati, ao retratar uma protagonista repleta de dificuldades e complexidades mesmo com a duração tão enxuta do filme. Com abordagens que edificam sua história simples, principalmente ao se desprender da linearidade e buscar uma brincadeira com a linguagem audiovisual, Porto é uma ótima surpresa que adentra ao filão dos filmes românticos. Jarmusch, portanto, é apenas um floreio da produção – os créditos pelos louros são todos de Klinger.
Últimos artigos deRenato Cabral (Ver Tudo)
- Porto: Uma História de Amor - 20 de janeiro de 2019
- Antes o Tempo Não Acabava - 25 de novembro de 2017
- Docinho da América - 3 de janeiro de 2017
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Renato Cabral | 7 |
Robledo Milani | 5 |
MÉDIA | 6 |
Deixe um comentário