Crítica
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Sinopse
Um homem fica seriamente abalado ao descobrir que sua recém-casada filha foi assassinada, em Londres, durante a lua-de-mel. Crimes parecidos acontecem por toda a Europa, com a brutalidade seguida do envio de um postal a um importante jornalista local.
Crítica
Já no meio das filmagens, Connie Nielsen – mais conhecida como a rainha Hipólita, a mãe da protagonista de Mulher-Maravilha (2017) – deve ter se dado conta do tamanho da tragédia em que estava envolvida, inventou uma desculpa a resolveu pedir as contas. Foi exatamente o que aconteceu: com boa parte das suas cenas filmadas, a atriz alegou qualquer coisa e foi embora, obrigando a produção de Postais Mortíferos a arrumar rapidamente uma substituta – a escolhida foi Famke Janssen, que desde sua participação na saga X-Men nunca mais encontrou outro projeto à altura de seu talento e beleza. O exemplo acima é relevante no âmbito de proporcionar um melhor entendimento a respeito do quadro da dor que esse filme resulta, mas está longe de compreender todos os seus problemas – não chega perto, sequer, dos principais. E assim resulta no velho clichê do cineasta estrangeiro capaz de coisas incríveis no seu país de origem, mas ao se ver preso ao sistema hollywoodiano tudo o que consegue entregar são produtos genéricos e sem personalidade. Há vários realizadores brasileiros que podem atestar essa teoria.
Cineasta bósnio vencedor do Oscar por seu longa de estreia (Terra de Ninguém, 2001), Danis Tanovic até hoje não cumpriu as expectativas levantadas duas décadas atrás. Se filmes como Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho (2013) – premiado no Festival de Berlim – ao menos apontavam para um caminho interessante, outros, como Testemunhas de uma Guerra (2009), com Colin Farrell, e Inferno (2005), com Karin Viard, nunca chegaram a dizer a que vieram. Dessa vez, ele até tinha em mãos um material que vinha com meio caminho andado – afinal, trata-se da adaptação de um best seller – e tudo o que precisava era não recriar a roda e apenas seguir a cartilha. É fato que ninguém esperava dele, a esse ponto do andar dos acontecimentos, algo como David Fincher fez em Millennium: Os Homens que não Amavam as Mulheres (2011). Mas também não precisava ser um trem desencarrilhado como... Millennium: A Garota na Teia de Aranha (2018), para ficarmos no mesmo universo.
O que falta em Postais Mortíferos é um foco que direcione os acontecimentos – e oriente sua audiência. Há muitas possíveis subtramas em diferentes graus de desenvolvimento, só que ao invés de uma colaborar com a outra, parecem mais competir entre si, na disputa pelo interesse do espectador. Primeiro, há um investigador nova-iorquino (Jeffrey Dean Morgan) que é chamado às pressas para reconhecer o corpo da filha em Londres. Ela estava em lua-de-mel, e foi assassinada, ao lado do marido, em condições suspeitas. Se não fosse o bastante, logo fica sabendo que, poucas semanas atrás, um outro casal de jovens foi morto de forma similar, só que em Madri. E pra completar o cenário tétrico, em cada cidade por onde os crimes vão acontecendo – sim, pois continuarão por outras capitais europeias – um jornalista é escolhido aparentemente ao acaso para receber um postal (entendeu o título agora?) anônimo com apenas uma frase enigmática escrita. E no retrato, a imagem de uma famosa obra de arte que será reproduzida tragicamente com os corpos das vítimas.
Se fosse apenas isso – ou seja, a busca desse pai-policial pelo paradeiro de um serial killer que teria lhe atingido de modo pessoal – talvez o conjunto não comprometesse tanto. Mas Tanovic, guiado por um texto escrito por dez mãos – entre elas, as de Liza Marklund, que escreveu o livro homônimo em parceria com James Patterson (mesmo autor da saga Alex Cross) – acaba por se perder entre tantas opções e possibilidades. Assim, abre um desnecessário espaço para a ex-esposa do protagonista (a mãe da menina) vivida por Janssen, que resolve agir por conta própria nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que se ocupa com outro casal em viagem pela Europa. Seriam Sylvia (Naomi Battrick, de A Very English Scandal, 2018) e Mac (Ruairi O’Connor, de Espírito Jovem, 2018) os próximos da lista do assassino? Ou, por outro lado, serão aqueles que conseguirão escapar – e, enfim, contribuir decisivamente com a polícia? Claro que há, também, a possibilidade de serem eles os responsáveis por todas essas mortes. Afinal, quando o filme, de forma trapaceira – ou seja, apenas para enganar o espectador, sem lógica dentro da trama – age de forma exagerada no sentido de oferecer um caráter de inocência àqueles que, a princípio, nada teriam a esconder, o certo é que o contrário é mais provável.
Entre tanto a ser desenvolvido, há ainda tempo para as participações pouco inspiradas de uma das jornalistas destinatárias (Cush Jumbo, de The Good Fight, 2017-2021) e pedaços das ações dos demais investigadores (o espanhol, o inglês...). São peças por demais aleatórias de um quebra-cabeças na maior parte do tempo simples, do qual resulta um desfecho ingênuo na sua vontade de provocar e previsível pelas poucas revelações que se esforça em sustentar até o último instante. Um cenário tão pouco auspicioso, ainda mais defendido por um ator de recursos tão limitados – Dean Morgan pode estar ótimo como o ensandecido Negan de The Walking Dead (2016-2021), mas toda vez que por aqui precisa demonstrar fragilidade e desespero o quadro é constrangedor – torna o conjunto um calvário ainda mais problemático. E se é sabido que menos é mais, por outro lado o que se vê em Postais Mortíferos é tanto o bastante a ponto não apenas desviar as atenções, mas também esvaziar qualquer escasso mérito quiçá percebido.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 3 |
Francisco Carbone | 3 |
Cecilia Barroso | 3 |
MÉDIA | 3 |
Fanken Janssen tá bem. Bem distante do que costuma fazer. Na verdade gosto dela no Hemlock Grove como um trabalho após X-Men.