Crítica
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Sinopse
O salva-vidas Donato se apaixona irremediavelmente pelo alemão Konrad ao salvar-lhe de um quase afogamento. Ao embarcar para a Alemanha, deixa para trás o irmão caçula Ayrton, causando nele uma forte sensação de orfandade.
Crítica
Ironicamente, a Praia do Futuro oferece pouco futuro. Seja economicamente, pelas opções de trabalho limitadas ou pelo temperamento do local, tão atrativo quanto perigoso. É nela e dela que sobrevive o guarda-vidas Donato (Wagner Moura), força motriz do filme apropriadamente intitulado Praia do Futuro.
Escrito por Felipe Bragança (Heleno, 2011) e pelo diretor Karim Ainouz, Praia do Futuro nos apresenta o protagonista em ação logo nos primeiros momentos. A coragem com que o personagem de Moura mergulha na água turbulenta para salvar dois estrangeiros é ponto e contraponto para a trama que se seguirá; coragem que é, de formas diversas, tema caro a Ainouz – coragem para ir; coragem para ficar. Diante do peso do fracasso, Donato encontra Konrad (Clemens Schick) no hospital para lhe avisar que não foi possível repetir com o amigo a sorte do seu salvamento. Inicia-se aí uma relação determinada pelo deslocamento e estranhamento. Donato quer Konrad no Brasil; Konrad quer Donato na Alemanha. Singular, a paixão não é de ninguém além das próprias circunstâncias.
Dividido em três capítulos, Praia do Futuro traz toda a potência sintética e o visual do cinema de Ainouz. A ocupação simbólica dos espaços, o movimento semânticos dos corpos – os quais o diretor demonstra pleno domínio ao usá-los tanto nas cenas de sexo quanto no treinamento dos bombeiros, fazendo com que cada tomada contenha e revele momentos significativos dos personagens – bem como o intercalar da concentração do banal e da dispersão do importante são as grandes virtude com as quais o longa é moldado. Para quem arrisca a vida diariamente, a Alemanha não deve sugerir um desafio. A surpresa, porém, está justamente nas situações que não dependem de nós. O frio e a língua não são as ondas do Ceará, mas podem igualmente nos afogar. Na mudança de país, Donato abriu mão de tudo que conhecia por seu. Largou emprego e família. Deixou para trás um irmão (Jesuíta Barbosa) que vislumbrava nele o horizonte negado pela praia.
Tramado pela força irrepreensível das atuações de Moura e Schick, que dão ao filme as saliências que nenhum discurso seria capaz de impor, e pela íntima fotografia dos quadros de Ali Gozkaya, responsável por marcar recorrentemente a suspensão do tempo, como nas cenas das festas, Ainouz consegue em Praia do Futuro rascunhar a esperança no seu aspecto mais complexo e insuspeito – quando é também inevitável desolação.
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