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Crítica


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3 votos 6.6

Onde Assistir

Sinopse

Uma jovem detetive e um polêmico inspetor da divisão de homicídios têm de resolver o assassinato de uma adolescente. O suspeito é o melhor amigo da vítima.

Crítica

Nem adianta querer reclamar com a Netflix brasileira quanto ao título dessa produção original da plataforma. Por mais que Presságio possa parecer genérico demais e praticamente sem relação com o que se passa na trama, o batismo internacional ficou como Intuition (intuição, que é quase a mesma coisa), enquanto que o original argentino é La Corazonada, que pode ser traduzido por... palpite. Ou seja, seis por meia dúzia. O curioso, no entanto, é que nesse thriller investigativo pouca coisa – pra não dizer absolutamente nada – é feito na base no palpite, da intuição ou, quiçá, através de algum tipo de presságio. O que se vê em cena é um detetive tendo que resolver dois ou três intrincados casos ao mesmo tempo em que é vítima de uma outra análise, uma novata que deve provar seu valor se portando como agente dupla, um capitão tentando se livrar de provas acusadoras ao mesmo tempo em que lança suspeitas sobre membros de sua equipe e uma (ou duas, ou três) morte que segue sem explicação. O jogo é intrincado, bem ao gosto do freguês. O problema é que, na pressa de agradar a todos, perde-se o foco daquilo que poderia ter sido apresentado como genuíno.

Por mais que Joaquin Furriel seja o nome mais conhecido do elenco, a protagonista de Presságio é Pipa, vivida por Luisana Lopilato (Las Insoladas, 2014). Com longa carreira pregressa na televisão (começou há duas décadas como uma das estrelas infantis de Chiquititas, 1999-2000), ela logo deixa claro sua falta de suavidade ao transitar entre os extremos pelos quais sua personagem se vê confrontada. Recém-chegada na corporação, é escolhida pelo veterano Juanez (Furriel, intenso e eficiente) para acompanhá-lo numa chamada. Ao perceber a aproximação dela com o oficial mais experiente, o chefe da delegacia decide usá-la como infiltrada: deve, sem levantar suspeitas, investigar o colega para determinar se ele está ou não envolvido com um acidente que tem todo o jeito de ter sido motivada por uma vingança pessoal. Afinal, o morto é um rapaz que assassinou a esposa do policial. Motivos, portanto, não lhe faltariam.

No filme escrito e dirigido por Alejandro Montiel (que havia trabalhado com Lopilato no seu longa anterior, Desaparecida, 2018, e com Furriel naquele antes desse, Un Paraíso para los Malditos, 2013), casos para a polícia resolver é o que não faltam. E de uma forma ou de outra, Juanez está sempre envolvido. Na maior parte das vezes, é preciso ser sincero, isso se dá pela eficiência com a qual conduz seu trabalho, motivo que o torna tanto exemplo a ser seguido como alvo da inveja de muitos daqueles que atuam ao seu lado. E se afirma não ter participado da suposta execução do rapaz que o deixou viúvo, é certo também que a verdade não é tão simples. Quando uma jovem baladeira é encontrada morta na própria cama, o ex-namorado e a colega de apartamento podem ser os suspeitos mais óbvios, mas o que dizer do vizinho que tinha como hábito invadir a casa dela para observá-la escondido? São detalhes que passariam despercebidos para a maioria, mas que através dos olhos dele ganham novos desdobramentos.

Mas Montiel não se conforma em apenas resolver um ou outro mistério de forma adequada. Ao acumular segredos e mentiras sem cuidado nem preparo prévio, consegue apenas distrair a audiência, que termina por se ver anestesiada frente a tantas reviravoltas não solicitadas. Como resultado, as mesmas se tornam irrelevantes, pois nada é dado por certo – antecipa-se sempre que a revelação de agora logo perderá sentido, pois uma nova já começa a se armar no exato momento em que esta que resultou em celebração é anunciada. Essa inconstância se percebe na objetividade vista no semblante de Pipa, que afirma com todas as letras tanto “ele é culpado” como “Juanez é inocente” em mais de uma ocasião, ambas munida de plena convicção. E se não dá pra confiar naqueles que estão à frente dos acontecimentos, o que sobra como porto seguro?

Com diversas portas sendo abertas de modo desordenado, não será surpresa para ninguém perceber que, ao término dessa jornada, algumas permanecerão escancaradas, sem explicação justa que possa cerrá-las. Presságio, no entanto, tem o mérito de contar com um ator entregue e comprometido – por mais que Furriel não convença nos momentos de fragilidade, a confiança de que há sempre uma carta em sua manga para resolver a situação no último momento garante alguma tensão ao conjunto – além de uma ambientação que deve servir como atrativo aos fãs mais dedicados do gênero. Nada que poderá alterar as convenções mais corriqueiras desse universo, mas ainda eficiente a ponto de segurar a atenção, por mais que o desgaste provocado por aqueles que deveriam prezar pela coesão e não favorecer um sem número de desvios force o contrário.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
5
Leonardo Ribeiro
4
MÉDIA
4.5

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