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Sinopse

Um alienígena predador, invisível e equipado com armas poderosas, desembarca em Los Angeles, devastada pelo conflito de gangues de traficantes rivais. Com fúria, inicia seu festival de matança, deixando um rastro de corpos mutilados em seu caminho.

Crítica

Predador 2: A Caçada Continua carrega bem o espírito da época em que foi produzido. Como bom exemplar do cinema noventista de ação norte-americano, é marcado por uma abundância de sangue. Se comparado aos congêneres atuais, o filme de Stephen Hopkins pode ser considerado ousado na seara dos blockbuster, justo pela forma como apresenta mortes violentas, cadáveres sendo destrinchados pela criatura alienígena que desafia a compreensão humana, entre outras coisas. O protagonista aqui é o detetive Harrigan (Danny Glover). Ele enfrenta diariamente uma verdadeira guerra contra as gangues que assolam Los Angeles. Outra característica típica do olhar enviesado tão em voga no início dos anos 90, aqui presente integralmente, é a observação da violência como fenômeno oriundo dos estrangeiros, no caso, colombianos e jamaicanos. Assim como o Predador (Kevin Peter Hall), a ameaça é externa, sendo os norte-americanos os mocinhos, mesmo ao demonstrar comportamentos bastante agressivos.

Nessa construção estereotipada não faltam mandingas e vodus para tornar os forasteiros ainda mais exóticos e temíveis.  Eles formam agrupamentos de assassinos e traficantes que fazem Los Angeles parecer o Velho Oeste. A cena da troca de tiros entre polícia e meliantes dá bem o tom dessa associação que surge em outros momentos, como quando um superior diz ao protagonista para não mais bancar John Wayne. Mas, em Predador 2: A Caçada Continua o inimigo vem do espaço, corporificado na criatura que observa de longe os acontecimentos mundanos da cidade. O cineasta Stephen Hopkins opta por manter certo mistério acerca da presença do Predador, recorrendo muito ao ângulo subjetivo para mostrar a espreita das potenciais vítimas. Portanto, há vários instantes em que a tensão é gerada a partir da visão distanciada do vilão, com aquela característica imagem que dá conta de seu método de rastreio por infravermelho, com humanos identificados pelo calor corpóreo. Funciona por um bom tempo, mas incomoda a postergação do enfrentamento.

Predador 2: A Caçada Continua esgota rapidamente seus truques, no sentido de constituir uma atmosfera nervosa, por isso necessitando renovar constantemente o itinerário, algo que nem sempre acontece. A pressão oriunda do embate de Harrigan com os oficiais do FBI logo perde potência, retornando apenas perto do fim, assim que o monstro se revela completamente, após ele deixar um rastro de corpos inertes. Os coadjuvantes perdem gradativamente a densidade, bem como a ambiência inicialmente delineada para mostrar contingências caóticas, antes mesmo do surgimento do extraterrestre. Assim, o filme volta aos eixos somente ao se despir de todos os elementos periféricos potenciais, carentes de espaço na medida em que a necessidade de um confronto final se avizinha. É como se a narrativa precisasse se livrar de tudo que circunstancialmente a levara para além das esferas do gênero, como a conjuntura social, moldura sustentada ligeiramente, para voltar a gerar interesse.

Não tão diferente do brutamonte vivido no original por Arnold Schwarzenegger, o personagem de Danny Glover – mais um policial estadunidense estressado, constantemente repreendido por insubordinação e atitude violenta – também resolve tudo por meio da força. A inteligência tática é eficaz, sem dúvida, mas o que o cineasta Stephen Hopkins ressalta é a capacidade de esse sujeito resistir diante de um adversário tão intimidador, que apresenta, portanto, um senso invejável de sobrevivência. A encenação favorece a apreensão em determinados momentos, como quando o Predador ajusta os parâmetros de seu equipamento para enxergar a luminosidade, não mais guiado pelo fator térmico. No geral, é um exemplar de ação beirando o genérico, cujo maior valor é o carisma de Glover e a capacidade do cineasta de criar um espetáculo que entretém e diverte. A mitologia do Predador é subaproveitada em detrimento do desejo de criar um oponente satisfatoriamente à altura, mas, mesmo assim, o filme é eficiente no que tange à dar sobrevida à franquia.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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