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Muito interessante a crítica de Marcelo Muller, principalmente seu "mea culpa" em assumir a dificuldade em se conseguir uma leitura completa da trama, pois, em minha opinião, o que faz de "Possessão" uma grande obra cinematográfica é justamente sua complexidade e riqueza de simbolismos e ideias subliminares que, na maior parte do tempo, representam a força motriz da história, como se o "verbal" funcionasse apenas como um instrumento para expressar o poder do "não-verbal". Este efeito somado às poderosas interpretações de Isabelle Adjani (Anna) e Sam Neill (Mark) faz do filme uma obra densa, opção cinematográfica obrigatória para o espectador que gosta de mergulhar em águas profundas e obscuras da essência humana onde se embatem ferozmente e cruamente filosofia, religião, relações de poder, bem x mal, fé x não-fé, loucura x sanidade, deixando ao espectador a tarefa de localizar-se nesse labirinto de emoções, crenças e descrenças que tecem a vida humana e, ao mesmo tempo, demonstrando como é tênue o véu que separa (separa?) um conceito do outro. Para fruir toda essa viagem e afundar-se de corpo e alma na criação de Zulawski dispa-se de todo e qualquer conceito pré-existente ("pré-conceito/preconceito") sobre a essência humana e vista-se de um ceticismo quase nietzscheriano e, a partir desta sobriedade de alma, embriague-se até a última gota da loucura travestida de sanidade que habita em cada um de nós e que, por vezes, quer arrancar essa fantasia denominada "normalidade social" para vir à tona e liberar o verdadeiro "eu", sem travas nem amarras, sem culpas e sem castigos. Seria injusto encerrar este comentário sem destacar a cena do metrô, uma longa sequência em que Isabelle Adjani presenteia-nos com um denso e complexo caleidoscópio de emoções e ali demonstra toda sua força interpretativa, seu talento, sua total entrega, deixando claro ao espectador que ela não é apenas uma linda mulher, mas uma das maiores atrizes do cinema do fim do século XX. Recomendo...muito!