Precisamos Falar Sobre o Kevin
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We Need to Talk About Kevin
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2011
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Reino Unido / EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Eva nunca acalentou o desejo de ser mãe. Desde cedo, sempre teve um relacionamento complicado com seu filho Kevin. Quando ele é preso por algo inominável, ela tem de lidar com vários traumas.
Crítica
Antes de mais nada, é importante deixar algo bastante claro: esse não é um filme fácil. Muita gente, quando decide ir ao cinema, busca entretenimento, escapismo, passar duas horas se divertindo e longe dos seus problemas do cotidiano. Bem, quem for atrás disso em uma sessão de Precisamos Falar Sobre o Kevin irá se dar muito mal. Porque aqui há de tudo, mesmo diversão, leveza ou qualquer coisa que traga boas sensações. Pelo contrário: há um peso, um incômodo, um estranhamento do início ao fim. Agora, estará também redondamente enganado quem pensar que isso é ruim. Afinal, é justamente o oposto: este é um daqueles filmes que te acompanha durante muito tempo após o término da projeção. É uma história que permanece com o espectador, que provoca a reflexão, o pensamento, a discussão. E que uma vez experimentada será muito complicado se ver livre dos sentimentos que traz à tona.
Eva tem um problema com seu filho, Kevin. Ela possui a crença – que com o tempo vai ficando cada vez mais forte – de que o menino não gosta dela. Ou que ela não nasceu para ser mãe e que é sua a culpa de não saber como lidar com ele. O garoto fica feliz e saltitante cada vez que o pai está por perto, mas ao ficar sozinho com a mãe é só resmungo, grosserias e caretas. Ela, ao invés de tentar impor limites e mostrar quem manda, que é a superior, que está no comando, assume uma posição inversa, passiva, submetendo-se aos desejos do pequeno, como se precisasse desesperadamente de sua aprovação. Kevin é um manipulador, e desde cedo percebe que o controle da dinâmica familiar está em suas mãos, e fará uso desse poder com toda a intensidade. Mas até que ponto pode-se seguir acreditando se tratar apenas de uma criança mimada e cheia de manias ou, ao invés disso, ter diante de si a convicção de que o próprio filho é um assassino em potencial, capaz de crueldade e barbaridades até então inimagináveis. Primeiro é um animal de estimação que desaparece. Depois é a irmã menor que machuca o olho. Acidente ou proposital? Como julgar claramente o que está acontecendo, estando tão próxima e, ao mesmo tempo, tão distante da verdade?
A construção de Precisamos Falar Sobre o Kevin é genial, e o grande mérito de como o filme se apresenta está nas mãos da diretora e roteirista Lynne Ramsay, que se baseou na obra literária homônima de Lionel Shriver. Se ele construiu seu livro em formato de romance epistolar, ela preferiu misturar presente e passado de tal forma que mal conseguimos identificar o que vem antes e depois. Construir esse quebra-cabeça, no entanto, é um dos maiores méritos da obra. O vermelho é uma cor que marca uma forte presença, desde a festa do tomate espanhola, momento único de gozo e prazer da protagonista em toda a trama, anos antes do próprio casamento, até o horror que toma conta da fachada da casa, da vergonha que assume como sua e da realidade que é, sozinha, obrigada a lidar. Eva está sempre contra a parede, seja no hospital, no supermercado, no trabalho ou mesmo em casa, à espreita de que algo de ruim aconteça. Mas o que pode ser pior do que aquilo que já está anunciado?
Fracasso de público nos Estados Unidos, onde faturou nas bilheterias menos de US$ 5 milhões, Precisamos falar sobre o Kevin é um filme para poucos e elevados públicos. Aplaudido pela crítica (está com média de 80% de aprovação), foi exibido na mostra oficial do Festival de Cannes e recebeu indicações ao BAFTA, ao Australian Film Institute, ao Broadcast Film Critics, ao Globo de Ouro e ao Screen Actors Guild, além de ter sido premiado no National Board of Review (Melhor Atriz), Críticos de São Francisco (Melhor Atriz), London Film Festival (Melhor Filme), London Critics Circle Film Awards (Melhor Filme Inglês) e European Film Awards (Melhor Atriz). A performance de Tilda Swinton é uma das mais impactantes dos últimos tempos, como se estivesse sempre pronta para entrar em ebulição, mas se contendo a todo custo. O fato de ter ficado de fora do Oscar é um dos maiores absurdos desse temporada. John C. Reilly, como o marido relapso e ingênuo, e Ezra Miller, como o diabólico garoto, são outros destaques. Mas o foco é o conjunto, que comove e envolve principalmente por nossa incapacidade de mudar o que é evidente. São poucos os filmes que podem, literalmente, serem considerados um soco no estômago. Esse é um deles.
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