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Sinopse

O veterinário Luiz Fitarelli é um homem apaixonado pela sua história. Neto de italianos, desde cedo passou a colecionar objetos sobre a imigração italiana. Com o tempo, também passou a colecionar casas. Com as casas, construiu uma vila do final do século XIX, um museu a céu aberto.

Crítica

A forte ligação com suas raízes e o desejo da perpetuação da memória aproximam o cineasta Boca Migotto do veterinário Luiz Henrique Fitarelli, figura central do documentário Pra Ficar na História. Não por caso, a certa altura da projeção, os papéis deles se invertem, com o documentarista, agora na posição de entrevistado, sendo questionado por seu objeto de estudo e expondo o interesse particular pela cultura do estado natal de ambos, o Rio Grande do Sul – algo já evidenciado em seus trabalhos anteriores, como o recente Filme Sobre um Bom Fim (2015). No caso de Fitarelli, esse interesse é direcionado especificamente à história da imigração italiana, uma paixão que o levou, ainda jovem, a colecionar fotografias, móveis e outros objetos relacionados ao tema, culminando na compra de casas e na construção de uma vila típica do século XIX com o intuito de, no futuro, abrigar um museu etnográfico.

Desde os primeiros planos, o registro de Migotto – que intercala o cotidiano de Fitarelli na cidade gaúcha de Garibaldi a passagens de uma viagem deste à Itália, na busca por mais informações sobre seus antepassados – evidencia o zelo do veterinário para com o seu trabalho de preservação da História. A cuidadosa restauração de um antigo armário, sequência que abre o longa, visando mantê-lo o mais próximo possível do original, exemplifica esse esforço, que se completa quando o móvel recuperado é preenchido pelas lembranças de seus donos: os panos de prato que separavam os ovos na gaveta principal, os potes de molho de tomate armazenados na prateleira inferior. A gastronomia, por sinal, tem papel evocativo essencial na experiência sensorial que Fitarelli procura reproduzir em seu dia a dia, visando a manutenção de tradições que remetem à sua infância, bem como a um tempo ainda mais remoto, não vivido por ele.

Esse valor sentimental se impõe muitas vezes sobre o valor histórico dentro do acervo construído por Fitarelli, algo que chega a ser discutido pelo próprio ao lembrar dos questionamentos feitos pela diretora de um museu italiano. Sem ter como precisar a origem específica de muitos dos itens que coleciona, ele os organiza instintivamente, criando um amálgama de toda a trajetória da imigração italiana no Brasil. O lirismo que envolve a obsessão de Fitarelli é valorizado pelo senso estético esmerado de Migotto, que se vale das paisagens naturais italianas e gaúchas para compor imagens ao mesmo tempo belas e carregadas de significados – como a mesa de jantar que resiste intacta em meio às tábuas de madeira de uma casa demolida. Os escombros de um passado que se apaga gradativamente.

Apesar do encantamento plástico e da afetuosidade genuína em relação ao material transmitida pela condução do cineasta, a narrativa carece de um conteúdo mais robusto. Da sequência de encontros de Fitarelli com outros personagens, Migotto extrai apenas fragmentos de informações, detalhes pontuais sobre como era a vida dos colonos, em particular no âmbito do trabalho – o funcionamento de uma fábrica de vassouras, a evolução da produção vinícola da cidade narrada através dos moldes para a marcação dos barris etc. Porém, o aprofundamento na compreensão mais ampla do papel dos imigrantes italianos na sociedade brasileira, que o próprio Fitarelli afirma ser o principal objetivo de seu vindouro museu, não ocorre. De fato, Pra Entrar na História só ganha algum estofo analítico nas participações da historiadora Loraine Slomp Giron.

É ela quem revela a falta de registros mais antigos, lamenta o desinteresse dos governos ao longo dos anos, que só passaram a dar mais atenção ao assunto em décadas recentes, tendo em vista um potencial turístico, e aborda, ainda que brevemente, temas de interesse, como a influência da igreja na região ou os resquícios do fascismo. Figura contestadora, Loraine chega a debater a própria função dos museus, numa visão que entra em choque com a de Fitarelli: o que a primeira vê como parte de uma história morta, envolta numa aura fantasmagórica, o segundo enxerga como uma nostalgia reconfortante, necessária. Claramente compartilhando do sentimento de seu protagonista, Migotto não poderia finalizar seu trabalho senão com uma celebração coletiva, regada a boa comida e vinho, corroborando a imagem pré-estabelecida do espírito passional italiano. Contudo, tal qual Fitarelli com sua coleção, o documentário parece não conseguir se desapegar do aspecto pessoal para mergulhar num documento histórico mais abrangente.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Leonardo Ribeiro
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Marcelo Müller
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MÉDIA
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