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Sinopse

Uma droga misteriosa circula nas ruas de New Orleans ativando em seus usuários diferentes superpoderes. Não é possível saber qual a habilidade despertada antes de ingerir a substância. O potencial da droga faz a criminalidade explodir na cidade e uma trinca inusitada resolve usar os benefícios dela no combate aos malfeitores.

Crítica

Aventura escapista, Power se coloca ao lado das produções que, de alguma forma, surfam na enorme onda dos super heróis. Por mais que não se afaste da intenção essencial de entreter o espectador com sua trama repleta de arquétipos e situações mais ou menos manjadas, o filme valoriza o pano de fundo social que os cineastas Henry Joost e Ariel Schulman dispõem, e principalmente a operação estética por meio da qual ele é apresentado. Não são poucas as vezes em que a câmera passeia por vielas, espaços economicamente menos favorecidos, embora soe demasiadamente cosmético o tratamento dado à pobreza e à falta de condições. A protagonista é Robin (Dominique Fishback), jovem que se sujeita a traficar uma substância ilegal para custear o tratamento caro da mãe que não tem assistência médica ou condições de arcar sozinha com a compra de remédios. Ela é igual a tantas personagens movidas pela necessidade, como também é ordinária a dinâmica substitutiva logo estabelecida com Art (Jamie Foxx), esta baseada nas ausências do pai dela e da filha dele.

Power é um apanhado de circunstâncias e gente com as quais tivemos contato inúmeras vezes no cinema. Isso, vide a corporação obscura que visa enriquecimento desproporcional; os cientistas que não medem esforços, inclusive transpondo barreiras éticas, para atingir objetivos; o policial que, a despeito da disposição para quebrar a lei se preciso, tem um bom coração e atua para assegurar a paz na comunidade. Isso sem falar do pai herói capaz de mover mundos e fundos para resgatar a filha, neste caso, feita de cobaia em função da droga que desperta os superpoderes. Entretanto, esforçando-se no sentido de observar além dessa casca superficial que deixa à mostra basicamente os lugares-comuns, há alguns assuntos borbulhando. Pena que os mesmos não sejam tratados com a relevância merecida. Um deles é justamente a herança dos pecados paternos recaindo sobre inocentes descendentes. Art é movido também pela sombria culpa de seus atos respigarem na filha. Embora não seja culpado, afinal foi usado em experiências militares, ele carregada esse pesado fardo.

Por sua vez, o detetive Frank (Joseph Gordon-Levitt) é uma figura mais conformada com a unidimensionalidade do filme. Mesmo que haja vestígios de ambiguidade na sua atuação cotidiana – sobretudo na contradição de ter de romper com a legalidade para fazer justiça –, ele acaba sendo retilineamente motivado pela vontade de desarticular o crime organizado em Nova Orleans. Já Rodrigo Santoro deita e rola como um personagem obviamente decalcado que vários inspiradores por seus impulsos completamente megalomaníacos. O ator brasileiro tem pouquíssimo tempo de tela, mas dá conta do recado ao traduzir em ordenações e demonstrações igualmente coléricas/exageradas/caricaturais o lado irresponsável do capitalismo selvagem. Mas, Power não parece interessado em criar grandes metáforas sobre nosso mundo, embora se comunique com a realidade em certa medida. Outra das coisas lamentáveis é o subaproveitamento de alguém como Courtney B. Vance. O capitão que ele interpreta é uma daquelas pessoas em cena que apenas faz a roda continuar girando, sem uma importância vital, senão como sintoma ordinário da corrupção vigente.

As exposições de superpoderes são importantes somente para tornar as sequências de luta mais empolgantes e pirotécnicas, como quando um sujeito em descontrolada combustão persegue Art. A origem animal das capacidades sintetizadas em drogas, bem como as particularidades que levam ao desenvolvimento de faculdades bem específicas, poderia ser muito melhor explorada. Power não deixa a peteca cair quanto a manter-se interessante apesar da pouca variação na utilização das convenções, mérito paradoxal do roteiro que privilegia esse vigor em detrimento de quaisquer aprofundamentos. A simbologia está ali, as funções dos personagens são claramente definidas e a missão segue uma lógica gamer de derrubar asseclas de relevância organizacional crescente até chegar ao grande vilão, o que proporciona um aumento de intensidade. Poder curativo como sinônimo de bondade e clímax com revelação apoteótica da excepcionalidade turbinada são indícios de clichês desajeitados, pois Henry Joost e Ariel Schulman se conformam. A personalidade do conjunto vem da intensidade que os intérpretes conferem às peças desse enredo com cara e gosto conhecido.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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